De olho no transito Titulo Mobilidade
A contrapropaganda da Segurança

Robôs que se transformam em carros, pessoas que se livram do fim do mundo...

Cristina Baddini
Do Diário do Grande ABC
27/09/2013 | 07:00
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Robôs que se transformam em carros, pessoas que se livram do ‘fim do mundo’ quando estão dentro de seus automóveis, alta velocidade explícita, conquista através do poder do carro e muito luxo. Você já se deu conta dos conceitos que as propagandas dos automóveis estão passando? Filmes publicitários para a TV podem estimular comportamentos que comprometem a segurança no trânsito. É o aspecto mais nocivo das campanhas trabalharem o emocional do consumidor em favor do individualismo e competitividade exacerbados.

Deixando de lado valores como união, cooperação, solidariedade, inclusão e convivência, aspectos fundamentais para um trânsito mais humano e melhor qualidade de vida. Os consumidores também começam a adotar um comportamento de risco sob a falsa segurança propiciada nas propagandas de automóveis. Como construir a mobilidade urbana sustentável quando, além de diversos obstáculos, ainda não há cooperação dos fabricantes de automóveis?

O que fazer

A proporção de investimentos governamentais para pregar atitudes seguras no trânsito é equivalente a um décimo do volume de investimentos da indústria automobilística em suas propagandas no País. O poder da publicidade é avassalador e as três esferas de governo deveriam investir mais em educação no trânsito, que hoje está circunscrita e isolada em algumas iniciativas de campanhas em salas de aula e na semana de trânsito que se realiza em setembro de cada ano. Os governos sempre colocam que os recursos são muito reduzidos perto do que os fabricantes de automóveis gastam em publicidade. Uma alternativa real é usar parte do valor arrecadado das multas e DPVAT para essa finalidade por meio da mídia, mais precisamente da publicidade. A melhor maneira de mudar a consciência do povo brasileiro seria usar na criação publicitária meios de vender automóveis com responsabilidade social.

Regulamentação

O Estado também deveria ser mais firme como regulador do setor publicitário, evidentemente que não como censura, mas sim como já fazem outros países em que a regulamentação da publicidade certamente não permite anúncios como os do Brasil.

A sociedade organizada também deve participar nesse processo de busca da cidadania no esforço de reduzir acidentes de trânsito. Agora, a publicidade da indústria automobilística será seguida de uma mensagem educativa. É o começo, mas já é melhor do que nada.

Pelo mundo

A Nova Zelândia é taxativa ao proibir anúncios que exaltem a velocidade excessiva e na Inglaterra, também há restrições do tipo. Em muitos países, o que interessa é a segurança que o automóvel oferece, não o status que ele vai dar. Essa questão já está sendo discutida no Brasil e agora é lei que todos os carros do País tenham, até 2014, itens de segurança que venham de fábrica, como air bag e freios ABS. Os melhores carros não devem ser os mais rápidos e fortes, e sim os completos, com itens de segurança de série mesmo os de valores mais baixos.

É claro que não podemos atribuir à publicidade a responsabilidade exclusiva pelo mau comportamento dos motoristas no trânsito, mas devemos tentar transformá-la em uma grande aliada, na construção de uma sociedade mais harmônica, equânime e justa. Essa deve ser a função da comunicação social. Queremos veículos em que equipamentos de segurança não sejam meros acessórios e pensar por que comprar veículos que são os mais rápidos que o limite de velocidade no Brasil, que é 120 km/h?

A indústria automobilística deveria se interessar pelo cliente vivo, até para manter seu mercado!

* Cristina Baddini é especialista em trânsito. Mande sugestões para o e-mail
crisbaddini@uol.com.br e visite o blog: olhonotransito.blogspot.com.
 




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