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São Bernardo registra uma morte após enxurrada de sábado

Mãe e filho foram resgatados, mas o pai foi levado pela correnteza e o corpo foi encontrado hoje; população cobra medidas da Prefeitura

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
09/02/2020 | 14:26
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Divulgação


Vítima fatal da forte chuva que atingiu o Grande ABC no fim da tarde de ontem, o corpo de Gilvan Pereira de Jesus, conhecido como Gugu, 33 anos, foi encontrado por volta das 6h15 deste domingo (9), no Piscinão Canarinhos, na Rua dos Vianas, em São Bernardo. O homem morreu após cair no córrego Saracantan, próximo do ponto em que foi localizado sem vida pelo Corpo de Bombeiros.

Além de Jesus, sua mulher, Sheila Fernanda Francisco Mendes, 37, e seu filho, Kauê, 16, caíram no local, entretanto, foram resgatados por populares e levados pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Baeta Neves. Segundo amigos da família, ambos passam bem. O filho caçula do casal, Guilherme, 3, foi resgatado por amigos dos pais antes que a água puxasse os familiares para dentro do córrego. Junto deles, um outro homem, que não era conhecido dos moradores do bairro, também foi levado pela enxurrada e resgatado pela população.

Vendedor de alface há quatro anos em banca da Rua dos Vianas, Jesus morava com a família em Santo André, no Cruzado, e trabalhava no local todos os dias para sustentar os dois filhos. O Diário percorreu o bairro e ouviu os moradores e amigos da família, inclusive pessoas que arriscaram a vida e auxiliaram no resgate. Durante o período em que a equipe de reportagem permaneceu na barraca de verduras, dividida com outro amigo que não quis ser identificado, mais de 30 pessoas pararam para perguntar sobre o ocorrido, prestar condolências e lamentar a morte do rapaz, descrito como “muito querido e gente boa”.

Amiga e colega de comércio, Luciene Costa da Silva, 37, contou que Jesus tinha clientela fiel. “Um homem do bem, trabalhador e dedicado. Trabalhava muito duro e dava tudo que podia à família”, contou Luciene.

A comerciante estava com a família na hora da tragédia e relatou a cena. “Ajudei o Gugu a tirar a mercadoria dele da banca, mas a água foi subindo muito rápido. Em poucos segundos me virei e não o vi, na sequência notei que ele, a esposa e os dois filhos, junto de outro homem que não é daqui, estavam em cima da bancada. Deu tempo de um colega pegar o filho menor deles, e em um segundo ouvimos a família gritando, mas já estavam sendo arrastados correnteza abaixo”, relembrou Luciene.

Sheila e Kauê foram resgatados pela vizinhança a poucos metros do local onde caíram, já Jesus não foi mais visto. A busca pelo corpo do homem foi encerrada pelo Corpo de Bombeiros por volta das 21h30 de sábado, e retomada logo nas primeiras horas deste domingo. Com a água baixa, o corpo foi localizado em meio à lama.

Comerciante e amigo de Jesus, Roberto Andrade, 41, reforça que mora no bairro desde que nasceu e cobra da Prefeitura medidas eficazes para combater o mal. “Desde que meu avô morava aqui esse problema de cheias existe. Nós sabemos do risco, sim. A questão é que o prefeito (Orlando Morando – PSDB) está focado em tirar os comerciantes daqui (Rua dos Vianas) e não quer fornecer local para que a gente possa trabalhar. Assim como as moradias, que ele quer desapropriar, mas não quer dar onde morar. E essa condição de chover e encher a gente continua esperando a resolução prometida”, salientou.

Morador do bairro há 35 anos, Benedito Sintra, 74, disse que depois que o piscinão foi construído e a obra de canalização do córrego começou, a sensação é de que as enchentes pioraram. “Desde que moro aqui o bairro sempre sofreu muito com cheias. Tenho comporta de ferro na minha casa para evitar que a água invada e, toda vez que começa a escurecer o céu, nós (população) já ficamos preocupados”, contou.

Para ele, as obras estão “empacando” o que tem de melhorar. “Se é que vão entregar essa obra, tem de ser o quanto antes. Pessoas morrem, perdem pertences, enche de sujeira nas ruas. Não é possível que isso não é visto pelos governantes”, reclamou.

A população reforça que está disposta a sair das áreas de risco, desde que a Prefeitura forneça condições de moradia e trabalho adequadas, e busque finalizar as obras para que o bairro tenha “sossego em dias chuvosos”, conforme pedem.

Foto: Divulgação

HERÓIS

Marcelo Ferreira Varejano, 39, e Gledson Andrade Piva, 29, foram os responsáveis por salvar a vida do homem “desconhecido” pela população.

“Minha filha, de 4 anos, gosta muito de ver chuva e estava olhando o rio cheio quando apontou e disse para eu olhar, pensei que estivesse se referindo ao relâmpago, mas ela me disse das pessoas no meio da água. Quando vi, nem pensei. Desci correndo, destravei o portão e me segurei com os pés na armação agarrando o homem”, contou Varejano.

Segundo ele, a vítima já estava muito fraca e não conseguia falar nem fazer força. “Passei mal depois que consegui puxar ele para dentro da minha casa, não sei se de tanta força que fiz ou nervoso”, relembrou.

Varejano disse que queria ter tido tempo de ir atrás da família Jesus, mas não conseguiu.

“Vi o Marcelo segurando aquele homem e corri para ajudar. Trouxemos ele para dentro e o sentamos em uma cadeira, enxugamos e tentamos manter em posição que não se sufocasse até o resgate chegar. Ele estava muito mal’, disse Piva.

Os “heróis”, como estão sendo chamados por vizinhos, lamentam não ter informações do nome do homem que salvaram e não terem tido chance de fazer o mesmo pelo verdureiro. “Muito triste a notícia da morte do Gugu”, lamentou Varejano. 

Foto: Bia Moço/DGABC




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