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Sucesso nas finanças, azar no amor
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
20/04/2008 | 07:28
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A decisão de deixar o mundo doméstico e ganhar o mercado de trabalho tem levado a mulher a passar por alguns constrangimentos na vida a dois. Se por um lado, a igualdade é positiva, mostrando que os potenciais femininos vão além de cuidar da casa e dos filhos, por outro, tem causado conflitos entre os casais.

De acordo com pesquisa divulgada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), o aumento da renda feminina pode prejudicar o casamento, sendo um dos principais motivos para os pedidos de divórcio, principalmente entre casais de renda baixa.

Segundo Maurício Canêdo, um dos elaboradores do estudo, as intrigas são mais freqüentes quando os homens têm renda inferior a R$ 700. A pesquisa abrangeu 21 Estados e usa dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes ao período de 1992 a 2004.

Por trás da questão de a mulher ganhar mais que o homem, há traços de comportamento que revelam uma disputa inconsciente de poder.

De acordo com a doutoranda em Psicologia pela USP (Universidade de São Paulo) e professora da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), em São Bernardo, Nanci Fonseca Gomes, famílias de baixa renda têm mais arraigado o conceito de que o homem deve ser o provedor do lar. Então, quando a mulher resolve trabalhar e passa a ganhar mais do que ele, coloca em xeque essa visão tradicional, exigindo uma reformulação dos papéis. Essa redefinição chega a gerar crises.

Desde quando sua filha nasceu, há três anos, a empregada doméstica Rejane dos Santos, 31 anos, vive em conflito com seu marido por ganhar mais que ele. Ela recebe R$ 800 e ele não aceita a sua situação de independência financeira.

“Estou com ele há dez anos. A casa em que moramos foi ele quem comprou. Porém, ajudei a montá-la. Quando quer me menosprezar, ele me ataca dizendo que não tenho nada. Mas tenho sim. O meu salário é a maneira que tenho de garantir minha vida pessoal, independência e conforto”, explicou Rejane.

Segundo a moradora de Diadema, ajudar algum familiar é motivo para que seu marido a ataque com humilhações. “No início do nosso casamento, tentei várias vezes conversar com ele para não misturar as coisas. Sugeri procurarmos um psicólogo, mas ele disse que isso era coisa de louco. Hoje, depois de tantas desavenças, já penso em me separar.”

A psicóloga ressalta que a relação dinheiro/poder influencia a submissão de um sobre o outro. “O dinheiro é um medidor social. Ele dá status à pessoa por ela ter o poder de satisfazer necessidades próprias. Sendo assim, o dinheiro passa a ser sinônimo de poder. Logo, podemos supor que nos casamentos onde o diálogo é restrito, nos quais um se submete ao outro, e em geral, a mulher se submete ao homem, quando ela passa a ganhar mais que ele, isso pode gerar um desequilíbrio.”

Compreensão - Para a psicóloga Marília Vizotto, de São Bernardo, o fato de a mulher ganhar mais que o homem só vai alterar a relação, a ponto de chegar a um divórcio, se o casal deixar que esse fator influencie em sua convivência. Caso contrário, não há motivo para conflitos, independentemente da classe social. “Se o fato de o homem ganhar menos estiver atrapalhando a dinâmica do casamento, com certeza a mulher também é culpada.”



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