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O lado sem charme da sociedade yuppie
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
22/02/2001 | 18:54
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O jovem Bret Easton Ellis, durante a década de 90, aos 27 anos, escreveu um polêmico livro sobre a sociedade yuppie e, por isso, chocou os Estados Unidos. Antes de ser publicado, a Igreja e entidades antiviolência já protestavam contra a obra que passou a ter seus trechos publicados nos principais jornais do país.

Sua adaptação para o cinema chega nesta sexta às salas da região e de São Paulo e leva o título homônimo ao livro, Psicopata Americano (American Psycho, EUA, 2000). Dirigido por Marry Harron, o longa-metragem tem ares de produção independente, mas grande parte do orçamento foi consumida no pagamento dos direitos autorais a ícones dos anos 80. Para a trilha sonora traduzir a alma desta geração, a produção gastou cerca de US$ 300 mil só com duas das canções: Sussudio, de Phil Collins, e Hip To Be Square, de Huey Lewis and The News.

O psicopata do título é Patrick Bateman (Christian Bale), um executivo yuppie que divide seu tempo livre – e seu salário pomposo – entre cuidados estéticos, jantares em restaurantes da moda e encontros com garotas de programa. Trabalha em Wall Street, como todo yuppie pré-crash da Bolsa de Nova York, em 1987, no ramo de fusões e aquisições de empresas. Ou pelo menos finge que trabalha, pois prefere curtir música no walkman e falar ao telefone.

Assim, ele se torna um profundo conhecedor de músicos que fizeram sucesso na época: Genesis, Robert Palmer, Chris DeBurgh, Katrina & The Waves e Whitney Houston, enquanto sua secretária, Jean (Chlöe Sevigny, de Meninos não Choram), cuida da parte burocrática.

Habilidosa, a cineasta Mary Harron sabe conduzir o espectador a essse mundo de luxos, antes de surpreendê-lo: mostra os cuidados de Bateman com a pele, os exercícios físicos, a dieta balanceada, os ternos bem cortados. Sua namorada, Evelyn (Reese Witherspoon), alpinista social, parece ser mais um apetrecho de sua vestimenta sofisticada.

Seus colegas, tão ou mais egocêntricos, concorrem em tudo, até na estética de seus cartões de apresentação. Um deles é Paul Allen (Jared Leto), que desperta uma profunda inveja em Bateman: seu emprego é melhor, seu cartão tem estilo único e, entre os amigos, é o único a conseguir reservas no restaurante mais badalado de Manhattan.

Bateman, o homem perfeito, dá lugar ao assassino em série. Mata um mendigo, por julgá-lo irritante e fracassado. E planeja a morte de Allen, o sujeito que o supera pelo cartão de apresentação. Entra aí a importância das canções, que servem como pano de fundo para a matança. O jovem yuppie discursa com eloqüência sobre as músicas que adora, como The Greatest Love of All, de Whitney Houston. É a trilha sonora do inferno, que faz cair sua máscara de sanidade.




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