``Só em 1984, dois anos antes de sua morte, Borges afirmou em um de seus últimos livros ter compreendido há pouco o que para ele era a felicidade', assinalou Salas, autor de ``Borges, una literatura autobiográfica', numa conferência em Madri sobre a vida e obra do autor de ``El Aleph'.

``Nao houve música em sua alma e em seus textos sempre fazia referência à sua cegueira, à sua tristeza e sua amargura' por nao ter conseguido o desejado amor tanto tempo buscado ao longo de sua vida, acrescentou Salas.

``Uma constante neblina ruidosa me persegue. A cegueira é um claustro, mas também uma libertaçao', escreveu Borges em seu ``Elogio das sombras'.

Inclusive, em 1975, reconhecia num poema como seu pesar mais profundo o fato de nao ter conhecido a felicidade. ``Cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer: nao fui feliz', escrevia nesse ano pouco depois da morte de sua mae, a quem ditou parte de sua obra.

``Suas máscaras e disfarces lhe permitiram dissimular suas afliçoes, solidao e tristeza', frisou o biógrafo argentino antes de afirmar que o próprio Borges lhe confirmou que um dia, dos anos 70, esteve a ponto de se suicidar.

``Pensei em suicídio sim, mas o tempo será meu suicídio, me disse Borges, quando tinha 84 anos', precisou Salas. Três anos mais tarde, Borges morreria em Genebra, mas por motivos de saúde.

``Nao vivi e gostaria de ser outro homem', tinha escrito 10 anos.