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Emprego é desafio a ser superado
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
21/03/2011 | 07:00
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No Dia Internacional da Síndrome de Down, cujo tema é Inclusão Acontecendo - Amplie este Exemplo, pais, especialistas e as crianças, jovens e adultos com síndrome têm avanços para comemorar, mas ainda falta quebrar uma importante barreira: o mercado de trabalho.

Segundo estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), baseadas no Censo 2000, existiam 300 mil pessoas com a Síndrome de Down no Brasil.

Mas, para elas, conseguir um emprego ainda é meta difícil. De acordo com a última Rais (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego, de 2009, 288,6 mil pessoas com deficiência estavam empregadas, sendo 13,1 mil com deficiência mental, que inclui a Síndrome de Down.

O pediatra do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo Zan Mustacchi, que há 30 anos atende pacientes com a síndrome, cita alguns avanços, como a redução do preconceito, acesso à educação e à saúde.

"No Estado, temos entre 25 mil a 30 mil pessoas com Down." Para essa população, Mustacchi ressalta que uma oportunidade no mercado de trabalho ainda é o maior desafio a ser superado.

De acordo com a Lei 8.213/91, que determina cotas mínimas para trabalhadores com alguma deficiência, as empresas com 100 ou mais empregados precisam reservar entre 2% a 5% das vagas, de acordo com o número de funcionários.

"Infelizmente, tem um contexto de imposição por conta da lei, mas na verdade essas pessoas deveriam ser capacitadas. As empresas poderiam dar formação e encaminhá-las para determinadas áreas, como de produção e comunicação. Mas as empresas querem o profissional pronto."

Para o neuropediatra da Faculdade de Medicina do ABC Rubens Wajnsztejn, as pessoas subestimam o potencial de um portador da Síndrome de Down. "É por isso que as empresas dão funções simples."

A dona de casa de São Caetano Corina Carvalho da Silva, 65 anos, sempre achou que o filho Marcelo Pereira da Silva, 26, não iria arrumar trabalho. "Foi um choque quando ele nasceu, porque sabemos do preconceito e da falta de oportunidades."

Marcelo trabalha todos os dias na oficina da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São Caetano, onde faz fraldas, e duas vezes na semana trabalha na Universidade Metodista de São Paulo, onde é registrado.

"Antes eu fazia pé de geladeira na Apae, mas agora sou responsável por cortar as fraldas. Eu gosto do que faço, sou respeitado e ainda cultivo amizades", afirma Marcelo.

A coordenadora pedagógica da Apae de São Caetano, Ana Paula Haussauer, diz que muitos duvidam das habilidades de quem tem Down. "Eles têm potencial, e por isso os incentivamos, oferecendo oficinas de capacitação em produção de giz, fraldas e pés de geladeira, além de artesanato e reciclagem."

Para a psicóloga e coordenadora do Serviço de Formação e Inserção no Mercado de Trabalho da Fundação Síndrome de Down Luciana Mello, o preconceito vai diminuir quando as pessoas com deficiência exercerem sua cidadania.

"A falta de qualificação das pessoas com deficiência é uma barreira. Para que isso mude, é preciso que todos tenham acesso de fato à educação."

Acesso à saúde faz expectativa de vida chegar aos 70 anos

Com os avanços e o acesso à sáude, a expectativa de vida de quem tem Síndrome de Down varia entre 60 e 70 anos. "Eles podem aproveitar a vida muito bem, construir uma família e ter filhos como qualquer outra pessoa", afirma o pediatra Zan Mustacchi, do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo.

A Síndrome de Down é um comprometimento genético. Cada célula do corpo humano costuma ter 23 pares de cromossomos, que representam a sequência do DNA. A alteração desencadeia com o par 21, que se triplica, resultando em 47 cromossomos.

Como consequência, provoca atraso no desenvolvimento físico e intelectual da pessoa, além de características que deixam todos muito parecidos.

"A pessoa terá os olhos puxados, que lembram o oriental, comprometimento da musculatura e intelectual, que causa dificuldade no aprendizado", explica Mustacchi.

Para o neuropediatra da Medicina do ABC Rubens Wajnsztejn, a chance de se ter um filho com Down é uma em 700, mas acima dos 40 anos é de uma para

Pais devem estimular seus filhos

Qual é o pai e a mãe que não desejam o melhor para seus filhos? Na luta por melhores direitos, mais uma batalha foi vencida para quem tem Síndrome de Down: a inclusão nas escolas[

Na região 173 alunos com a síndrome frequentam o ensino regular da rede municipal - com exceção de Diadema, Rio Grande da Serra e Mauá, que não informaram seus números até o fechamento desta edição.

"A socialização é importante. Os profissionais estão preparados e é com a convivência que se quebra as barreiras", afirma a chefe de Educação Especial de São Bernardo Vírginia Marino.

A estudante de São Bernardo Bárbara Soares, 8 anos, é a prova de que é possível frequentar o ensino regular. Desde os 4 a garota vai à escola e, para a mãe, a dona de casa Francimar Soares, 42, o segredo para o aprendizado é a parceria com a escola.

"Todo início de ano falo com a professora e digo que precisa ser feito um trabalho em conjunto para dar certo."

A garota é supervaidosa, adora ir ao colégio e à APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) de São Bernardo, que frequenta desde os quatro meses. "Gosto de fazer lição, pintar, brincar de boneca, médica e professora", conta.

Para a mãe, a filha a surpreeende a cada dia. "Quando nasceu o médico disse que ela dependeria de mim 24 horas. Hoje vejo sua evolução. Claro que há preconceito, principalmente dos adultos, mas nada disso nos afeta."

Para a fundadora da APAE São Bernardo Rita de Cássia Albuquerque, 53, o apoio da família é fundamental. "Além do trabalho com os jovens, fazemos o mesmo com os pais para que estejam fortalecidos para enfrentar os desafios."

Para a dona de casa de São Caetano Gislaine Antonia Oliveira, 45, o preconceito começou a diminuir depois da novela Páginas da Vida (2006), da Rede Globo, quando trouxe Joana Mocarzel, atriz com Síndrome de Down.

"Vivemos num mundo onde tudo tem que ser perfeito. A partir da divulgação na mídia as pessoas podem mudar o modo de pensar", afirma Gislaine, mãe de Maria Clara, 9, que estuda na APAE de São Caetano.

No começo, a mãe se culpou, mas depois começou a aceitar e hoje só quer que a filha tenha um bom futuro. "Me preocupo muito com o aprendizado. Quero que ela seja independente e consiga um trabalho."

Superação e dedicação são segredos de bailarina

Exemplo de dedicação e superação. Assim é Aline Fávaro Tomaz, 29 anos, a única bailarina clássica com Síndrome de Down a dançar com sapatilha de ponta no Brasil.

A mãe, Eleide Fávaro Tomaz, 65, queria que a filha fizesse exercício e a levou para uma escola de balé. "No início a professora perguntou como iria lidar com ela, respondi que não era para fazer nada diferente. Aline surpreendeu a todos. Fez jazz, sapateado e natação, mas foi no balé que ela se encontrou."

Aline faz aulas três vezes por semana, entre três a quatro horas por dia. A mãe garante que o segredo é a disciplinada e a determinação.

Ela já se apresentou em Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Interior do Estado e não fica nervosa. "Nas apresentações fico muito tranquila", afirma Aline, que já participou do 6º Congresso da Síndrome de Down, na Espanha.

Neste ano sua primeira apresentação será hoje, a partir das 10h, no auditório da Segunda Escola Municipal de Ensino Fundamental (Rua José Benedetti, 550, Cerâmica, São Caetano), em comemoração à data.

O talento de Aline saiu dos palcos e foi parar nas páginas do livro A Eficiência da Deficiência, escrito pelo pai João Tomaz da Silva, 65. No ano passado a obra foi lançada em alguns países da Europa e deve chegar aos Estados Unidos.




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