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Ocupação reduz produção de água

Nascentes que abastecem a Billings produzem 20 vezes menos em áreas povoadas

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
03/04/2011 | 07:42
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As nascentes da represa Billings produzem 20 vezes menos água em áreas ocupadas em relação àquelas em que a floresta é preservada. Isso representa gasto 16 vezes maior para tratar um litro de água para consumo humano. Esses são os principais resultados de pesquisa realizada pelo Núcleo e Agência Ambiental da Universidade Metodista de São Paulo.

Três áreas da represa foram monitoradas: uma preservada (pesqueiro Tomodati), uma parcialmente ocupada (Parque Estoril) e outra totalmente ocupada (bairro Alvarenga).

O volume médio de água produzido pelas nascentes da área conservada foi de dez litros por segundo, número 20 vezes maior que nas demais áreas.

Conforme o estudo, o governo do Estado estipulou que o custo de cada metro cúbico de água captada é de cerca de R$ 0,017.


Multiplicando-se este valor pela quantidade de água produzida, tem-se que a cada ano as nascentes das áreas conservadas geram um valor de R$ 12,3 milhões. Já as que estão em áreas de ocupação humana esparsa e densa geram, juntas, meros R$ 3,3 milhões.

A pesquisa também avaliou que a água produzida nas áreas conservadas tem qualidade superior àquela das demais áreas. O custo para tratar um litro desta água é 16 vezes menor que o gasto para tratar o mesmo litro produzido em uma área de ocupação humana densa e três vezes menor que em uma área de ocupação esparsa.

Para a coordenadora do projeto e especialista em gestão ambiental da Metodista, Waverli Maia Matarazzo-Neuberger, investir na conservação da floresta ao redor da represa é essencial. "Garantir a continuidade da floresta ajuda a produzir mais água, e com menor custo de tratamento. Essa visão derruba a noção de que fazer um investimento em conservação da natureza não gera lucro e mostra, na verdade, o prejuízo que temos com a degradação das áreas de uma bacia hidrográfica", afirmou.

VAZIA - Quem vive no bairro Alvarenga garante que o nível da Represa Billings diminuiu com o passar dos anos. E não precisa morar há muito tempo no local para constatar a redução do espaço ocupado pela água.

A técnica em segurança do trabalho Sandra Rose Gomes, 28 anos, observa de sua laje a represa se distanciar. Ela vive há três anos no bairro e garantiu que, quando chegou, o nível da água era maior. "Chegava quase até a rua. Hoje é difícil, mesmo no período de chuvas", afirmou.

O catador Antonio Catarino Pereira, 61, concorda. Ele está há 20 anos em terreno irregular às margens da represa. "A água chegava na porta do meu barraco. Hoje consigo caminhar onde antes era represa", comentou.

Ao redor do manancial, o que se vê é lixo de todo tipo despejado nas águas, desde restos de comida até um sofá parcialmente queimado. Não é à toa que o custo para tratar o líquido que abastece o manancial esteja cada vez mais alto.


A pesquisa do Núcleo e Agência Ambiental da Universidade Metodista de São Paulo teve como objetivo mensurar o valor em dinheiro que a preservação das florestas da Bacia da Billings pode gerar.

Conservar florestas pode gerar lucro

Tomando como medida o valor de cada tonelada de carbono pago pela Bolsa de Mercadorias de Chicago, nos Estados Unidos, as florestas da Bacia da Billings valem R$ 172 milhões, já que estocam um total de 22 milhões de toneladas de carbono.

Outro benefício evidente das matas está relacionado ao clima. A pesquisa constatou variação de até 5º C entre a área de ocupação humana densa e a área conservada pesquisadas pela universidade.

O turismo também é outro fator apontado pelo grupo como gerador de riqueza. O gasto médio de turistas nas áreas da bacia, incluindo deslocamento e estadia, é de R$ 673,20 por pessoa ao ano.

Multiplicando-se este valor pelo número de turistas que visitam os locais pesquisados, tem-se que o turismo já responde pela geração de uma receita anual de R$ 144 mil.

Esses visitantes, conforme a coordenadora da pesquisa, Waverli Maia Matarazzo-Neuberger, estão dispostos a pagar pela preservação dessas áreas.




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