Economia Titulo Crise financeira
Brasil espera solução para sair da 'gangorra à beira do abismo'
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
28/09/2008 | 07:20
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A expectativa e, depois, o impasse em relação ao pacote de US$ 700 bilhões de ajuda do Tesouro dos EUA às instituições financeiras norte-americanas, anunciado pelo governo George W.Bush - e que ainda necessita receber a aprovação do Congresso daquele país -, deu a tônica ao comportamento dos mercados financeiros do mundo inteiro na semana passada. Agora, o mundo só espera uma decisão: que o pacote seja aprovado nesta semana e os mercados se recuperem.

A situação é dramática para investidores e instituições dos EUA, o que explica o movimento de taquicardia das Bolsas. Foram algumas altas sucedidas por baixas expressivas - na sexta-feira anterior (dia 19), a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) subiu 9% com a notícia do plano anticrise. Na segunda-feira e na terça-feira passadas, no entanto, o Ibovespa caiu, respectivamente 2,86% e 3,78%, por causa das incertezas se as medidas seriam suficientes para conter as turbulências.

Ainda havia receios por conta das dificuldades impostas para a aprovação desse plano de socorro aos bancos dos EUA. A decisão depende de um acordo de Republicanos e Democratas às vésperas das eleições naquele país.

Com isso, a Bolsa paulista, que tem acompanhado o ritmo de oscilações dos mercados americanos, acumulou queda de 8,8% na semana passada. "É uma gangorra à beira do abismo", afirma o professor de Economia dos MBAs da FGV-Strong, de Santo André, Robson Gonçalves, referindo-se à crise que teve origem no setor imobiliário americano.

O importante seria a aprovação dessa ajuda aos bancos para evitar um "mal maior", que seria uma recessão mundial profunda, segundo os analistas. O programa é comparável ao brasileiro Proer, que impediu a derrocada de bancos nacionais e ajudou a manter a estabilidade da economia do País há 15 anos, segundo o ex-diretor do Banco Central e presidente da Anfac (Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil) Luiz Lemos Leite.

Quebradeira - Junto com as incertezas, na última sexta-feira, mais um banco quebrou, desta vez, o Washington Mutual, que somava perdas de US$ 19 bilhões.

"É o maior processo de quebradeira de bancos da história, a única vez que tivemos algo parecido foi na década de 1930", afirmou o professor Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Fundação Santo André. Balistiero observa que o declínio da Bovespa mostra que o Brasil tem sido contaminado. De 74 mil pontos, o Ibovespa caiu para a faixa dos 50 mil, uma retração de mais de 30%.

Entenda como começou a crise financeira nos EUA

Nos Estados Unidos, é muito comum as pessoas trocarem de imóveis como trocam de automóveis. Com isso, a oferta de empréstimos para o financiamento imobiliário é muito comum no país.

Existe um segmento que não exige muitas garantias para a oferta do crédito, o chamado subprime. A falta de pagamentos desencadeou a crise, uma vez que os títulos de empréstimo são repassados para os bancos de investimento, que ‘securitizavam' a dívida, ou seja, a transformava em títulos e a vendia ao mercado.

No entanto, os preços dos imóveis foram se valorizando e com uma contínua elevação da taxa básica de juros pelo Fed (o banco central americano) a partir do final de 2004 (passou de 1% para 5,25% em poucos meses), houve uma alta do custo financeiro para os tomadores de empréstimos. A elevação da inadimplência e ampliação da retomada dos imóveis gerou o desaquecimento do mercado. Com os preços em queda, bancos não conseguem reaver o que emprestaram aos clientes. Com isso, começam a haver concordatas e falências de bancos especializados do setor. (colaborou Soraia Abreu Pedrozo)

Economia brasileira também sente reflexos das turbulências

A grande retração na Bovespa nos últimos meses e a forte desvalorização de empresas como a Sadia, cujos papéis perderam mais de 40% do valor na semana passada, mostram que a crise financeira internacional já repercute no Brasil.

O reflexo é forte, apesar de o País estar em situação mais cômoda que em anos anteriores, graças aos bons fundamentos econômicos. Balança comercial favorável e equalização da dívida externa ajudam, segundo os especialistas.

No entanto, o professor Robson Gonçalves observa que uma recessão mundial fará com que o preço das commodities (itens com cotação internacional, como minério de ferro e petróleo) recue, o que reduziria as exportações brasileiras. Também pode haver uma diminuição do fluxo de capitais, que limita o crédito para investimento das empresas e o consumo das famílias.

Por sua vez, com menor entrada de dólares no País, a moeda americana tende a se valorizar - como já tem ocorrido. Isso pode ser bom para exportadores de manufaturados, no entanto, pode gerar algum repique inflacionário. "Assim, o Banco Central pode manter os juros altos por mais tempo", disse.




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