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Doutora da gargalhada

O destaque da cabeleireira Ivete no novela Beleza Pura pegou sua intérprete, Zezé Polessa, de surpresa

Gabriela Germano
Da TV Press
24/08/2008 | 07:05
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O destaque da cabeleireira e mãe super-protetora Ivete no novela Beleza Pura pegou sua intérprete, Zezé Polessa, de surpresa. Para falar a verdade, quando recebeu a sinopse da personagem, a atriz nem ficou tão animada assim. "Achei que ela não tinha história própria, era muito mãezona", justifica Zezé. Mas o folhetim foi caminhando, o núcleo cômico tomou espaço e agora, na reta final da trama, a atriz reconhece que valeu aceitar o convite. "A personagem foi me surpreendendo, vive um romance na história que é interessante e cativou as pessoas", diz.

Mas o crescimento repentino de Ivete na trama reflete a carreira de Zezé, marcada pelo inesperado. Ela pensava em ser professora, formou-se em medicina, mas se tornou atriz.

O início já foi imprevisto. Aconteceu quando ela começou a ganhar um dinheirinho com um grupo de teatro e decidiu fazer isso por toda a vida. "Quando eu era criança não pensava em ser atriz. Mas tenho a foto de quando fui a estrela-guia em um presépio. Foi meu primeiro personagem", diz aos risos.

Até o talento para interpretar figuras engraçadas, as mais recorrentes em sua trajetória, Zezé jura que nunca imaginou ter. Mas depois de fazer personagens como Amapola, de Porto dos Milagres e, mais recentemente, Valquíria, em O Sistema, a atriz não nega sua vocação para fazer rir.

"Tenho mais habilidade para fazer comédia do que para fazer chorar. Mas a primeira vez que me chamaram para uma peça ao lado de Pedro Cardoso e Cláudia Jimenez, fiquei chocada", assume.

Médica formada, Zezé Polessa sempre manteve o diploma na gaveta. Só não abriu mão de pegar o canudo pela pressão do pai, pois no sexto ano da faculdade ela já estava completamente apaixonada pelo teatro e queria fazer isso pelo resto da vida. "Comecei com um grupo em Copacabana. Ganhávamos um dinheirinho que pagava o meu cinema e o meu teatro do final de semana", recorda a atriz.

Não demorou para que Zezé encontrasse a sua turma. E ela era formada por Miguel Falabella, Eduardo Lago, Rosane Goffman e Daniel Dantas, com quem chegou a se casar e teve um filho, João, hoje com 28 anos.

O início foi difícil, enfrentando a ditadura e sem apoio nenhum. "Fazíamos coisas lindas para ninguém ver. Só conseguíamos teatros no centro da cidade, que eram verdadeiros porões", conta ela.

Foi só depois de 10 anos de batalha nos palcos que veio a estréia na TV, em Top Model, de 1989. "Antes da TV eu conseguia viver de teatro. Mas mal. Houve uma época em que pensei na medicina, em fazer homeopatia. Mas insisti e foi. Estou aqui", resume.

A estabilidade na carreira de Zezé Polessa não se deve apenas à sua trajetória na TV.

Ela vive uma fase bem-sucedida também no teatro. Bem diferente do início de sua trajetória, quando era vista por poucos, hoje ela é assistida por milhares de pessoas no espetáculo Não Sou feliz, Mas Tenho Marido, adaptação homônima de um livro argentino escrito por Viviana Gómez Thorpe.

Se, na realidade, a atriz só namora e em Beleza Pura ela não quer que sua personagem se case, nos palcos ela interpreta uma jornalista que está casada há 27 anos e finalmente consegue realizar o sonho de lançar um livro. Mas na coletiva de imprensa, ela começa a contar detalhes sobre todo esse tempo de união com um mesmo companheiro.

Mais uma vez, Zezé se enveredou pela comédia. "É um humor ácido, sarcástico", explica a atriz, que arriscou todas as suas fichas no projeto.

Sem nunca ter dirigido ou adaptado nada, ela pediu para o diretor argentino que tinha os direitos da obra a chance de montar o espetáculo no Brasil. Deu certo.

Depois de um ano em cartaz em São Paulo e um ano e meio no Rio de Janeiro, ela viaja pelo Brasil com a montagem. Com 28 anos de carreira e comemorando esse reconhecimento, Zezé mantém os pés no chão.

"Para fazer suas coisas no teatro, não dá para arriscar montar produções grandiosas. Às vezes a gente acha que está fazendo uma coisa super interessante, mas ela não acontece. Estou feliz porque meu projeto aconteceu", pondera a atriz.

Os núcleos cômicos muitas vezes se tornam o centro das atenções nas novelas e, em Beleza Pura, a Ivete chamou a atenção. Por que você acha que obteve tanta repercussão?
ZEZÉ POLESSA - Tem um lado legal dela ser ex-chacrete, ser cabeleireira, mas acho que o segredo da personagem é que Ivete é inspiradora. As pessoas vêem uma mulher bacana, que conseguiu conquistar suas coisas sozinha, criou os filhos por mais de 20 anos sem ter um homem ao seu lado. A história dela entusiasma. O que pegou mesmo é o fato dela ser mãezona. Porque tem tanta gente carente de mãe hoje em dia. As mães estão ausentes, passam muito tempo fora de casa. E pensar que quando peguei a sinopse, tive medo de aceitar porque achei que era muito essa historinha da mãe.

Você cogitou recusar o papel?
ZEZÉ POLESSA - Bateu uma grande dúvida, porque achei que a Ivete era o tipo de personagem que chamo de função. É aquela figura que não tem história própria, você não enxerga por onde pode caminhar. Aí tive uma conversa com o Rogério Gomes, diretor que gosto muito e com quem já tinha trabalhado. Depois o Silvio de Abreu - supervisor de texto da novela - ressaltou o universo do salão de cabeleireiros, falou que o núcleo era muito divertido. Eu não podia negar.

Essa percepção inicial em relação a um personagem você já sentiu muitas vezes durante a carreira?
ZEZÉ POLESSA - Geralmente é assim comigo. Uma novela que eu não sabia no que ia dar era Porto dos Milagres, em que fiz a Amapola. E foi um verdadeiro estouro. O personagem seguiu um caminho interessante, ganhou espaço. O engraçado da novela é que o autor cria a história central mas tem vários trunfos. É bom quando a sensibilidade do ator casa com a do autor. Quem escreve dá algumas pistas, o ator percebe e coloca um ingrediente, como um grito, por exemplo. O autor gosta disso e acaba criando uma marca. E nesse ponto a Andréa Maltarolli foi muito sensível com meu personagem. Quando acontece esse casamento o personagem cresce.

A Ivete integra uma galeria de personagens cômicos que você interpreta na TV. Você prefere fazer comédia?
ZEZÉ POLESSA - Há um movimento na TV de imaginar que uma mulher que grita e que é popular é para a Zezé fazer. Mas não sou isso. Sou uma pessoa comedida, relativamente reservada, uma atriz que pode fazer comédia e drama. Mas é verdade que tenho mais habilidade para fazer comédia do que para fazer chorar. Na verdade a primeira vez que me chamaram para fazer comédia foi no teatro, junto com uma turma que tinha Pedro Cardoso, Cláudia Jimenez, Guilherme Karan. Fiquei chocada e perguntei: ‘gente, eu sou engraçada?'

Você se considera tolhida por essa repetição do núcleo cômico, tão comum na TV?
ZEZÉ POLESSA - Quando acho que estou ganhando um personagem parecido com um anterior, eu nego. Ou melhor, há uma conversa para resolver a situação. A comédia é atraente. E quando você consegue divertir as pessoas e faz bem feito. Como atriz fico muito tempo envolvida com uma novela. Portanto, em um próximo trabalho, quero sempre fazer algo diferente porque se não for assim não tem graça, não vou ter o mesmo estímulo para me preparar, pesquisar. Mas a Naná, de Top Model, tinha um perfil diferente. Em Memorial de Maria Moura, também não fiz uma mulher engraçada. Em A Lua Me Disse, fui vilã.

Essas personagens estão entre as suas preferidas?
ZEZÉ POLESSA - Tenho uma porção de personagens cativantes. Há ainda uma história engraçada quando fiz Explode Coração. Porque era para fazer uma personagem mais velha. Eu seria mãe do Cássio Gabus Mendes e da Paula Lavigne na trama. Pensei: ‘tenho 40 anos e vou ficar um ano como a mãe do Cássio na TV?'. E o Dennis Carvalho dizia que a outra personagem disponível era muito pequena. Peguei o papel menor mesmo assim. E foi ótimo porque ela malhava para caramba e foi a primeira vez que passaram a me ver como uma mulher bonita. Foi depois disso que veio Porto dos Milagres. Acho que depois dessa novela e de Memorial de Maria Moura me viram como uma atriz realmente. Em relação ao público, a Naná e a Mapola são inesquecíveis.

Como o público costuma abordá-la?
ZEZÉ POLESSA - Sempre para elogiar meu trabalho, de uma maneira muito respeitosa. Namoro um músico e ele fica impressionado como as pessoas dizem eu te amo para mim. Ele acha um exagero. Mas explico que as pessoas amam o que a gente significa. As pessoas chegam em casa cansadas do trabalho e se divertem conosco.




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