José Padilha, diretor de Tropa de Elite, estreia em
Hollywood em remake de ação sem nenhum carisma
A indústria bélica sempre foi um dos setores mais ricos do mundo. Os bilhões adquiridos ao longo dos anos são reflexo de uma sociedade violenta. Imaginando um futuro no qual o caos exige medidas extremas e as empresas querem lucrar ainda mais, a ideia perfeita parece colocar nas ruas oficiais de polícia não humanos, poupando vidas dos trabalhadores da lei e enfrentando o crime sem medo. Melhor ainda seria se essa criatura futurística fosse meio homem, meio máquina.
O enredo serve como pano de fundo para Robocop (1987), um filme B clássico. A história ganha sobrevida em remake feito com milhões de dólares, mas sem qualquer carisma como no original.
Com os sucessos dos dois Tropa de Elite no currículo, o diretor José Padilha foi chamado para comandar a revitalização de Robocop em seu primeiro trabalho em Hollywood. Ele soube aproveitar as câmeras em cima do ombro nas trocas de tiro e algumas panorâmicas, além de utilizar o alto orçamento de cerca de US$ 140 milhões para contar com bons efeitos especiais – com destaque para a pesada cena na qual o protagonista é desmontado como se fosse um boneco pelo doutor vivido pelo veterano Gary Oldman.
Mas o carioca não é o grande culpado pela falta de empatia do projeto. Na verdade, Robocop é um filme mediano de ação com pitadas de ficção científica. A grande atração da obra oitentista era o policial Alex Murphy, desafiado entre suas limitações humanas e a segurança de sua armadura prateada. Agora, o personagem é vivido por Joel Kinnaman, ator sueco que parece assumir de vez a parte robótica do herói, e não se esforça para revelar reações. Isso dificulta a empatia por sua história triste que culmina em um atentado na garagem de sua casa na Detroit de 2028. Após a explosão de carro que o deixa com apenas 20% do corpo, sua mulher
concorda com a proposta do bilionário Raymond Sellars (Michael Keaton) em utilizar o policial como cobaia.
Claro que as cenas de ação são o ponto alto. As informações passadas para o visor do protagonista e a movimentação que Padilha dá para os momentos lembram muito os videogames. Os questionamentos levantados pelo roteiro colocam em xeque o lobby da indústria bélica, a imprensa sensacionalista (representada pela participação bizarra de Samuel L. Jackson como um apresentador falastrão), política e as possibilidades negativas e positivas da tecnologia na vida das pessoas. Enquanto o longa original era mais visceral, o novo Robocop aspira a ser ‘cabeça’. Mas o Policial do Futuro não deveria ser levado tão a sério.
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