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Costa-Gravas reflete sobre a crítica
18/02/2009 | 07:00
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Costa-Gavras confirma - em abril, ele vem ao Brasil no quadro do evento França-Brasil, para mostrar no Recife seu filme Eden à l'Ouest, que encerrou no sábado a Berlinale de 2009. Embora o Festival do Recife continue sendo do cinema brasileiro, neste ano presta homenagem ao diretor greco-francês que virou referência, nos anos 1960 a 1980, por seus filmes políticos. Os melhores e mais famosos o colocaram na mira da censura do regime militar - Z, A Confissão, Estado de Sítio. Costa será homenageado com uma pequena retrospectiva de seus clássicos, mas ele avisa - "Está difícil conseguir uma cópia em bom estado de Z."

 Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 1969 - há 40 anos -, Z reconstitui o assassinato do deputado Lambrakis pela ditadura dos coronéis gregos. O filme passa-se na Grécia, mas a produção é argelina e, como tal, foi recompensada pela Academia de Hollywood.

 Costa-Gavras não é dono dos direitos de Z. Por isso, está havendo essa dificuldade que precisa ser resolvida urgentemente, para que sua passagem pelo País permita a uma nova geração de espectadores conhecer um de seus clássicos.

 No sábado, após a exibição de Eden à l'Ouest para a imprensa, o diretor passou parte da tarde dando entrevistas. Estava feliz da vida. Éden à l'Ouest estreou na semana passada na França, país co-produtor majoritário (com a Grécia, a Alemanha e a Itália). O público está prestigiando o lançamento mais do que os críticos. Costa nunca foi uma unanimidade - há 30 e tantos anos, os críticos acusavam seu cinema político de ser reformista, não revolucionário.

 O formato de thriller, adotado pelo cineasta, seria alienante e ele, ao atacar ditaduras de esquerda e direita, criticaria o abuso de poder, mas não o próprio poder. A desconfiança acompanha o sentimento da maioria da crítica pelo cinema de Costa. No ano passado, como presidente do júri da Berlinale, ele premiou o filme brasileiro Tropa de Elite, de José Padilha. Muitos críticos europeus, de revistas prestigiadas como Cahiers du Cinéma, consideraram o Urso de Ouro de 2008 ‘fascista'.

 Costa-Gavras reflete: "Ser jurado é sempre desconfortável, porque a gente fica na mira da crítica, do público, dos produtores e dos colegas cineastas. Os críticos que desaprovaram o Urso para Tropa de Elite fizeram sua avaliação puramente estética, sem prestar atenção no contexto. Padilha fez um filme muito forte. O que ele diz é que o governo democrático brasileiro atribuiu à polícia a tarefa de resolver, de qualquer maneira, o problema da criminalidade. A polícia de Tropa de Elite age acima e à margem da lei. Achamos - nós, o júri - que era importante colocar o assunto em discussão. Nosso prêmio do júri também foi para um documentário - Standard Operating Procedure, De Errol Morris -, no qual o governo dos EUA também atribui ao exército, e não à Justiça, o combate ao terrorismo político. Nossa decisão poderia ter sido contestada, mas pelo menos seria interessante que fosse compreendida em sua coerência e profundidade."

 O mal-entendido continua com Eden à l'Ouest. O tema aqui é o imigrante, por meio da odisseia desse homem (Riccardo Scamarcio) que atravessa o Mediterrâneo em busca do paraíso, representado por Paris, a Cidade Luz.

 Costa quis fazer um filme leve sobre um tema pesado. "Meu filme é uma fábula", ele diz. Sendo o relato o de uma odisseia, o herói não é Ulisses, mas o Cândido, de Voltaire. Dentro de dois meses o próprio diretor vem mostrar Éden à l'Ouest e você poderá ver se o formato de fábula realmente convém à sua tragédia contemporânea.




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