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Violência faz Correios
cancelarem as entregas

Moradores de bairros na periferia do Grande ABC
não recebem encomendas do Sedex desde dezembro

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
25/01/2013 | 07:00
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O medo da violência levou os Correios a suspenderem entregas em bairros da periferia do Grande ABC. Em Mauá, Diadema e parte de Santo André, moradores não recebem encomendas do Sedex desde dezembro. No entanto, correspondências simples, como contas e comunicados, continuam chegando normalmente às residências.

Para que os funcionários não tenham de percorrer as ruas consideradas perigosas, a empresa deixa os objetos enviados nos dois CEEs (Centros de Entrega de Encomenda) da região, localizados nas áreas centrais de Santo André e São Bernardo. A situação provoca transtorno para quem mora em locais mais distantes, como Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Esse é o caso da comerciante Lúcia Rescalli Duarte, 37 anos. Moradora do bairro Alto da Boa Vista, em Mauá, ela tem de percorrer cerca de 15 quilômetros para chegar ao CEE de Santo André. Além do incômodo causado pelo deslocamento, a medida adotada pelos Correios faz com que a mercadoria aguardada chegue com até duas semanas de atraso.

"É um constrangimento ter de vir aqui para buscar o que é meu. Somos mal atendidos e os funcionários nos tratam como se nós fôssemos os bandidos. Não se pode generalizar isso. Criminalidade existe em todos os lugares", criticou Lúcia. Para a comerciante, o transtorno seria menor se os Correios disponibilizassem ponto de entrega na mesma cidade. "Não resolveria 100%, mas já ajudaria."

O gerente comercial Wilson Santana, 51, trabalha no Jardim Zaíra, também em Mauá, e passa pelo mesmo problema. "Isso gera prejuízo para mim, pois tenho clientes que aguardam a mercadoria solicitada e podem cancelar o pedido." Santana relatou que, em uma das ocasiões que foi retirar encomenda, chegou ao CEE às 9h e só conseguiu pegar o pacote às 17h. "Outra vez, tive de voltar três vezes, pois eles não achavam a encomenda. Isso é desorganização."

A equipe do Diário esteve na manhã de ontem no centro de distribuição e flagrou funcionários fazendo festa no horário do expediente. A empresa Shield, que presta serviço de vigilância para os Correios, impediu a permanência da reportagem no local.

O diretor do Sintect (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo) Anderson Lima de Moraes criticou a falta de investimento da estatal em segurança. "O lucro da empresa cresce a cada ano, mas isso é inversamente proporcional ao que é gasto em escolta. Além disso, esse é um problema de Segurança pública." Segundo o sindicalista, a maioria das ações criminosas é praticada contra os carros do Sedex. Carteiros que fazem entregas a pé são menos visados pelos ladrões.

Em nota, os Correios confirmaram que "determinadas áreas da região metropolitana de São Paulo possuem restrição temporária de entrega domiciliar em virtude de não oferecerem condições de acesso e segurança ao empregado postal e à carga". Em caso de atraso, a empresa diz que o remetente tem direito a receber indenização. Em relação à festa citada, a estatal informa que realizou eventos em diversas unidades por conta do Dia do Carteiro e do aniversário de 350 anos dos Correios - ambos comemorados hoje. A Polícia Militar foi procurada durante todo o dia, mas não se manifestou.

Diário denunciou problema em junho do ano passado

A alta incidência de ações criminosas contra funcionários dos Correios foi denunciada em junho pelo Diário. Desde então, a situação piorou, já que, na época, não havia determinação da estatal para que a entrega de encomendas do Sedex fosse suspensa. No entanto, a empresa já orientava clientes para que fossem retirar as mercadorias nas agências.

Estimativa do Sintect (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo) aponta que, em 2012, média de 25 assaltos era registrado por mês em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá. Segundo a entidade, metade dos funcionários que trabalham com encomendas em carros ou motos foi assaltada nos seis primeiros meses do ano. No mesmo período de 2011, a média mensal era de três roubos nos mesmos locais.

Geralmente, os bandidos têm duas formas de atuação: ou o carro com as mercadorias é levado e depois abandonado totalmente vazio, ou o veículo é poupado, mas todos os objetos são levados. Os grupos sempre agem armados.




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