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Os homens invisíveis

O presidente do Senado, Renan Calheiros, tem toda a razão ao recusar-se a votar a Medida Provisória da Energia.

Carlos Brickmann
02/06/2013 | 07:02
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O presidente do Senado, Renan Calheiros, tem toda a razão ao recusar-se a votar a Medida Provisória da Energia: onde já se viu dar aos senadores apenas um dia para ler, estudar, debater e votar uma resolução tão importante?
O presidente do Senado, Renan Calheiros, não tem razão nenhuma para não votar a MP da Energia. Um dia de prazo é a conta dele; na conta dos cidadãos, entre 28 de maio, quando a medida foi aprovada na Câmara, e 3 de junho, quando caduca, o prazo é de pelo menos cinco dias. Dava para ler, discutir e votar.
O problema é que, entre os interesses do cidadão e o feriado, suas excelências preferem o feriado. Aí vem a sexta, quando, para eles, o trabalho não é habitual. E há o fim de semana. Se um doente tiver problemas num feriado, seu médico irá atendê-lo. Se o eleitor precisa de algo num dia útil, mas que fique entre um feriado e o fim de semana, pode tirar o cavalinho da chuva. Trabalhar cansa.
Na quarta, 29, bateram o ponto 57 nobres senadores. Mas no plenário havia quatro. Assim não dá para examinar medida provisória nenhuma, seja qual for o prazo disponível (na Câmara, a situação é parecida: 333 senhores deputados bateram o ponto e havia quatro no plenário). Estavam lá para bater ponto e ganhar o deles; mas cuidar dos interesses dos eleitores não rende nada. É outra coisa.
Em resumo, ninguém tem razão. O governo articulou mal; a Câmara demorou para votar (enquanto cada deputado estudava o melhor voto, para ele); o Senado tinha tempo para decidir, mas preferiu descansar.

Ninguém é de ferro.

Ganhando junto
O Tribunal de Contas da União apurou que 3.390 servidores federais ganham salários superiores ao teto do funcionalismo. Destes, 90% estão na Câmara e no Senado. O teto é de R$ 28 mil mensais, salário de ministro do Supremo. Total das despesas só com a parte que supera o teto: R$ 107 milhões por ano. E, como se vê na notícia anterior, o trabalho destes cavalheiros nem é tão cansativo assim.

Farra geral
No tumulto do Bolsa Família, a Caixa descobriu que 692 mil famílias têm dois cadastros e recebem dois auxílios (talvez seja por isso que, como disseram à TV, haja quem compre jeans de R$ 300 para a filha e pingue mensalmente algum na poupança).
Custo do pagamento ilegal? R$ 100 milhões por mês.

Eu, hem?
A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, responsável pelo Bolsa Família, preferiu esquecer a confusão e manter suas férias na Disney. Bobagem: se é para conviver com ratos, João Bafodeonça, um Pateta e os Irmãos Metralha, e se divertir com nossa cara de patos, melhor seria ter ficado por aqui.
Vai e volta
A ministra Tereza Campello volta amanhã. É essencial que esteja no País para acompanhar o rigoroso inquérito sobre o que ocorreu no Bolsa Família.
A propósito, como já informou o ótimo escritor Luiz Fernando Veríssimo, rigoroso inquérito não é a mesma coisa que inquérito rigoroso: é exatamente o contrário.

É Brasil na cabeça!
O caro leitor deve festejar: desde ontem, pode trabalhar para ganhar seu sustento e o de sua família. Os cinco meses por ano em que trabalha apenas para pagar impostos terminaram na sexta, 30. A conta, segundo cálculos do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) inclui impostos, taxas e contribuições cobrados por União, Estados e municípios. O mundo, mais uma vez, se curva ante o Brasil: enquanto nós, brasileiros, trabalhamos 150 dias por ano para pagar impostos, os mexicanos trabalham 91; os norte-americanos, 102 dias. Só perdemos para a Suécia, 185 dias. Em compensação, poucos ali precisam de escola particular (inclusive para línguas), e a Saúde está incluída nos impostos.

Público e privado
Enquanto em São Paulo o prefeito petista Fernando Haddad autoriza a derrubada de mais de 1.000 árvores, muitas delas remanescentes da Mata Atlântica, para facilitar a construção de um condomínio particular de alto luxo, em Porto Alegre o prefeito José Fortunati, do PDT, luta contra manifestantes de um movimento que tem parceria com o Ministério da Cultura para derrubar 115 árvores e concluir a duplicação da Avenida Beira-Rio. Pelo jeito, derrubar árvores só é bom quando beneficia os interesses privados, não os públicos. Em Porto Alegre, as 115 árvores serão compensadas por 400, mais 2.000 na revitalização da orla do Rio Guaíba; a derrubada tem licença ambiental e decisão judicial. A obra ficou 43 dias parada, enquanto os manifestantes se recusavam a sair.
Mas como lutar contra quem partidariza até mesmo árvores e arbustos?

Voa, dinheiro!
De Aziz Ahmed, O Povo: ‘(...) Sander Douma, que projetou o velódromo do Rio, classificou de loucura querer substituir o velódromo construído para o Pan-2007, afirmando que ele poderia ser utilizado na Olimpíada-2016. (...)’.
O ex-prefeito Cesar Maia alfineta: ‘Este custou R$ 14 milhões que, atualizados, seriam menos de R$ 20 milhões. O novo vai custar quase R$ 140 milhões’.
 




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