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O ippon que virou troféu

Para quem me conhece pessoalmente ou por alguma foto recente, pode parecer improvável, mas acredite, já tentei ser atleta

Carlos Ferrari
09/03/2011 | 00:00
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Para quem me conhece pessoalmente ou por alguma foto recente, pode parecer improvável, mas acredite, em um passado não muito distante já tentei ser atleta.

A coisa começou a acontecer por conta de minha proximidade profissional com o esporte. Trabalhei na então ABDC (Associação Brasileira de Desportos para Cegos), e depois assumi o desafio de presidir o CESEC (Centro de Emancipação Social e Esportiva de Cegos), uma das entidades mais tradicionais da prática paradesportiva do segmento no país.

De início, treinar judô foi uma alternativa que me pareceu interessante para perder peso e entrar dentro das estatísticas daquelas pessoas que, diante de tantos conselhos médicos e convite de amigos, acabam por aderir ao esporte.

Depois veio o prazer de treinar e de estar junto com todo o povo da academia não só durante o treino, mas também em competições e na costumeira "cervejada" para hidratar depois de tanto esforço físico. Rapidinho, o esporte que veio para emagrecer tornou-se mais um motivo para ida à churrascarias, festas, enfim para estar com os amigos.

Passaram-se os meses e a vontade de competir veio naturalmente. Como um aluno de música que aprende a tocar e logo quer fazer shows para mostrar sua arte, aderi à rotina de tentar ficar no peso de minha categoria, a cuidar das dores de pequenas lesões, enfim, lá estava eu federado e pronto para o combate.

Minha carreira como judoca, no entanto, foi curta. Rapidamente percebi que não levava muito jeito para a coisa e, entre lutas com um certo equilíbrio e algumas derrotas, teve aquela que veio para decretar minha aposentadoria. Do outro lado estava um grande atleta, faixa preta com currículo respeitado internacionalmente. Foram uns 14 segundos de luta e um ippon que mais pareceu uma trombada de caminhão. Dores no corpo por dias e uma total sensação de impotência diante do adversário me fizeram ver que não seria nos tatames que eu seria um campeão.

Alguns anos passados, olho para toda essa história e vejo naquele ippon uma grande vitória. Deixando a frase feita de lado, daquelas que falam que o que importa é competir, o fato é que foram momentos bacanas vividos com amigos, onde aprendi a admirar a modalidade e trazer para minha vida pessoal muito da filosofia de Jigoro Kano.

Aprendi, dentre muitos ensinamentos, que tanto no judô como na vida, mais importante do que derrubar alguém é saber cair. Não importa o nível do adversário, o importante é o preparo físico e mental para a queda, seja ela provocada por um golpe mais simples ou por um superopositor. Entendendo esse olhar, qualquer que seja o resultado final, sempre estaremos prontos para levantar e seguir em frente!




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