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Estado mantém publicação polêmica com alunos da 6ª série

Secretaria de Educação diz que livro que seria inadequado a crianças passa por análise técnica

Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
29/05/2009 | 07:44
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A Secretaria de Educação do Estado afirmou ontem que não recolherá o livro Memórias Inventadas, de Manoel Barros, que foi distribuído para alunos da 6ª série do Ensino Fundamental. De acordo com o governo, a publicação está sendo analisada por uma comissão técnica que decidirá se ela é ou não adequada para alunos com idade entre 11 e 12 anos.

O material - uma reunião de 42 contos - foi considerado impróprio por especialistas, pais e professores da rede por conter textos eróticos e palavrões. "É um livro que propõe uma discussão. Não se pode jogar nas mãos de um aluno com 11 anos e deixar que ele interprete sozinho. As mães ficaram escandalizadas", afirmou uma professora da rede estadual que não quis se identificar.

Além de Memórias Inventadas, ontem o governo teve de explicar sobre outro livro entregue para crianças de 9 anos e matriculadas na 3ª série. A obra Poesia do Dia - Poetas de Hoje para Leitores de Agora possui frases como "Nunca ame ninguém. Estupre" e "Odeie. Assim, por esporte", que fazem parte do poema Manual de Autoajuda para Supervilões. A denúncia resultou no recolhimento imediato de mais de 1.000 exemplares.

A secretaria informou que a seleção é feita por uma equipe técnica, mas se recusou a informar o nome e a formação dessas pessoas. Disse ainda que abriu sindicância para apurar as falhas nas aquisições dos livros e que os responsáveis serão punidos.O Diário solicitou uma entrevista com o secretário de Educação Paulo Renato Souza, mas não foi atendido.

Despreparo - Para especialistas, a repetição de erros na seleção dos livros distribuídos pela Secretaria de Educação - só neste ano foram quatro - é sinônimo de despreparo. "Há incompetência administrativa e ignorância crassa de educação. O governo está tratando educação como um negócio qualquer. Para trabalhar nesta área é preciso entender do assunto e saber como as crianças pensam", afirmou o professor da Faculdade de Educação da USP, Victor Henrique Paro.

Para a coordenadora pedagógica dos ensinos Infantil e Fundamental do Colégio Singular, Andree de Almeida, falta uma equipe especializada para tratar o assunto. "É uma verdadeira palhaçada. Infelizmente a escolha dos livros não passa por crivo de qualidade nenhum. Se tivessem o mínimo de bom senso na hora da compra, isso não aconteceria."

Os dois especialistas acreditam que o problema poderia ser evitado se além da composição da equipe técnica por educadores, houvesse a participação dos professores ou do sindicato. "As pessoas que dão aula têm de participar do processo. Se acontecesse essa conversa, os livros não teriam sido recebidos pelas crianças e retirados apenas após as denúncias", afirmou Paro.

Ontem, durante discurso de lançamento do Plano Nacional de Formação de Professores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou as falhas cometidas pelo governo de São Paulo. "Vocês nunca mais vão ver um mapa com dois Paraguais ou um livro de formação sexual como se tentou fazer."




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