Restaurador renomado, virtuoso intérprete de guarânias e, mais que tudo, expressivo artista construtivista, que há tempos largou as outras atividades para dedicar-se à pintura, o paraguaio Ramón Cáceres (radicado brasileiro há mais de quatro décadas) é um importante capítulo da cultura nacional.

Ensimesmado com a representação de bandeiras - algo que em determinado tempo de sua carreira fez analogia às séries de Volpi que também retratavam a figura -, ele ultrapassou na superfície plana os limites da forma e trabalhou como ninguém as bandeiras numa leve sugestão de movimento, em curva, como se ondulassem ao vento.

Parte do seu trabalho, especificamente suas últimas obras, estará exposta a partir de hoje no Salão de Exposições do Paço andreense, na mostra 'A Arte de Ramón Cáceres', organizada por Luiz Carlos Caribé com curadoria de Enock Sacramento.

"Ele é um dos artistas que vêm trabalhando em uma das linhas que são as mais importantes da arte brasileira da segunda metade do século passado", conta o curador e crítico Enock Sacramento, que aproveita a ocasião para relançar livro homônimo à exposição.

Todas as imagens de Cáceres se chamam 'Construção'. As distinções de registro são aferidas por números. "Toda obra dele é construída, uma coisa em cima da outra como se fosse uma parede, um prédio."

Algo parecido com o que Luiz Sacilotto fazia alcunhando suas produções de 'Concreção'. "O importante de Cáceres foi ter construído linguagem baseado na curva. A diferença de Sacilotto é que ele não usava curva. Às vezes a ilusão dela vinha dos ângulos de exposição da figura."

Com relação à curva da bandeira, até Sacramento não tem muita certeza do porquê. "Não sei se ele sabe como essa curva surgiu. Ele era imigrante, trabalhava muito a bandeira de navio que levava as pessoas para outros lugares."

O importante são as variações sobre o tema, a qualidade de harmonizar formas, cores e ritmos. "...argúcia discernidora muito aguda que sabe escolher os coloridos significativos, seja nos diálogos ou nas polifonias cromáticas ora mais amenas, ora suaves e líricas, ora mais firmes, decisivamente delineadas e duras", escreveu sobre o artista o crítico Theon Spanoudis.

"Todos os quadros de Ramón são diferentes, mas você bate o olho e sabe que é ele. A arte não é o terreno do real, é do possível, do pode ser. Ele fez uma arte que ninguém fez. As obras da exposição são dos últimos anos, quando seu estilo já está definido. Hoje ele está no auge da carreira", considera Sacramento.

A Arte de Ramón Cáceres - Exposição. No Salão de Exposições do Paço Municipal de Santo André - Praça 4º Centenário. Tel.: 4433-0605. Abre hoje, às 20h. Visitação: ter. a sáb., das 12h às 17h e das 18h às 21h. Grátis. Até dia 6.