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Diagnósticos de hanseníase aumentaram 85,7% em 2019

Novos casos passaram de 21 para 39 em um ano; Janeiro Roxo conscientiza sobre a doença

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
25/01/2020 | 23:59
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Fotos Públicas


Trinta e nove pessoas foram diagnosticadas com hanseníase no Grande ABC no ano passado, enquanto 21 casos foram confirmados em 2018, um aumento de 85,7%. Conforme informações do Datasus, banco de dados do Ministério da Saúde, a doença estava em queda na região: em 2016, foram 50 confirmações e, em 2017, 41. Os especialistas avaliam que a falta de informações e o preconceito agravam o cenário. 

O Janeiro Roxo foi o mês escolhido para educar sobre a doença. “Falta conhecimento em todos os níveis, do básico, como sintomas e transmissão, até situações nas quais os pacientes se curam e ficam sem nenhuma distinção em relação a uma pessoa que nunca teve hanseníase”, diz Claudio Salgado, presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hansenologia). 

Inclusive, para Cristina Laczynski, professora de dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC, a falta de informações sobre a enfermidade, antes conhecida como lepra, é um dos principais obstáculos enfrentados pelos infectados. “(Isso) Pode fazer com que o paciente demore a procurar atendimento médico, o que implicará no diagnóstico e tratamento tardios”, explica.

Segundo Salgado, a redução de casos nos últimos anos não indica que a doença não avançou, mas pode ser reflexo da falta de diagnóstico. “Achava-se que a hanseníase ia acabar antes dos anos 2000 e as faculdades não preparam os profissionais para fazer este diagnóstico”, avalia. Por este motivo, a SBH acredita que o número de doentes pode ser até três vezes maior do que o registrado e defende a capacitação contínua de profissionais da saúde.

PRECONCEITO

Transmitida pelo bacilo Mycobacterium leprae, a hanseníase é uma das enfermidades mais antigas da humanidade, com referências em 600 a.C. À época, a doença não tinha cura e as pessoas diagnosticadas eram isoladas do convívio social. “No Brasil, até a década de 60, a polícia batia na porta dos doentes e os internava compulsoriamente, por isso, tem muito preconceito em torno da doença”, lembra Felício Manuel da Costa Vieira, dermatologista e docente do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).

Atualmente, a doença é curada com tratamento feito a partir de associação de medicamentos oferecidos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde). “O diagnóstico precoce é muito importante, pois o início do tratamento interrompe a transmissão da doença para outras pessoas”, destaca Cristina. Além disso, é importante que os familiares e pessoas próximas ao doente procurem uma UBS (Unidade Básica de Saúde) para verificar se não houve contágio.

A transmissão ocorre pela inalação de bacilos eliminados nas secreções de vias respiratórias de doentes sem tratamento. O tempo de incubação, ou seja, tempo em que os sintomas se manifestam desde a infecção, pode ser de até dez anos. Os principais sintomas são manchas na pele e perda da sensibilidade térmica, tátil e à dor. Ao apresentar qualquer indício, a orientação é procurar um dermatologista.

Existem duas classificações da doença. A paubacilar é designada aos doentes com baixa carga bacilar e não são consideradas fontes importantes de transmissão. Já os pacientes com a forma multibacilar são, normalmente, aqueles que tiveram convivência próxima e prolongada com doente sem tratamento e são os principais transmissores.

SEQUELAS

Caso a identificação da doença ocorra tardiamente ou o tratamento não seja adequado, a hanseníase pode deixar sequelas como atrofia de membros, limitação muscular e alteração articular. “(A falta de diagnóstico e tratamento) Pode levar a sequelas importantes, como mão em garra, pé caído, feridas que não cicatrizam, paralisia facial e limitação ao fechamento dos olhos”, assinala Cristina. “Isso acontece porque os bacilos atingem o sistema nervoso, mas ocorre apenas em sua forma mais agressiva”, completa Vieira. 




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