Economia Titulo Doenças no trabalho
Região registra 4.235 trabalhadores
afastados por depressão e estresse

Conhecidas como o mal do século, doenças são a terceira
causa de ausência, só perdendo para causas físicas e LER

Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
16/04/2013 | 07:00
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Estresse e depressão. Conhecidas como o mal do século, essas são a terceira causa de afastamento no trabalho no Grande ABC, só perdem para as causas físicas e lesões por esforços repetitivos, como LER e Dort. Entre 2011 e 2012 foram concedidos 4.235 afastamentos por depressão e estresse na região, revela levantamento do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) a pedido do Diário. A pesquisa mostra que 3.992 auxílios-doença ocorreram por depressão. No mesmo período foram liberados 564 benefícios por estresse.

No caso das pessoas diagnosticadas com depressão, entre um ano e outro (2011 e 2012) houve queda de 13,8% (passando de 2.144 para 1.848). Os benefícios concedidos por estresse também diminuíram (24,29%), partindo de 321 para 243.

No entanto, o fato de o volume de benefícios liberados ter caído não significa que o número de pessoas doentes tenha reduzido. O INSS afirma que os dados não podem ser interpretados como indicadores de aumento ou diminuição dos problemas de saúde.

De acordo com representantes dos trabalhadores, o número de subnotificação desses acidentes está aumentando. "As empresas não registram os afastamentos no FAP (Fator Acidentário Previdenciário)", diz a diretora da Secretaria da Saúde e Condições de Trabalho da Fetec-CUT/SP (Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Estado de São Paulo), Adma Maria Gomes. "As companhias acabam pagando normalmente seus funcionários e os deixam em casa por até um mês. Tudo isso para não notificarem o CAT (Comunicação de Acidentes do Trabalho)".

A estratégia das companhias seria para evitar o aumento de impostos. Isso porque quanto maior a incidência de registros de afastamentos de uma mesma empresa, maior o tributo cobrado sobre elas. "E muitos funcionários têm medo de receber pelo INSS e ganhar menos, e acabam apresentando para a empresa pequenas licenças médicas, de até 15 dias, que não são necessárias dar entrada na Previdência."

SALÁRIO - Segundo o INSS, o valor do salário que o funcionário recebe enquanto está afastado corresponde a 91% do salário. Dependendo da variação salarial, o auxílio-doença pode ser inferior ou superior ao último rendimento do trabalhador, reforça o órgão público.

Adma diz que o trabalhador que está doente em nível mental precisa se tratar como qualquer outro. "Não se pode ter medo de ganhar menos. Estresse e depressão são doenças sérias. Ao dar entrada no INSS o trabalhador tem todo o respaldo da legislação, não podendo ser demitido, por exemplo, quando volta do afastamento."

 

Bancários são os mais afetados

O setor bancário lidera o ranking dos afastamentos. Em seguida estão os operadores de telemarketing e vendedores, aponta a psicóloga e gerente do Cerest (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de São Bernardo), Eliana Aparecida da Silva Pintor. "Ritmo elevado no trabalho, competitividade desenfreada e tensão são facilitadores de transtornos mentais."

Segundo ela, metas abusivas, assédio moral, trabalhos que expõem as pessoas ao risco (como a assaltos - vigilantes, tesoureiro, motoristas, operadores de caixa, bancários) favorecem o aparecimento de ansiedade, pânico e isolamento do indivíduo. "Humilhação, exposição e cobranças desenfreadas também podem levar a pessoa a um quadro doentio, onde ela abre mão da carreira, da vida social, de tudo", revela a especialista.

Quando diagnosticadas, as pessoas ficam em tratamento por 200 dias, em média. "Geralmente é preciso entrar com medicação e muitas sessões de terapia", cita a psicóloga. "Os gestores empresariais precisam entender que afastar um colaborador por doença mental é muito desvantajoso para as duas partes. Por isso, por que não deixar o ambiente de trabalho melhor? É preciso sentir prazer no lugar em que se trabalha. Isso aumenta a produtividade do funcionário e evita afastamentos ."

O Sintelmark (Sindicato Paulistas das Empresas de Telemarketing, Marketing Direto e Conexos), por exemplo, diz estimular o desenvolvimento humano do contact center com propostas junto ao governo, como o projeto Minha Grande Chance SP, para que as companhias possam se instalar nas regiões onde grande parte de seus colaboradores reside e, assim, diminuir o tempo do trajeto trabalho, casa e escola. "Somente com a integração entre indivíduo, governo e empresa será possível administrar este mal que atinge tanto brasileiros como profissionais de outros países em todas as áreas", afirma Stan Braz, diretor-presidente executivo da entidade.

Já a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirma que a saúde de seus funcionários é preocupação central dos bancos que operam no Brasil. Desde 1994, o assunto é tratado pela Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), braço sindical da Febraban, e dirigentes sindicais numa comissão permanente. Em seus esforços para aperfeiçoar as condições de saúde e segurança no trabalho do setor bancário, a federação vem desenvolvendo um Sistema de Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho.

 

Sintomas considerados comuns apontam doenças

Suor em excesso, insônia, falta de concentração, ansiedade e desequilíbrio emocional (como chorar demais) são alguns dos sintomas aparentes em pessoas com quadro de depressão ou estresse. O médico do trabalho do Cerest de Diadema e especialista em Saúde pública Arlindo Silveira afirma que pacientes enquadrados nesses casos podem inclusive desenvolver alcoolismo. "É a forma como pessoas com depressão ou alto grau de estresse encontram para aliviar o que sentem. Muitos passam a utilizar quaisquer tipos de drogas como forma de saída."

Para Silveira, falta às empresas tratar cada profissional de forma específica. "Não podemos generalizar. O que pesa para um, não pesa para outro. As metas abusivas e a agressividade dos novos tempos destroem o ser humano. No ambiente de trabalho não nascem amizades, mas pessoas competitivas, que querem puxar o tapete umas das outras. Está aí a porta de entrada para a depressão", analisa o médico.

Ele conta que pessoas que desenvolvem esses transtornos mentais, muitas vezes, não conseguem nem dormir. "Elas acordam no meio da noite, com pesadelos, ou lembrando o que têm para fazer no dia seguinte. Ou seja, a mente não descansa, daí a exaustão."

O funcionário que desenvolve essas doenças chega a passar mal quando vai ao trabalho, como fortes dores de cabeça, dores na barriga, tonturas, sensação de desmaio. "As questões da mente se refletem no físico, podendo até desencadear problemas no sistema cardiovascular, levando a pessoa a ter um derrame ou enfarte."

 

 




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