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Manoel Carlos fala sobre a sua Maysa
30/09/2008 | 07:18
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O autor Manoel Carlos confessa que engoliu seco quando o diretor Jayme Monjardim lhe pediu que escrevesse uma minissérie sobre a vida de sua mãe, a cantora Maysa (1936-1977). É comum que biografias emperrem nas discordâncias entre autor e herdeiros, sobre o que deve ou não ser mostrado. Não foi o caso. Monjardim, único filho da diva, não fez grandes restrições e, ao contrário, criou toda a facilidade para que Maneco explorasse a grande personagem que foi sua mãe, em todos seus esplendores, amores rasgados, escândalos e fossas. Maysa - Uma Mulher à Frente de Seu Tempo tem nove capítulos, agora em fase de produção, e estréia em janeiro na Globo. Novata na TV, a atriz Larissa Maciel surge no set incrivelmente parecida com a mãe do diretor, somando sua aparência física a um minucioso estudo de seis meses dos trejeitos da personagem. "Quando a vi pela primeira vez, confesso que não a achei parecida com a Maysa", revela Maneco. "Mas com a caracterização e a expressão corporal, ela ficou idêntica! Ela segura o cigarro e o copo de uísque igualzinho à Maysa."

Logo depois de concluir o roteiro de Maysa, Manoel Carlos falou sobre o trabalho sentado à mesa marroquina que mantém cativa na adega do restaurante Garcia & Rodrigues, no Leblon. "Eu quis comprar a mesa, e o dono me deu de presente sob a condição de que eu não a tirasse do restaurante. Desde então, marco minhas reuniões aqui", comentou o autor, pouco antes de analisar o mito que agora é seu personagem.

Maneco confirma também que recebeu apenas dois pedidos de Monjardim durante o processo de roteirização. Que a minissérie não terminasse com o enterro de sua mãe. E que ele, como personagem, tivesse a chance de dizer a ela o quanto ficou magoado quando ela foi visitá-lo no internato e se negou a beijá-lo, porque ele tinha febre. O autor atendeu prontamente o segundo pedido, e criou uma cena em que Jayme tem a oportunidade de dizer à mãe que carregava certa mágoa desde criança. Depois ela explica que precisava preservar a voz. Das cenas do enterro, entretanto, o autor não quer abrir mão. "Pretendo convencer o Jayme até o fim das gravações", diz Maneco. Leia a seguir trechos da entrevista.

O senhor chegou a conhecer a Maysa pessoalmente?
MANOEL CARLOS - Sim, mas não fomos amigos. Eu a conheci nos bastidores da Record, quando ela tinha o programa dela. Depois, quando eu dirigia O Fino da Bossa, ela participou de um dos programas. Mais tarde, eu cheguei a ir à casa dela, com colegas.

Como o senhor lidou no texto com os escândalos e a relação dela com as drogas?
MANOEL CARLOS - Não existe um artista brasileiro cercado de tantas lendas como a Maysa, talvez por causa de sua vida conturbada e tão pública. Ela estava muitas vezes no jornal como artista e cantora, e outras vezes por tentativas de suicídio, bebedeiras, brigas. Mas ela não se drogava como as pessoas pensam - cocaína, ópio, nada disso. A droga da Maysa era remédio - para emagrecer, para dormir, para acordar - tomado com uísque e vodca.

Era uma coisa pela vaidade, como a Maria Callas?
MANOEL CARLOS - Muito, boa lembrança. Ela tinha uma tendência para engordar muito grande. Ela poderia ser gorda como a Lenny Anderson, mas ela era vaidosa. E privilegiava muito os romances, estava sempre envolvida com alguém. Ela era cantora de boate, onde todo mundo bebia e fumava desbragadamente. A foto mais comum da Maysa é com um copo na mão e um cigarro entre os dedos.

A época da saúde acabou com esse tipo de voz, regada a uísque e cigarro. Só temos a Amy Winehouse.
MANOEL CARLOS - Você lembrou bem, talvez ela seja correspondente nos dias de hoje às cantoras como a Maysa. Não sei como é que o público de hoje vai receber essa história e essa voz. Quando eu fiz (a minissérie) Presença de Anita, pus Ne Me Quitte Pas cantada por ela na trilha. As pessoas ficaram deslumbradas com a interpretação. Entre as lendas existentes, há a de que quando ela cantou em Paris, no Olympia, o Jacques Brel estava na platéia e disse que foi a melhor interpretação que ele já tinha visto da música dele.

Sobre a Maysa ter reinado nas revistas de celebridades. Por que será que ela não passou à posteridade como uma Elis Regina, a ponto de quase não tocar mais no rádio?
MANOEL CARLOS - Talvez isso tenha acontecido porque ela entrou nessa mudança do samba-canção para a bossa nova. Ela tinha uma voz inconfundível, mas com um repertório que ficou muito datado.




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