Inspirados por Franz Kafka e pela sede da juventude em discutir temas que tentam refletir a saúde da vida em sociedade, a Cia Grite estreia amanhã, no Teatro da Universidade Municipal de São Caetano, a peça 'Arquivo Morto'.

A montagem é parceria do Núcleo de Pesquisa 3 da companhia com os alunos que fazem oficina de teatro. O primeiro grupo, formado por artistas interessados em dar continuidade ao processo das aulas, decidiu que falaria sobre as relações de poder que ditam a vida social, particularmente sobre as grandes corporações que através da economia e das leis de mercado regem a política em detrimento ao social. Do outro lado, os oficineiros tiveram desejo de pesquisar sobre o papel da mídia na sociedade.

O resultado da discussão está exposto na peça. Em cena, duas grandes empresas, uma construtora e uma fabricante de material para construção, se veem envolvidas em escândalo de prédio com mais 300 famílias que está prestes a cair. As maracutaias que deram vazão aos problemas começam a ser reveladas em cena, assim como os personagens culpados, que vão desde as presidentes das corporações até gente mais simples, como a faxineira.

"Há também, na peça, o choque entre os interesses de um conglomerado de comunicação que tenta dialogar com as duas corporações", conta o diretor Kleber di Lázzare.

"O social, onde estamos todos nós, o que realmente importa, fica por último nesse jogo de interesses. A pessoa só é considerada quando o que interessa é tirá-la das relações onde não é importantee que ela esteja", completa.

Vinte e um atores ocupam cinco espaços de cena, com ações constantes nas quais o foco da narrativa é valorizado. A atmosfera faz-se opressora com excesso de materiais como caixas e arquivos ocupando o palco.

A procura, que se faz sutil, sem maniqueísmo, tentando engendrar a pluralidade que habita o juízo e os valores de todos os envolvidos, é pela humanidade perdida. "O problema é quando o social vira cultural, quando começamos a acreditar que somos assim desde sempre e não temos solução", diz Lázzare.

Arquivo Morto - Teatro. No Teatro da USCS - Avenida Goiás, 3.400, São Caetano. Tel.: 4239-3306. Sáb., às 18h e às 20h; e dom., às 19h. Ingr.: R$ 10. Até dia 11.