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Coronavac tem 50,4% de eficácia, taxa mínima exigida pela Anvisa

Número global foi anunciado ontem, cinco dias depois de o governo do Estado e o Butantan mostrarem dados parciais de proteção

Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
13/01/2021 | 07:00
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A Coronavac tem 50,38% de eficácia global, de acordo com anúncio realizado ontem pelo Instituto Butantan, parceiro do laboratório chinês Sinovac Biotech na produção da vacina contra a Covid. Apesar de gerar proteção abaixo do anunciado pelas concorrentes – o imunizante da Pfizer, por exemplo, usado em boa parte do mundo, tem eficácia de 95% –, está bem pouco acima da taxa mínima dos 50% exigida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Os dados divulgados ontem completam informações disponibilizadas na quinta-feira, quando o Butantan e o governo paulista disseram que a capacidade de prevenção da vacina nos casos mais leves de Covid é de 78%, e nos mais graves, a taxa de eficácia é de 100%, ou seja, cerca de 22% dos voluntários apresentaram sintomas leves da doença e não precisaram de atenção médica. Já nos casos graves, a proteção quanto ao desenvolvimento da Covid foi total, ou seja, nenhum voluntário precisou ser hospitalizado.

A eficácia global é medida a partir da comparação entre o grupo de voluntários que tomou de fato o imunizante e o grupo que recebeu o placebo (formulação sem efeito farmacológico). Todos são profissionais da saúde e ficaram expostos ao vírus durante suas atividades. Entre os 12.508 voluntários, 252 se infectaram com o coronavírus, sendo que 167 tinham recebido o placebo e 85, a Coronavac. A partir das reações leve, moderada e grave dos vacinados é que o Butantan chegou à eficácia do imunizante.

Diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palácios detalhou que objetivo da vacina é justamente controlar os casos moderados e graves – considerados graus 4, 5 e 6 – para diminuir o número de internações e mortes causadas pelo novo coronavírus. “Esperamos que os casos graves e moderados caiam de uma forma que mantenha os efeitos (de casos) leve a muito leve. Dessa forma, mostraremos que a vacina é eficaz”, detalha. “Queremos que a vacina controle os casos graves para evitar internações. Definimos assim para obtermos respostas mais rápidas de estudo”, complementa Palácios. <EM>

Docente do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e investigador principal do estudo no centro de pesquisa clínica da universidade, Fabio Leal ressalta que a eficácia da vacina era esperada, já que, além de ser produzida com vírus inativo, a produção é semelhante à das demais vacinas, como a da Influenza, que tem eficácia entre 40% e 60%. “Com esses resultados, o início da vacinação vai evitar número maior de hospitalizações e mortes pela Covid-19. Com a ferramenta em mãos, podemos alterar completamente o rumo desta pandemia”, comemora.

COBERTURA
O consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Munir Akar Ayub observa a necessidade de cobertura vacinal adequada, já que, só assim, é possível minimizar a situação da pandemia. “Infelizmente, ainda não existe uma dose que combata totalmente a Covid, mas, mesmo assim, uma cobertura (vacinal) correta vai nos ajudar para o que queremos e precisamos neste momento”, avalia o professor.

“Se a campanha da vacinação atender uma parte pequena, não vai adiantar, já que o vírus continuará circulando e o objetivo é justamente conter essa circulação e evitar casos mais graves e mortes”, completa Munir, que lembra ainda que o Estado e o Instituto Butantan aguardam posição sobre o pedido de uso emergencial das doses pela Anvisa, prevista para ser divulgada até segunda-feira para que o imunizante possa ser utilizado.

Estudo em São Caetano vacinou 800 pessoas

Investigador principal do estudo no centro de pesquisa clínica da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Fabio Leal disse que cerca de 800 profissionais da saúde tomaram a vacina no núcleo de São Caetano e ficaram em monitoramento para pesquisa, que integrou o estudo clínico da Coronavac em São Paulo.
Segundo o especialista, o centro da região produziu, em escala menor pelo número de voluntários, resultados similares aos apresentados em coletiva de imprensa ontem.

“(A vacina) É extremamente segura e as reações foram leves, como dor de cabeça e dor no local da aplicação da vacina, então os efeitos colaterais já eram esperados”, comenta.

Leal conta que todos os voluntários continuam em observação e que os efeitos da vacina não comprometeram, em nenhum momento, as atividades de rotina dos profissionais da saúde.

O diretor médico do Butantan, Ricardo Palácios, disse que em todo Estado foram vacinados 12.508 voluntários. Na análise do especialista, alguns sintomas que apareceram nos profissionais permaneceram pelo menos dois dias, como febre, calafrios, tosse, falta de ar ou dificuldade para respirar e fadiga.

Já o diretor do Centro de Segurança Clínica e Gestão de Risco Farmacoepidemiologia Alex Precioso explicou que o estudo realizado nos profissionais entre 18 e 59 anos, tanto na primeira quanto na segunda doses, observaram dores no local da injeção, tanto pela vacina quanto pelo placebo. “Não houve nenhum registro de eventos adversos graves”, completou.

O estudo constatou que apenas 0,3 dos voluntários tiveram reações alérgicas e nenhum profissional apresentou reação anafilática. Todos os voluntários também permanecem em observação para segurança do estudo.

ANÁLISE

Na coletiva de imprensa realizada ontem, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, declarou “seguramente” que, após divulgação dos novos dados, será um dia importante na trajetória da vacina. “Nenhuma outra companhia (que também está desenvolvendo demais vacinas) apresentou dados antes do registro emergencial, como nós estamos fazendo”, disse.

Covas ainda pontuou que, além da eficácia, a Coronavac “é uma das melhores vacinas do mundo”, por conta da facilidade de logística e de transporte. “Só assim voltaremos à vida normal, nossa rotina”, finaliza o diretor.




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