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Memórias e confissões de uma poetisa
Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
11/05/2011 | 07:35
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João Caldas/Divulgação


Regina Braga sempre soube que voltaria a interpretar no palco a poeta norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979), vencedora do prêmio Pulitzer de 1956. Exatamente uma década separa o lançamento da reestreia. "Há dez anos, eu passava por cima de coisas que hoje acho tão tocantes", reconhece. "Não sei se (essa percepção) será visível para o público". Com um olhar mais maduro, no ano do centenário de nascimento da escritora, a atriz retorna com o monólogo "Um Porto Para Elizabeth Bishop", que entra em cartaz no Teatro Eva Herz, em São Paulo, nesta sexta-feira.

Com direção de José Possi Neto, Regina vive a personagem que chegou ao Brasil em 1951, quando desceu no porto de Santos para breve escala turística, que se estendeu por mais de 20 anos; primeiro como residente, mais tarde como visitante regular. Toda a história ganha movimento sob a ótica de seu relacionamento com a urbanista brasileira Lota Macedo Soares, que a deixava sozinha na medida em que se envolvia com política.

Para Regina, Bishop representa o olhar estrangeiro, aguçado e sensível, direcionado ao País. "Esse jeito de olhar o Brasil, com valores norte-americanos, é muito interessante. Ela reparava nas situações mais simples", comenta a atriz. Em dado momento, por exemplo, comenta sobre os bebês brasileiros, que estavam sempre embrulhados em mantas de lã, não importando o calor que fizesse. Em outra ocasião, supreende-se com o caju: "Que estranho uma fruta que tem o caroço do lado de fora, assim exposto, quase obsceno."

Com texto de Marta Góes, que em nenhum momento ficou tentada a fazer alterações, a peça tem as cartas de Bishop como principais matérias-primas. "O que me coube foi dar um recorte para que evoluíssem de forma dramática", afirma. "A peça tem uma estrutura dramática de depoimentos. É quase uma colagem de pensamentos, considerações. Existe um trabalho de autoanálise a partir de escritos, correspondências", comenta o diretor. Também é entremeada de poesias. "Eu gosto muito quando passa da prosa para a poesia. Se desse tempo, colocaria mais umas duas", conta Regina.

Em meio às considerações sobre o Brasil, o espetáculo que recebe tom confessional também mostra as inseguranças de Bishop enquanto poeta ultrarrigorosa que produzia lentamente. "Ela batalha com a obra. O medo é não conseguir, é fracassar", aponta Marta. "Quer saber se é artista ou fraude. Esse questionamento é pulsante durante o tempo inteiro", completa Possi Neto. Também ganham atenção outras dificuldades como asma e alergias, alcoolismo e depressão.

Quando estreou em 2001, o espetáculo teve repercussão internacional, sendo divulgado em publicações como New York Times e Newsweek. O que esperar da reestreia? "Queremos que ainda produza impacto porque apresenta temas permanentes", afirma Marta. E emenda Possi Neto: "Existem universalidades: paixão, relação entre duas mulheres. Um tema, inclusive, que está em voga. Mas não se discute, apenas é colocado na peça."

Um Porto Para Elizabeth Bishop Teatro. No Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Conjunto Nacional) - Avenida Paulista, 2.073, São Paulo. Tel.: 3170-4059. Estreia sexta-feira, às 21h. Temporada: sexta e sábado, às 21h; aos domingos, às 19h. Ingr.: R$ 40 (sexta) e R$ 50 (sábado e domingo). Até 26/6.




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