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'Calma, mãe, agora está tudo bem', diz menino libertado

Ainda na favela, menino pôde conversar por telefone com a mãe e contar a novidade

Evandro De Marco
Do Diário do Grande ABC
23/05/2008 | 07:27
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O refém foi encontrado pelos policiais pouco antes das 2h de quinta-feira e seguiu para a sede da Dise (Divisão de Investigações Sobre Entorpecentes), no centro de São Bernardo. Ainda na favela, ele pôde conversar por telefone com a mãe e contar a novidade. "Eu disse a ela que estava tudo bem e que a gente ia se ver logo." A mãe, que desde o seqüestro do menino dormia no quarto do filho, conta que rezava no momento em que o telefone tocou. "Demorou para eu acreditar. Meu filho nasceu de novo hoje (quinta-feira)", comemorou.

O reencontro entre mãe e filho aconteceu 50 minutos depois, na sede da Dise. Logo na chegada, Carmen recebeu um forte abraço de um dos investigadores, que disse: "Eu não falei que a gente encontrava ele?" Até mesmo policiais envolvidos no caso não puderam conter a emoção em ver mãe e filhos abraçados. "Eles (os policiais) ligavam para a minha casa para me tranqüilizar e me davam força para resistir a tudo isso", relatou a mãe.

Para o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula Santos, o envolvimento dos investigadores com o caso foi determinante para o fim do seqüestro. "Todos se entregaram, fizeram o máximo."

As primeiras palavras partiram do menino: "Calma mãe. Agora está tudo bem."

Para Carmen, os seqüestradores conheciam a família. O marido dela era proprietário de um caminhão cegonha com licença para trabalhar em uma transportadora de veículos. Essas licenças são raramente negociadas e, quando isso acontece, envolvem quantias altas, podendo chegar até mesmo a cerca de R$ 1 milhão.

Com a morte do marido em 2005, vítima de um infarto durante inalação em um posto de saúde no bairro Démarche, em São Bernardo, Carmen decidiu alugar a vaga e não dispunha mais dos ganhos na mesma proporção de quando ainda não era viúva. "Essa pessoas que pegaram meu filho me conhecem. Tenho certeza disso."

Dedo - A dona de casa conta que um dos momentos mais assustadores foi a ligação dos seqüestradores em que ameaçavam cortar o dedo da vítima. "Eles colocaram meu filho para falar comigo e ele me disse, desesperado, que tinham cortado um dedo dele. No mesmo dia, deixaram um dedo de borracha no bar da minha irmã."

O refém revelou que, nesse dia, recebeu um telefonema no cativeiro. O suposto chefe do seqüestro o obrigou a mentir para a mãe sob pena de ser maltratado pelos outros criminosos.

De acordo com o delegado Paula Santos, a grande preocupação era que o menino, em algum momento, reconhecesse um dos seqüestradores no cativeiro. "Se ele reparasse que alguém era conhecido, isso poderia resultar em algo ruim para todos nós", apontou o delegado.

Carmen planeja deixar o bairro Terra Nova II o quanto antes. Tem medo de que algo parecido aconteça novamente. "Eu não posso nem mais olhar para a rua que eu lembro dos gritos do meu filho, de ele sendo levado."

Viela escondia cativeiro de terra batida

Um barraco no final da viela Tancredo Neves, na favela do Jardim Silvina, em São Bernardo, foi o local onde a vítima permaneceu os sete dias em que ficou em poder dos seqüestradores. O lugar, de terra batida, tinha poucas condições de higiene e instalação elétrica clandestina.

A vítima era obrigada a dormia em uma cama improvisada com um colchão sujo e dispunha de uma pequena televisão e de um videogame para se distrair.

"Eu pensei em fugir, mas eram muitas ameaças e o barraco tinha cadeado. Eu só pensava na minha mãe e chorava o tempo todo", contou.

O garoto conta que não foi torturado pelos seqüestradores e foi alimentado durante todo o tempo que ficou em cativeiro, Era vigiado por dois homens encapuzados. "Eles me diziam que minha mãe tinha que agilizar o pagamento do resgate porque eles mesmos não gostavam daquela situação, já que tinham filhos da minha idade."

No barraco, restos de comida apontam que o estudante foi alimentado com iogurtes, bolachas e chocolates.

Garoto tentou correr quando foi abordado por trio

O menino disse que tentou fugir quando os seqüestradores falaram com ele, mas não conseguiu. "Eles disseram o nome da minha mãe e perguntaram se eu era mesmo filho dela e do meu pai, que já morreu. Pensei em correr. Mas a mochila da escola estava muito pesada e tive medo de não conseguir. Foi então que um deles me pegou forte pelo braço e me puxou para dentro do carro", detalhou o jovem, que reconheceu o caminho feito pela quadrilha até o cativeiro. "Eles pegaram o acesso novo da Anchieta e foram em direção à favela."

A mãe do estudante, Carmen, assistiu ao seqüestro do filho. "Foi quase na frente de casa. Eu estava na sacada esperando ele chegar da escola. Ouvi os gritos dele me chamando: ‘Mãe, mãe!'", relembrou, ainda assustada.

Polícia - A tática policial para encontrar a vítima foi levantar a possível área do cativeiro e, então, fazer um trabalho de "pressão" no local. "Conseguimos indícios que apontavam que o cativeiro ficava na favela do Jardim Silvina. Colocamos nossos homens por lá para pressionarmos os seqüestradores", disse o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula Santos.

A presença da polícia na favela pode ter sido o fator determinante para a libertação da vítima cerca de dez minutos antes de ela ser encontrado pelos investigadores em uma escadaria. A vítima havia sido solta pela irmã de Costa, Solange, 30 anos. Ela também foi presa suspeita de participação no seqüestro.

Segundo o delegado, a prisão de um dos suspeitos de envolvimento no crime pode ter sido o sinal para que o menino fosse libertado. "Possivelmente essa pessoa já sabia da prisão do Vagner e percebeu que tudo tinha dado errado", afirmou Santos.




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