Setecidades Titulo Transportes
Sem opção, passageiro paga
mais por bilhete do trólebus

Comércios desistem de vender passagens porque
o lucro é baixo; os ambulantes saem ganhando

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
24/08/2013 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Passageiros do Grande ABC que dependem do bilhete de papel para embarcar nos trólebus têm dificuldade de encontrar o passe fora dos terminais. Com isso, os usuários se tornam alvo do comércio irregular e chegam a pagar até R$ 0,30 a mais para utilizar os coletivos do Corredor ABD – o preço da passagem é R$ 3,20.

O Corredor ABD (Jabaquara/Brooklin/São Mateus) é operado pela Metra e passa por Santo André, São Bernardo e Diadema, além da Capital. Para embarcar nos trólebus, os passageiros devem dispor de bilhetes de papel ou do Cartão BOM, que pode ser adquirido gratuitamente. Os coletivos não têm cobrador e, por isso, não aceitam pagamento em dinheiro. A compra dos passes e recarga dos cartões podem ser realizadas em 130 postos autorizados espalhados pelo Corredor ABD ou nos terminais, segundo informou a empresa.

A equipe do Diário circulou por dez pontos do trólebus afastados dos terminais de Santo André, São Bernardo e Diadema e teve dificuldade para localizar estabelecimentos credenciados para a venda dos bilhetes. Isso porque muitos comerciantes abandonam a prática e alegam que o lucro da comercialização dos passes – 2% por bilhete – é baixo. “Faz um ano que não vendemos porque não compensa”, explica o comerciante Michael Santos, proprietário de lanchonete próximo à parada Bonfim, na Rua Oratório, Santo André.

Na região da Rua Oratório, o único ponto de venda credenciado com bilhete disponível é próximo à parada Parque das Nações. De acordo com o comerciante José Carlos de Brito, a comercialização tem intuito de atrair os clientes. “A procura é alta, apesar de a comissão baixa e do risco de assalto”, observa.

CREDENCIADAS

Na tentativa de ampliar a margem do lucro, comerciantes credenciados cobram mais pelo bilhete. Em Diadema, banca localizada próxima à parada Alice, na Avenida Antônio Piranga, vende o passe por R$ 3,40 – R$ 0,20 a mais que o preço oficial. “Compramos da Metra por R$ 3,13 e lucramos apenas R$ 0,07 por bilhete”, justifica a vendedora que preferiu não se identificar.

O mesmo problema pode ser observado em banca na Avenida Tales dos Santos Freire, próximo à parada Pilar, em Santo André. Já na Praça Brasil, em São Bernardo, o bilhete é vendido a R$ 3,50.

Dessa forma, os passageiros que utilizam o transporte coletivo casualmente acabam pagando mais caro. “A gente fica caçando postos e acaba comprando no primeiro que acha, mesmo que o preço seja maior”, destaca o fotógrafo Leandro Iwaki, 36, morador de São Bernardo.

Quem não tem o Cartão BOM nem encontra bilhete de papel nos bairros, mas não está disposto a pagar mais, tem de fazer o trajeto a pé. É o caso da pensionista do INSS (Instituto Social do Seguro Social) Silvia Santos. “Andei mais de dois quilômetros para chegar ao INSS e fazer a perícia porque não tinha onde comprar o bilhete pelo valor real”, disse.

No caso do jornalista Marcio Roberto Torvano, a alternativa foi pedir carona ao motorista do tróbelus para embarcar. “Passei por vários estabelecimentos e não encontrei o bilhete e fiquei com medo de perder a consulta ao médico”, destaca.

CRIME

Segundo o professor de Direito Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Bruno Boris, é necessário acordo entre a empresa e os comerciantes para melhor remuneração, além de necessidade de ampliar a fiscalização. Já em relação aos usuários, o especialista observa que é preciso denunciar os comércios irregulares. “Essa venda configura crime contra as relações de consumo”, comenta. Segundo ele, apesar de ter menor potencial ofensivo, o crime é passÍvel de processo e até prisão.

A Metra informou que vai averiguar a denúncia e que, se for constatado que algum posto autorizado está vendendo bilhete acima do valor, este será descredenciado. Caso seja algum posto não autorizado fazendo propaganda indevida, a Metra fará denúncia às autoridades municipais para que as devidas providências sejam tomadas.

A empresa considera a falta de passagens de papel “caso isolado” e destacou que tomará as medidas necessárias para resolver a questão. (Colaborou Guilherme Monfardini) 




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