Esportes Titulo Mercado fraco
Queda do dólar dificulta exportações

Indústrias sentem efeito de mudanças cambiais e demanda retraída em importantes mercados consumidores

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
04/06/2009 | 07:00
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A queda do dólar, que se intensificou nos últimos 30 dias, trouxe mais um complicador para as empresas exportadoras do Grande ABC, que já enfrentam dificuldades em vender ao Exterior devido à retração na demanda em importantes mercados consumidores neste ano.

A avaliação de executivos e representantes do setor industrial é que a situação, que já não era favorável, deverá se deteriorar ainda mais. A moeda americana recentemente voltou a ser cotada abaixo dos R$ 2. Logo após o estouro da crise global, havia superado os R$ 2,40, melhorando a rentabilidade do produto nacional lá fora - com a valorização do item em dólar, o fabricante recebia mais em reais.

"A R$ 2,30 conseguíamos cobrir os custos", afirmou Anuar Dequech Júnior, diretor da Corona Brasil, fabricante de cadinhos (um tipo de recipiente) para fundição sediada em Diadema. Ele afirmou que, atualmente, com a moeda na faixa de R$ 1,97, tem sofrido prejuízo nos negócios a outros países. "Mantenho encomendas para não perder clientes", acrescentou. A empresa há três anos obtinha 50% de seu faturamento com vendas ao Exterior. Hoje, esse percentual caiu para 15%.

Outro executivo, Donizete Duarte da Silva, sócio da produtora de tecnologia para processos industriais CSI, de Diadema, se mostrava mais animado no início do ano. "Parecia que teríamos um futuro melhor, mas as margens (de lucro) começaram a se depreciar de novo", citou.

No caso da B.Grob, fabricante de máquinas para a produção de veículos instalada em São Bernardo, a nova tendência de queda do dólar ainda não afetou diretamente mas deve prejudicar o fechamento de novos negócios. A empresa tem vários contratos para entregar maquinários em 12 meses firmados no ano passado. Para estes, realizou operações de hedge (proteção) cambial - que garantem a rentabilidade da operação. "A cotação do câmbio terá impacto para os novos contratos, mas não fomos contatados ainda para negociações comerciais", afirmou o vice-presidente Christian Muller.

PERSPECTIVAS - O diretor titular da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), William Pesinato, considerou que há motivo para preocupação. "A tendência é perdermos mais mercados", afirmou. No quadrimestre, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, já houve retração de 39% nas exportações no Grande ABC frente ao mesmo período de 2008.

Avaliação semelhante tem o professor de Economia da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Gomes de Almeida. "É um castigo em dose dupla, os mercados externos estão fracos e, agora, o dólar também não ajuda".

Para importadores, mercado fraco é entrave para crescimento

Se para os exportadores, o dólar em queda dificulta ainda mais as vendas ao Exterior, o recente movimento do câmbio ajuda os importadores a desovarem seus estoques com melhores ofertas aos clientes.

No entanto, há fatores que anulam, pelo menos em parte, a vantagem das empresas que adquirem itens lá fora para comercializar no País. "A economia ainda se ressente da falta de crédito", afirmou o diretor da Abimei (Associação Brasileira de Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais), Daniel Dias de Carvalho.

A Abimei projeta que no primeiro trimestre, as vendas dos importadores de máquinas estão de 50% a 60% inferiores às do mesmo período do ano passado.

O dirigente acrescentou que as decisões de investimento das empresas brasileiras não ocorrem de uma hora para outra, por isso, o ideal seria que houvesse estabilidade. "Sem isso, fica difícil para o cliente decidir pela compra (de maquinários)", afirmou.

O diretor da Carbono Química, de São Bernardo, Roberto Gianinni, também vê na forte oscilação do câmbio um obstáculo para quem traz produtos do Exterior. "O problema é a variação, se está a R$ 2,30 e cai de repente para R$ 1,90, não sei a que preço vou vender, não consigo fechar meu custo", explicou.




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