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Estado investe na inteligência da polícia
Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
21/12/2008 | 07:14
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A prioridade do governo estadual é investir no setor de inteligência policial, principalmente na polícia técnico-científica. O secretário de Estado da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, diz que esta será a marca de sua gestão.

Na última quinta-feira, o secretário esteve em Santo André para inaugurar o novo IC (Instituto de Criminalística), que atende também Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O instituto fica na Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, no Jardim Vila Rica. O terreno tem 944 metros de área construída e as obras custaram R$ 250 mil, com recursos vindos do cofre estadual.

O secretário concedeu entrevista exclusiva ao Diário, acompanhado do diretor da Polícia Técnico-Científica do Estado, Celso Perioli.

Além do investimento em inteligência, Marzagão falou sobre a criação de dois novos batalhões da PM na região em 2009, em São Bernardo e Mauá, que não será acompanhada por aumento do efetivo policial. Para o secretário, o objetivo é distribuir batalhões formados por no máximo 700 homens e fixá-los em áreas menores, dentro da política de ‘proximidade' com as comunidades.

Além destes assuntos, na entrevista a seguir Marzagão comenta sobre o combate aos homicídios em Santo André, faz um balanço da sua gestão de quase dois anos, fala sobre o conflito entre as polícias Civil e Militar e comenta os procedimentos adotados no caso Eloa.

DIÁRIO - Qual o balanço que o senhor faz da sua gestão à frente da secretaria?
RONALDO MARZAGÃO - Em termos gerais a criminalidade foi controlada com inteligência, que não se restringe apenas à compra de equipamentos de ponta, mas também a um aprofundamento no trabalho de campo, no trabalho preventivo e ostensivo. Buscamos assegurar a segurança e respeitar os direitos básicos dos cidadãos. Precisa haver equilíbrio entre eles. O princípio da qualidade sobre a quantidade é importante. Hoje temos uma das mais populosas polícias do mundo, perto dos 131 mil integrantes.

DIÁRIO - Em outubro presenciamos cenas dantescas de conflito entre as polícias Civil e Militar. Isso não arranhou a imagem da polícia?
MARZAGÃO - Não vejo dessa maneira. Acho que foi um grupo de radicais ligado a movimentos político-partidários. Isso não representa a realidade da Polícia Civil. Esse é meu modo de entender.

DIÁRIO - Hoje a polícia está em paz?
MARZAGÃO - A polícia é legalista. Eu não tenho polícia contra polícia. Só grupos que brigaram entre si.

DIÁRIO - Mas uma integração entre as polícias Civil e Militar fica muito difícil com o que ocorreu?
MARZAGÃO - Isso é um episódio superado. Antes de pensar em unificação, o Estado brasileiro tem de saber o modelo de percepção penal que ele quer. Porque a polícia existe como instrumento da percepção penal. Hoje, além das polícias, temos as GCMs (Guardas Civis Municipais) e o MP (Ministério Público), que também podem investigar. O STF (Supremo Tribunal Federal) ainda não decidiu exatamente os limites de cada um.

DIÁRIO - Qual foi a grande conquista do senhor nesta gestão?
MARZAGÃO - Eu considero a queda dos homicídios. O homicídio é o crime maior contra a vida e incide, em sua maioria, em comunidades mais carentes. Se considerarmos o decréscimo entre janeiro e setembro, atingimos 10,3 delitos por 100 mil habitantes em São Paulo. Isso significa que 17 mil pessoas poderiam morrer se não houvesse uma política adequada de segurança.

DIÁRIO - Como combater os homicídios?
MARZAGÃO - Hoje trabalhamos em cima do mapeamento do crime, com base no RDO (Registro Digital de Ocorrências), nos lugares com maior incidência de casos. Temos condições de saber os setores emblemáticos e poder fazer um trabalho preventivo e ostensivo. Em algumas áreas, pode haver homicídios por motivos fúteis porque as pessoas estão armadas. Então trabalhamos muito com a operação desarmamento. Visa concentrar dia, hora e locais para desarmar as pessoas. A divisão de homicídios criou um serviço chamado GEAcrim (Grupo Especializado em Assessoramento do Local do Crime), tendo como princípio que as 48 horas depois do crime são fundamentais para a investigação. Então são deslocados policiais que já conhecem bem a área específica.

DIÁRIO - Em Santo André, entre janeiro e setembro deste ano, os assassinatos cresceram 58%, ante igual período de 2007. O que será feito para diminuir esse índice?
MARZAGÃO - Se levarmos em conta a taxa por 100 mil habitantes, o índice fica em 11,99, número muito bom. Estão sendo feitas investigações. Às vezes, temos picos sazonais. Diferentemente do que foi em 2007, em 2008 tivemos acréscimo. Estamos trabalhando para que voltemos ao patamares anteriores.

DIÁRIO - Mas o que está sendo feito especificamente para Santo André?
MARZAGÃO - A vinda do pessoal da divisão de chacinas do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), para ajudar. Como o homicídio na Capital caiu vertiginosamente, estamos aproveitando o potencial do DHPP. Na Capital, já estão investigando até tentativa de homicídio de origem desconhecida. Estamos também liberando o pessoal para dar suporte aos 38 municípios da Região Metropolitana.

DIÁRIO - Os últimos investimentos na área de segurança mostram que temos uma polícia cada vez mais científica?
MARZAGÃO - É muito importante a colheita de prova boa e lícita, caso contrário não terá resultado judicial. Prova boa e lícita é fundamental para um trabalho como um todo. É importante trabalhar com pequenos vestígios e temos instrumentos para analisá-los. Isso é o que faz a Polícia Científica de São Paulo receber consultas de todo o País.
CELSO PERIOLI - A Polícia Científica do Estado é a maior do Brasil. Em 1998 ganhou autonomia e teve maior liberdade orçamentária. Começamos com um orçamento de R$ 2,5 milhões e hoje temos R$ 10 milhões para gerenciar as equipes em 102 unidades. Já construímos 15 unidades aglutinando o IC e o IML (Instituto Médico-Legal) para facilitar o acesso das pessoas e a integração do perito com o legista para trabalharem juntos. No ano que vem, Santo André terá um novo IML, em terreno cedido pela Prefeitura.

DIÁRIO - A Polícia Militar do Grande ABC está passando por uma reestruturação, com a criação de dois novos batalhões para o ano que vem. Por que não haverá aumento do efetivo?
MARZAGÃO - A concepção é fazer com que os batalhões sejam menores, pois áreas maiores serão absorvidas em vez de aumentar o efetivo. A idéia é diminuir para uma média de 700 homens por batalhão. A proposta é fazer cada vez mais um policiamento comunitário, por proximidade. Por isso os policiais precisam se fixar em áreas menores.

DIÁRIO - Como o senhor avalia a atuação da polícia no desfecho do caso Eloa, que depois de 100 horas de cárcere privado terminou morta pelo ex-namorado. O senhor considera que os procedimentos foram corretos?
MARZAGÃO - A questão do procedimento está sendo avaliada pela Justiça Militar. Do ponto de vista do inquérito policial, o MP entendeu que não houve qualquer equívoco no desfecho. Os procedimentos de trabalho estão sendo avaliado a cada dia. Quero lembrar que o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), ao longo de sua história, salvou mais de 3.000 vidas.

DIÁRIO - E os equipamentos do Gate, quando serão melhorados? No caso Eloa, copos foram usados para fazer escutas entre paredes, quando já existem equipamentos eletrônicos adequados.
MARZAGÃO - Sim, como poderia ter sido utilizado um estetoscópio. Não se pode ficar também aquela imagem do CSI (seriado americano sobre investigação policial). Existem equipamentos sim, nós compramos equipamentos, que deveriam ter chegado em 8 de dezembro. Mas também não são coisas mirabolantes que podem ser usadas em toda e qualquer situação. Depende muito da circunstância. Então há uma idéia de que algumas ações mirabolantes resolveriam. Alguns equipamentos podem ajudar, mas não se pode ter essa visão que alguns especialistas externaram. Cada um no Brasil, além de ser técnico de futebol, está virando especialista em segurança. Tudo precisa ser visto dentro do contexto em que os fatos ocorreram.




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