Setecidades Titulo Instituição
Aos 30 anos, Avape
corre risco de fechar

Entidade que oferece tratamento e formação a
pessoas com deficiência enfrenta grave crise

Por Thaís Moraes
para o Diário
17/03/2013 | 07:00
Compartilhar notícia


Maria Tereza Bittencourt Rosa tem 24 anos e, apesar de nunca ter trabalhado, há um ano tomou a decisão: procurou a Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência) a fim de encontrar emprego. "Desde que comecei as atividades aqui, converso mais com as pessoas, a convivência melhorou e estou aprendendo uma profissão. Quero arrumar emprego, ter minha independência e ajudar minha mãe", contou a jovem, diagnosticada com deficit intelectual leve.

Histórias como a de Maria Tereza podem não se repetir mais. Com 30 anos de atividades e 30 unidades espalhadas pelo Brasil, sendo 12 localizadas no Estado de São Paulo - seis no Grande ABC -, a Avape enfrenta grave crise financeira que põe em risco 4.200 postos de empregos (desses, 1.500 pessoas com deficiência) e a continuidade dos 180 mil atendimentos realizados por mês.

O fundador da instituição, Marcos Antônio Gonçalves, explica que, desde 2008, as crises financeiras globais vêm contribuindo para a perda de apoios. "A primeira coisa que as empresas fazem quando isso acontece é cortar patrocínio nas áreas sociais, médicas e educacionais", lamenta.

Segundo Gonçalves, cinco unidades foram fechadas desde 2011, e a construção de novo espaço em Mauá também fica inviabilizada. "A organização sobrevive por conta de shows, eventos, contratos e associados. Mas está muito difícil conseguir recursos. Anualmente são necessários R$ 35 milhões para funcionarmos", explica.

Com diminuição das parcerias, falta de pagamentos e quedas na contratação de deficientes por parte das empresas, a Avape teve de recorrer a empréstimos junto aos bancos. Como não conseguiram honrar os compromissos, os juros fizeram os valores se multiplicarem rapidamente. Gonçalves preferiu não revelar os números, mas a dívida está na casa dos milhões.

O advogado Antonio Carlos Aguiar, que presta serviços à Avape, diz que a entidade tentará a recuperação judicial (antiga concordata) para evitar a falência. "É um processo destinado a empresas. Não sabemos se pode ser aplicado e entidades filatrópicas. Vamos fazer de tudo para renegociar as dívidas e os prazos", sustenta.

Gonçalvez afirma que se não fosse a busca incansável por recursos, a entidade já teria fechado. "Só existimos em função de parceiros. Por isso, pedimos para que empresas e voluntários formem parcerias", explica.

Interessados em fazer doações devem entrar em contato pelo telefone (11) 4993-9242 ou acessar www.avape.org.br.

 

 

Assistência é estendida a jovens em vulnerabilidade

 

A Avape, além de lutar pela inclusão de pessoas com deficiência, atua também no atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade social em diversas áreas.

As unidades de reabilitação e capacitação profissional preparam pessoas com limitações físicas e intelectuais e jovens em situação social desfavorecida; já as de convivência são responsáveis por melhorar a sociabilização, com o objetivo de prepará-las para o mercado de trabalho.

Existem ainda as residências assistidas, espaços que servem de moradia para pessoas com deficiência que não possuem família nem cuidadores. As unidades de reabilitação clínica oferecem serviços como atendimento em terapia ocupacional, psicopedagogia, neurologia, fisiatria, psicologia, psiquiatria, fonoaudiologia e fisioterapia.

Para se ter uma ideia da extensão do trabalho, em 2012, as unidades de São Bernardo realizaram 82.089 atendimentos na clínica e 84.288 atendimentos no centro de convivência. No mesmo período, foram capacitadas 15.291 pessoas nas unidades de todo o Estado de São Paulo.

A cadeirante Daiane Moura, 18 anos, frequenta o centro de capacitação de Santo André desde 2011. "Aqui aprendi a ser mais independente. Já participei das oficinas de arte e produção e espero trabalhar logo. Se não fosse a Avape estaria em casa sem fazer nada", comenta.

 

Fundador criou entidade para ajudar irmão com deficiência

 

A entidade surgiu a partir da experiência familiar vivida pelo fundador da Avape, Marcos Antônio Gonçalves. Um dos seus oito irmãos sofreu com a falta de oxigênio durante o parto e desenvolveu deficiência mental.

"Aos 13 anos disse ao meu irmão que gostaria de fundar uma entidade para cuidar do João Batista", recorda.

Em 1978, quando Gonçalves foi trabalhar na Volkswagen, em São Bernardo, conheceu grupo de pais de filhos com deficiência que fazia reuniões com a ajuda da assistência social da empresa.

"A gente se reunia na hora do almoço e aos fins de semana. No começo não existia espaço físico nem atendimento algum. Mas quando anunciamos a criação da associação, apareceram cerca 400 pessoas que precisavam de ajuda."

No início de 1982, o grupo criou bancas de jornal e cantinas dentro da empresa, além de promover almoços e jantares para ajudar na captação de recursos.

Foi assim que conseguiram montar o primeiro centro de reabilitação, em 1984. "O projeto começou no Grande ABC e se espalhou pelo Brasil. Hoje, o País tem 45 milhões de pessoas com deficiência. Ao contrário de outros grupos discriminados, como mulheres, negros e índios, essas pessoas ainda não chegaram nem à margem da sociedade", diz Gonçalves.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;