Setecidades Titulo Ousadia
Prazer em se reinventar

Mudança exige arrojo, criatividade e ousadia na busca por produzir produtos e serviços a diferentes segmentos

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
27/12/2021 | 06:13
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Celso Luiz/DGABC


Em épocas de crise, como a que o mundo ainda vive devido à Covid-19, muitas pessoas não se mantêm passivas, inertes. Às vezes por necessidade, outras pelo simples prazer, buscam se reinventar, criar produtos ou serviços que atendam demandas dos mais variados segmentos. E nem mesmo o isolamento físico imposto pela pandemia afastou as ideias desse tipo de pessoa, comumente ousada e criativa. Assim, apesar das máculas atreladas ao mortal vírus, não faltaram oportunidades a essa gente que ultimamente vem conjugando com mais frequência o verbo reinventar.

E nesse universo está Douglas Cristiano Santana, 39 anos, morador de Santo André. Ele tem experiência no segmento da saúde já de cinco anos. É enfermeiro em dois estabelecimentos no Grande ABC. A realização na área profissional, entretanto, não o impediu de se reinventar e desenvolver outra de suas grandes paixões, a arte da confeitaria. Fácil? Muito pelo contrário. Sabe que empreender – termo usado para designar pessoas criativas, inovadoras, arrojadas – no Brasil é caminho penoso. Durante a pandemia, então, restou claro que a atividade requer amor ao projeto, prazer em fazer o que se propõe e, acima de tudo, determinação.

Amor para levar adiante o sonho de “abrir a minha confeitaria, a Delícias do Dodo”. Prazer por fazer o que gosta e, assim, tornar melhor e mais rendoso o negócio. Responsabilidade para honrar os compromissos. E determinação porque são quase nulos os incentivos e apoios por parte de órgãos governamentais. “Sou apaixonado por confeitaria.”

Começou a mostrar habilidades com atividades de confeitaria fazendo panetones trufados. Avançou e, além dessa guloseima, também produz ovos de Páscoa caseiros, tortas e outras “delícias” ligadas à ‘arte’. E deu tão certo que já são seis anos à frente do negócio, com longas horas de trabalho em casa, local de produção dos doces, além da jornada profissional.

Hoje o enfermeiro que ama ser confeiteiro colhe os frutos da ‘ousadia’ . Vende, em média, 150 panetones por semana, em fabricação que se estende o ano todo. À equipe do Diário, em um sábado, preparou mesa com 60 panetones. O preço, acrescenta, é de R$ 70 a unidade. “Está compatível com o mercado. Aliás, meu panetone tem batido em sabor a Cacau Show e é melhor que a Kopenhagen, segundo os meus clientes. Eles dizem: ‘Dodo, o seu panetone é o melhor, bate qualquer concorrência’”, gaba-se o confeiteiro. 

Concilia a enfermagem com a produção das iguarias, mas não consegue mais trabalhar com entregas devido, segundo ele, à “grande demanda”. Os pedidos, então, só por encomenda. O próximo projeto é deixar de fabricar em casa e ter ambiente próprio para isso. Para o intento, entrega, vai continuar contando com auxílio de aliada de todas as horas. “Tenho sonho de abrir a minha confeitaria. Tenho uma pessoa que me ajuda em tudo, minha irmã Sandra Mara, a melhor ajudante que alguém poderia ter, trabalha com o coração”, reconhece.

'Mas lá na frente vai colher os frutos’
Após perderem o emprego durante a crise sanitária, abrir o próprio negócio tornou-se alternativa a milhões de brasileiros e, em muitos casos, a única saída. Desempregada depois de anos como recepcionista, Alessa Maria Thomazini Ceruti, 32 anos, de São Bernardo, passou pela indesejável experiência. Mas não desanimou. Sabia que tinha de se reinventar, buscar outro rumo. Assim o fez. Levantou a cabeça, conscientizou-se e procurou – e achou – na rede mundial de computadores algo que pudesse aprender para complementar a renda da casa, a qual divide com o marido e o filho. A tia, especialista em goluseimas, era a inspiração.

“Pesquisei na internet como fazer bolos e doces. Fiz uma vez e percebi que conseguia. Aprendi. No início fazia os (bolos) de pote, trufas. Depois fui tomando gosto pelos de aniversário, que são meu forte, decorados, personalizados, e docinhos. Minha irmã tinha clientela, porque faz máscaras, e fui oferecendo. O pessoal foi gostando, foi dando certo.”

Atualmente, com ajuda do marido, mãe e padrasto, produz, em média, quatro bolos de aniversário por semana, que variam de R$ 70 a R$ 290, os 365 dias. “Festa tem o ano todo”, diz, sorridente. Expandir o negócio, claro, faz parte dos planos de Alessa, tanto em espaço, já que trabalha em casa, no Baeta Neves, quanto em diversidade. O nome ela já ‘bolou’: Docinhos da Alessa. “Se Deus quiser, se tudo continuar dando certo, vou ter lugarzinho só para produção de bolos e doces. Se possível fazer contratações de pessoas para ajudar, conforme for crescendo, ou até abrir confeitaria.”

Para quem passou ou vivencia situação análoga de falta de oportunidades no mercado de trabalho, a ‘boleira’ aconselha a tentar, insistir e ter paciência, porque, adiciona ela, “vale muito a pena” se reinventar. “Poder fazer o que realmente gosta, trabalhar com isso, é muito gratificante. No começo é difícil, vai ter erros, não vai dar certo, mas lá na frente vai colher os frutos de todo esforço”, incentiva a são-bernardense.

“As espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças”, disse certa feita o naturalista, geólogo e biólogo britânico Charles Darwin. Adaptados à atual realidade, moradores da região se precisam ser estudados realmente não dá para saber. Mas que alguns merecem aplausos, sim, certeza

Há no Brasil 51,9 milhões de pessoas que empreendem
 acordo com o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), em 2020 o Brasil despencou do quarto para o sétimo lugar mundial em taxa total de empreendedorismo, queda de 18% em relação a 2019. O mesmo levantamento revela que o tombo mais marcante foi o dos empreendedores estabelecidos, como são conhecidos os que têm mais de 3,5 anos de operação, passando de 16,2% para 8,7%, “o que representa redução de quase 50%”, informa o observatório. Por outro lado, a taxa de empreendedorismo inicial, que são os com até 3,5 anos de operação, apresentou “ligeiro aumento”, passando de 23,3% para 23,4%. “Entende-se que o resultado foi motivado pela queda dos empreendedores estabelecidos, que teriam fechado suas operações com a crise”, detalha.

De acordo com a GEM (Global Entrepreneurship Monitor), de 2018, há no Brasil 51,9 milhões de empreendedores. Ainda, 61,8% dos empreendedores iniciais empreendem por oportunidade; Trinta e oito por cento é o número de pessoas entre 18 e 64 anos que têm negócios ou estão envolvidas na criação de um negócio; e 22,2% é porcentagem de participação dos mais jovens (entre 18 e 34 anos) entre os empreendedores iniciais.




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