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Paranapiacaba abre festival com exposição
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
05/07/2004 | 19:29
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Com a abertura do 4º Festival de Inverno de Paranapiacaba no próximo sábado (dia 10), o público que atravessar a neblina rumo à Vila Ferroviária de Santo André será apresentado a uma amostra da “arte do vazio” sobre a qual tem falado ultimamente o litógrafo Roberto Gyarfi. Alemão, como é mais conhecido, levará ao evento sazonal uma obra intitulada Fragmentos da Luz, a ser hospedada nas paredes dos Galpões das Oficinas – sede de workshops de cunhos artístico e ambiental sobre a reciclagem, ministrados por integrantes da Usina de Triagem e Reciclagem de Papel de Santo André.

O trabalho, de forma resumida, é um apanhado de sobras de Epopéia Paulista, painel horizontal gigante da artista Maria Bonomi, com 73m de comprimento e 3m de altura, e que será instalado na Estação da Luz, em São Paulo, tão logo acabe a reforma desta, em setembro. De forma significativa, também funcionará como uma espécie de ligação artística (a física, em trilhos e dormentes – Luz-Paranapiacaba –, já existe) entre os dois históricos equipamentos ferroviários.

Alemão, à sua maneira inflamada, resume a ópera sobre Fragmentos da Luz: “É uma história muito louca, que começou há dois anos com a concepção de Epopéia Paulista, um painel realizado com os mesmos princípios da gravura, mas, em vez de papel, o suporte para ‘impressão’ é constituído de placas de concreto colorido.” Já as matrizes são pequenas peças talhadas em MDF (sigla de medium density fiberboard, chapa de fibra de madeira comercialmente usada em armários) e depois “carimbadas” no concreto, criando relevos.

Durante a feitura da Epopéia Paulista, no MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo), Alemão foi visitar Maria, amiga e parceira de vários projetos artísticos. Viu-se diante das sobras das matrizes em MDF, isto é, dos pedaços de chapa que continham o vazio dos recortes realizados por aproximadamente mil pessoas. “A Maria me ofereceu duas ou três peças como recordação. Mas eu retruquei: é tudo ou nada”, afirma Alemão.

Ficou com tudo, depois de lotar uma Kombi com as peças de MDF. O que era descarte virou arte, numa espécie de reciclagem material e conceitual capitaneada pelo mestre impressor de Santo André. As sobras, que equivalem aos negativos da Epopéia, formarão as novas figuras da obra Fragmentos da Luz depois de rearranjadas nos Galpões das Oficinas de Paranapiacaba, onde serão expostas a partir de sábado, junto a gravuras de Maria Bonomi, Lívio Abramo, Aldemir Martins e Evandro Carlos Jardim.

“São Paulo é uma cidade que trabalha com o excesso em todos os sentidos e sem preocupações. E a Epopéia, junto com esse trabalho do Alemão, não teve desperdício nenhum”, diz Leonardo Ceolin, artista argentino que colaborou com Maria Bonomi na elaboração do painel e que estará presente à montagem de Fragmentos da Luz na Vila. Assim como o venezuelano Juan Henriquez, também artista, para quem Fragmentos “é um reaproveitamento de processos, e o desperdício diz respeito não só à arte, mas à vida. Na América Latina deve-se aproveitar o erro na arte e na vida”. A venezuelana Lisu Vega é outra participante.

Fragmentos da Luz – Exposição de sobras do painel Epopéia Paulista, de Maria Bonomi, e oficinas de reciclagem de papel. Sábado (10), nos Galpões das Oficinas – r. da Estação, s/nº, Vila de Paranapiacaba, Santo André. Sábados e domingos, das 10h às 17h. Entrada franca. Até o dia 25.




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