Setecidades Titulo Trânsito violento
Trânsito mata cada vez mais

Sobreviventes de acidentes convivem com sequelas
graves e sem esperanças de reaver seus sonhos

Guilherme Russo
Do Diário do Grande ABC
15/11/2009 | 07:23
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Vítimas que sobrevivem a acidentes de trânsito enfrentam sequelas físicas, emocionais e psiquiátricas que podem durar bem mais que os períodos de recuperação imediata depois das ocorrências. Muitas morrem, outras são obrigadas a conviver com problemas por toda nova vida que têm pela frente.

O terceiro domingo de novembro foi escolhido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o Dia Mundial em Memória das Vítimas do Trânsito. O objetivo da data é conscientizar governos sobre consequências dos acidentes.

Para quem foi vítima de acidente de trânsito, nem sempre ter sobrevivido significa ter escapado. O dia 14 de setembro de 2008 está marcado definitivamente na vida de Manoel Eugênio de Oliveira Júnior, 21 anos, ou Juninho, como prefere ser chamado. Quando voltava da paróquia que frequenta no bairro Feital, em Mauá, perto da casa onde mora com a família, o jovem caiu de sua moto. Estava sem capacete. Juninho ficou paralisado do umbigo para baixo.

"Eu tinha ido trabalhar no sábado, voltei e fui para a balada direto, sem jantar. No domingo, também não comi nada. Quase atrasei para a missa. Quando voltava (de moto), me deu uma vertigem", contou o jovem, explicando que pela falta de comida quase desmaiou em cima da moto.

Ele subiu na calçada com a moto, seu corpo tombou para o lado direito, e, enquanto o veículo desacelerava, sua cabeça se arrastou prensada contra um muro. "Minha cabeça ficou presa na viga de um portão. Fiquei em pé logo depois, mas não enxergava nada e caí no chão. Senti minhas pernas formigando. Daí já sabia que ia ficar paraplégico", contou. A visão voltou pouco depois. Mas as vértebras T6 e T7, fraturadas, tiveram que ser substituídas por próteses de titânio.

Patinador, ciclista, aprendiz de capoeira e praticante de ginástica olímpica, o rapaz trabalhava como balconista e ainda dava aulas de forró universitário, samba rock e axé. O sonho profissional de tornar-se empilhador do Porto de Santos também foi por água abaixo.

Hoje, fazendo fisioterapia duas vezes por semana no setor de traumatologia do Hospital Estadual Mario Covas, em Santo André, Juninho não desanima. Continua piadista. "Sou bem brincalhão. Isso não mudou nada", disse com bom humor.

‘A força de vontade é a maior lição', diz vítima

A especialista em trânsito e colunista do Diário Cristina Baddini informa que a metade dos mortos em acidentes foi atropelada. É o caso do mecânico de máquinas industriais Evandro Jesus da Silva, 33 anos, que sobreviveu ao acidente que sofreu em Mauá, em 2004.

"Eu estava na calçada, olhando o motor do meu carro na frente da oficina. Daí veio um Monza e pegou. Bateu em mim e me jogou para cima", contou. Ele sofreu diversas fraturas na perna direita e contraiu osteomielite - uma grave infecção nos ossos que pode fazer com que sua perna seja amputada.

Ao procurar atendimento médico, soube que precisava de um tratamento de oxigenoterapia em câmaras hiperbáricas para se curar. Sem conseguir o tratamento na rede pública, ele apelou à Justiça que, há quase três meses, concedeu uma liminar (decisão provisória) que obriga a Prefeitura de Mauá a pagar pelo tratamento. Mas a administração municipal ainda não fez nada. E não comentou o assunto com a reportagem.

FINAL FELIZ - Depois de ser atropelado em sua moto por um caminhão que teria passado no farol vermelho, o motoboy Tiago Modesto Diniz, 22, sofreu sete fraturas nas pernas. Morador de Santo André, ele sofreu o acidente em um cruzamento da Avenida Firestone, dia 17 de junho de 2005. Quatro cirurgias e um ano e meio de fisioterapia depois, o rapaz se considera completamente recuperado. "A força de vontade é a maior lição", contou. 




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