Setecidades Titulo Família
Irmãs se reencontram após 45 anos

A dona de casa Maria Neusa só conseguiu realizar
seu sonho porque passou mal após fugir de casa

Tiago Dantas
Do Diário do Grande ABC
01/11/2009 | 07:39
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A dona de casa Maria Neusa de Oliveira Siqueira, 50 anos, não via as três irmãs desde 1964. Ela procurou pela família em cidades de São Paulo e do Paraná por mais de 30 anos. E só conseguiu realizar seu sonho no início de setembro porque passou mal após fugir de casa.

"Parece até história de novela", resume Maria. E parece mesmo. Moradora de Santos, no Litoral, a dona de casa resolveu ir para Diadema no dia 6 de agosto pois se lembrava de ter ouvido o nome da cidade durante sua infância. Após o mal-estar, ela foi internada no Hospital Municipal, onde conheceu o soldado José Gilberto Moreira da Silva, que estava ali atendendo uma ocorrência.

O policial militar encontrou um tio de Maria em outro hospital da cidade. Por meio deste homem, a mulher pôde rever a irmã Eva de Oliveira Garcia, 53, e, no dia 5 de setembro, participar de um almoço com mais de 30 parentes - alguns que ela nem conhecia, outros de quem não se lembrava.

Os pais de Eva e Maria tiveram outros 11 filhos. A maioria das crianças nasceu no interior do Paraná, onde o casal trabalhava na lavoura. Por volta de 1960, a família se mudou para Assis, no interior de São Paulo. Três anos depois, os pais se separaram. Os filhos mais velhos voltaram para o Paraná, enquanto os mais novos seguiram com a mãe para Diadema. A mulher morreria meses depois. Jurandir, um dos irmãos mais velhos, levou Maria, então com 5 anos, para Unaí, também no Paraná.

Eva casou e se mudou para São Bernardo. Aos 29 anos, ficou viúva e criou dois filhos sozinha. "Foi tudo muito difícil para mim", conta. "Já tinha perdido a esperança de encontrar (a irmã Maria). Minha filha queria procurar a família na internet, mas falei para esperar."

Maria foi criada por Jurandir até os 17 anos, quando saiu de casa e, sozinha, foi para São Paulo. Após trabalhar como empregada doméstica e babá, mudou-se para Santos. Lá conheceu o marido, Edson dos Santos, 46, com quem se casou e teve dois filhos. Em 6 de agosto, a dona de casa se lembrou de Diadema e pegou o ônibus para lá. Reencontrar a família após tanto tempo, para Maria, não foi acaso nem sorte, foi "providência divina."

Policial recebe placa por ajudar Maria
Por ter ajudado a dona de casa Maria Neusa de Oliveira a reencontrar a irmã Eva e o resto da família, o soldado José Gilberto Moreira da Silva foi condecorado com um diploma de reconhecimento.

A homenagem foi entregue por Maria durante cerimônia no 24º Batalhão, em Diadema, dia 22, acompanhada por autoridades da Polícia Militar. A dona de casa chorou ao abraçar o policial. "É o meu anjo da guarda", diz, entre soluços.

Na manhã do dia 6 de agosto, Moreira estava a trabalho no Hospital Municipal, acompanhando uma vítima de acidente de trânsito. Ele conta que se sensibilizou ao ver Maria caminhar com dificuldade até a entrada.

"Vi que ela ia cair e pedi para o enfermeiro trazer uma cadeira de rodas. Tratei como se a ocorrência fosse minha e ela fosse minha mãe", afirma. Do seu celular, Moreira avisou o marido de Maria sobre o ocorrido.

Ao saber do motivo da viagem da dona de casa a Diadema, resolveu ajudar. "Fui em outros hospitais procurar pessoas de quem ela se lembrava o nome. Em um deles, fui abordado por uma senhora que disse que seu tio era uma dessas pessoas", conta.

A mulher era Verônica Parra, 62 anos, que fez contato com Maria e a ajudou a encontrar a irmã Eva. As duas demoraram a se reconhecer quando se viram pela primeira vez. "Lembrava dela de criança. Era bem magrinha e tinha os cabelos cor de gema", conta Eva. Já Maria só recordava da irmã por causa da música Pequena Eva.

"Eu a abracei e comecei a chorar. Não tinha mais dúvidas que era a minha irmã", diz Eva. "Quando encontrei com ela, um filme veio na minha cabeça e comecei a lembrar coisas da nossa infância e da nossa mãe", afirma Maria, que chegou a ir ao Rio de Janeiro encontrar outra irmã, Angela.




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