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Cinquenta e três anos de carreira, mais de 30 peças no currículo, e Gracindo Junior se dá conta de que só agora chegou ao real significado de seu ofício. "Descobri o que é ser ator hoje. Pela primeira vez me vejo no alto do arame. Estou estreando".
Ele fala do centro da arena do Espaço Sesc Copacabana, com o figurino de "Canastrões", a peça que encena a partir desta sexta-feira com os filhos Gabriel Gracindo e Pedro Gracindo. Atrás do trio, dezenas de cadeiras com os nomes de grandes atores brasileiros já falecidos: Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Cacilda Becker...
O espetáculo nasceu da vontade de continuar homenageando um precursor deles, Paulo Gracindo (1911-1995), a estrela primeira da família, a quem Gracindo Junior já havia dedicado o documentário "O Bem Amado", em 2009. Só que não fazia sentido continuar na linha biográfica. O desejo era falar do pai enaltecendo a profissão à qual se dedicou por sete décadas, com toda a complexidade que ela abarca.
"Uma biografia acabaria por limitar o significado do Paulo Gracindo, muito maior do que a sua história", explica Moncho Rodriguez, dramaturgo, encenador e pesquisador "galego nordestino" radicado em Portugal (e louco pelo Brasil) a quem se encomendou o texto.
Não foi um mero escrever e entregar. O quarteto se autoconfinou por três meses em Póvoa de Lanhoso, perto do Porto, onde a peça, de tom poético, se desenvolveu e estreou. Antes, o autor pediu que os filhos descrevessem o pai num texto, e vice-versa. Queria saber quem eram para criar os personagens. Gracindo Junior é O Enviado, a encarnação de um ator de 500 anos que divaga sobre a criação artística, "a missão, ou a sina, de viver de inventar". Vê-se no espelho e diz: "Quem é esse que me olha e é tão mais velho do que eu?"
É a primeira vez que os três Gracindos contracenam. Gabriel, de 34 anos, é O Acontecido; Pedro, de 27, O Inevitável, Deus e diabo, redenção e tentação. Cada um tem sua canastra, baú onde eles guardam experiências, crenças, sonhos, truques - daí viria o termo pejorativo canastrão para designar o mau ator, em geral mais velho, cheio de maneirismos, autor e atores acreditam.
"Não se sabe mais o que é o ator. Não é o garoto que faz uma novelinha e compra um carro importado. Essa dimensão maior quem te dá é o teatro", acredita Gracindo Junior. "Estamos refletindo: para que se faz arte? Trabalha-se muito para o êxito, e pouco para o público", diz Rodriguez, defensor de um teatro que fertiliza o espectador de ideias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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