A maior parte das crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual no Brasil passa por essa situação com a conivência da família. Esse é um dos resultados apresentados, ontem, pela ONG Childhood Brasil na pesquisa que ouviu 66 meninas e três meninos envolvidos em exploração sexual em oito Estados brasileiros.

Dos 69 entrevistados, 88% disseram morar com a família, mesmo tendo relato de abuso intrafamiliar ou envolvimento dos pais na exploração. Pais e mães aparecem em 4,6% das respostas sobre o modo como souberam que poderiam ganhar algo em troca de sexo.

No geral, os pesquisadores classificaram as famílias das vítimas como "abusadoras" e "coniventes", mas apontaram a ausência de políticas para esse público. "Os trabalhos estão focados mais nas vítimas, e o que temos hoje ainda é frágil. A exploração sexual tornou-se um mercado, e o enfrentamento tem de ser algo mais amplo", explicou o pesquisador Elder Cerqueira Santos, da Universidade Federal de Sergipe.

Segundo o estudo, o consumo é o que impulsiona a aceitação da exploração: 65% dos entrevistados disseram comprar objetos como roupas, celulares e perfumes com o dinheiro da prática.

Gabriela (nome fictício), 13 anos, atendida pela Fundação Criança, em São Bernardo, se envolveu com drogas, passou a traficar, mas nega que tenha feito "programas." "Minhas amigas, sim, faziam. Cobravam R$ 20 para entrar nos carros com homens", afirma.