Foi dada a largada para a sexta edição do Desafio de Redação. O tema escolhido para a maratona literária deste ano - Álcool, você não precisa disso para se dar bem - foi apresentado ontem, em São Caetano, em evento que contou com a presença do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).

O concurso é promovido pelo Diário em parceria com o governo estadual e com apoio da Ecovias.

A escolha do tema, que faz parte do cotidiano de muitos jovens brasileiros menores de idade, visa provocar a reflexão sobre males e consequências do uso desmedido de bebidas alcoólicas.

Neste ano, 300 escolas públicas e particulares da região vão participar do desafio, que envolve alunos entre 11 e 18 anos. A cerimônia de apresentação aconteceu na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), co-realizadora do projeto, e contou também com a presença do prefeito da cidade, José Auricchio Júnior (PTB). O autor da melhor redação ganhará bolsa de estudos integral na USCS.

Não é a primeira vez que o tema escolhido levanta discussão que permeia a realidade dos jovens brasileiros. Há dois anos, adolescentes escreveram sobre os efeitos do crack e as limitações impostas pela dependência química aos usuários e às famílias.

Alckmin relacionou o uso abusivo de álcool à ocorrência frequente de acidentes de trânsito e aproveitou para parabenizar a iniciativa. "Há dez anos, a maior causa de mortalidade por causas externas era o homicídio. Hoje, são os acidentes rodoviários, muitas vezes ligados ao consumo de álcool. A escola é o caminho para orientar os jovens a melhorar a autoestima sem utilizar a bebida. O Grande ABC dá exemplo para São Paulo e ao Brasil em prol da preservação da saúde da nossa juventude", defendeu Alckmin.

Diretor superintendente da Ecovias, concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes, José Carlos Cassaniga destacou a relevância do projeto e associou a iniciativa com a preocupação da empresa em combater os índices de acidentes de trânsito nas estradas. "O tema é muito propício. Temos incentivado a preparação de motoristas e certamente coibir o uso indevido do álcool entre jovens vem ao encontro de nossas atividades", observou.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), 320 mil pessoas de 15 a 29 anos morrem anualmente em todo mundo em virtude do consumo excessivo de álcool. As doenças decorrentes do hábito são as principais causas de morte em homens entre 15 e 59 anos. Elas superam a Aids, tuberculose e violência física.

Na edição do ano passado do Desafio de Redação, foram produzidas 165 mil textos nas sete cidades, contra 145 mil em 2010. Neste ano, a expectativa da direção do Diário é se aproximar das 200 mil produções. As provas serão aplicadas entre 17 de setembro e 23 de outubro. Além do prêmio máximo da bolsa de estudos, os alunos também concorrem a computadores, televisores e bicicletas.

Para especialista, adolescente brasileiro é desprotegido

O professor titular de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e presidente do Inpad (Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Drogas), Ronaldo Laranjeira, marcou presença no evento de lançamento do tema do Desafio de Redação do Diário e mostrou dados alarmantes sobre o consumo de álcool entre menores.

Para o especialista, o Brasil carece de políticas públicas destinadas aos adolescentes. "Temos de aumentar o envolvimento dos jovens em políticas de Saúde. O adolescente brasileiro ainda é desprotegido. Temos projetos para mulheres, crianças e idosos, mas não temos política sustentável e coordenada para os mais novos."

Segundo o especialista, a comercialização desenfreada de bebidas alcoólicas a preços baixos atrapalha a eficiência de ações de combate ao alcoolismo na adolescência. "Temos um ponto de venda de bebida alcoólica a cada 200 habitantes. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Lá fora (no Exterior), ninguém acredita quando digo que a dose de cachaça custa US$ 1. Pagamos mais impostos na gasolina do que na bebida alcoólica", relata.

Atualmente o Brasil comporta cerca de 1 milhão de pontos de venda de bebidas alcoólicas. De acordo com levantamento do médico, menores são responsáveis por consumir 6% de todo álcool produzido no País. Já o consumo de pessoas entre 18 e 29 anos representa 40% do total.

Projeto estimula escrita e exercício da cidadania

Apenas escrever a redação para concorrer ao prêmio máximo não significa que o aluno compreendeu a dimensão dos problemas causados pelo uso do álcool, ou qualquer que seja o assunto proposto.

O debate em sala de aula, promovido por professores antes da aplicação das provas, é fundamental para os estudantes embasarem suas ideias e ampliarem as chances de sucesso no concurso. "Sem estimular a comunicação escrita não existe o cidadão. Provocar a reflexão sobre o tema já é algo relevante, mas pedir que o estudante escreva sobre determinado assunto deixa o serviço completo", analisou o reitor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Silvio Minciotti.

As redações dos estudantes são corrigidas por técnicos e professores da universidade em três fases. Os critérios de avaliação seguem padrões definidos, como criatividade, adesão ao tema, coerência gramatical e legibilidade e obediência ao número de linhas.

Podem participar estudantes de escolas públicas e particulares de toda a região regularmente matriculados e cursando da 6ª a 9ª séries do Ensino Fundamental, de 1ª a 3ª séries do Ensino Médio, além de alunos do EJA (Educação para Jovens e Adultos).