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Cortes de produção já atingem metade das montadoras
13/04/2014 | 08:35
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Denis Maciel/DGABC


Das 20 fabricantes de automóveis, comerciais leves e caminhões instaladas no País, metade já anunciou medidas de corte de produção nas últimas semanas, seja por meio de férias coletivas, suspensão temporária de contratos de trabalho, redução de turnos e PDV (programa de demissão voluntária) - caso da Mercedes-Benz, que afirma ter 2 mil funcionários excedentes no ABC paulista.

Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), no fim de março havia 387,1 mil veículos nos pátios das fábricas e concessionárias, o equivalente a 48 dias de vendas, a mais alta média desde novembro de 2008, em plena crise financeira internacional. O setor considera razoável 25 a 35 dias.

No segmento de autopeças, que vende 70% de sua produção para as montadoras, as empresas também começam a adotar medidas de corte de produção, como férias coletivas, informa Paulo Butori, presidente do  Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores).

"Os empresários estão cautelosos e não estão investindo", diz Butori. Além dos problemas específicos de cada setor, há incertezas nos cenários econômico e político. O executivo teme que o desempenho da indústria como um todo seja ainda pior do que o crescimento de 0,5% projetado pelo Banco Central e encerre o ano negativo.

Segundo o Sindipeças, a previsão até agora para o faturamento do setor (sem desconto da inflação ou variação cambial) é de crescimento de 5,5% em relação a 2013, mas essa estimativa será revisada, considerando-se as paradas nas montadoras.

A Argentina, principal destino das exportações brasileiras, enfrenta séria e prolongada crise e deve afetar ainda mais a balança comercial do segmento. A previsão é de déficit de US$ 10 bilhões, quase o mesmo saldo negativo do ano passado.

"O ambiente macroeconômico também está se agravando, com redução de crédito e juros e inflação em alta", diz Butori.

O economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Rogério César de Souza, não vê um crescimento robusto para a indústria de transformação, mas é menos pessimista que o BC. A entidade estima alta de 1,3% para o ano, puxada pelos setores de bens de capital, duráveis e intermediários.

"O crescimento vai depender de ajuda do câmbio, investimentos e da própria evolução da economia brasileira", diz Souza. Para o PIB, ele espera crescimento de 2%. "Se ficar muito abaixo disso, a crise vai ser consolidada, pois não será possível recuperar as perdas de anos atrás."

Importados. O gerente executivo de Política Econômica da  CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, reforça que, em geral, os setores com mais dificuldades são aqueles que enfrentam concorrência de importados.

Paulo Francini, diretor do Depecon (Departamento de Estudos Econômicos) da Fiesp, afirma que vários setores iniciaram o ano com boas perspectivas para a balança comercial, mas a recente valorização do real e o colapso das vendas para a Argentina reverteram as expectativas.

Ele também lembra que setores como o automotivo ainda tinham estímulos fiscais no ano passado, que estão sendo suspensos neste ano. O IPI para carros, reduzido desde 2012, vem sendo recomposto gradativamente e o último aumento está previsto para julho.

O presidente do  IABr (Instituto Aço Brasil), Marco Polo, é outro que ressalta a "dificuldade monumental" do produto brasileiro em competir principalmente com o chinês. Em 2000, 1,4% do aço usado no País vinha da China. Hoje, a participação é de 37,8%.

Foram importadas 9,3 milhões de toneladas de aço em 2013. "Se esse ritmo for mantido, em oito anos teremos 57,9% do nosso consumo final baseado em importações diretas e indiretas", afirma Marco Polo. "Muitas empresas vão fechar."

O setor opera com 70% da capacidade, quando deveria trabalhar acima de 80%, diz. Apesar desse cenário, ele prevê alta de 5,2% na produção de aço bruto, após queda de 1% em 2013.




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