Funcionários denunciam falta de manutenção; prefeitura conta
com 11 ambulâncias, sendo 2 com UTI, além de 2 motolâncias
Bancos rasgados, remendos com esparadrapos, falta de iluminação interna e externa, pneus carecas, vazamentos de óleo, falhas em freios e ausência de desfibrilador - equipamento usado em casos de paradas cardiorrespiratórias.
Esses são apenas alguns dos problemas encontrados nas ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de Santo André. A denúncia foi feita por motoristas, que fotografaram os veículos e pediram anonimato. A Prefeitura conta com 11 ambulâncias, sendo duas de suporte avançado (com UTI), além de duas motolâncias.
De acordo com a denúncia, pelo menos quatro veículos da frota estão sucateados e circulam principalmente em bairros e regiões periféricas. "No Centro só ficam as melhores. Tudo para não chamar atenção", diz um dos funcionários.
Na prática, os reflexos diretos da falta de manutenção e dos consertos improvisados são a demora no atendimento aos chamados feitos ao 192 e risco de acidente durante o transporte.
A falta de desfibrilador também preocupa. Peças de reposição vitais para o funcionamento dos aparelhos estão em falta nos veículos de suporte básico há quase três meses. O problema, denunciado pelo Diário em junho, persiste. A Prefeitura havia informado que processo licitatório estava em andamento para aquisição das pás, que são placas adesivas responsáveis pela condução de eletricidade ao coração do paciente. Apenas os veículos com UTI contam com os aparelhos.
Por fora, alguns carros foram reformados, mas ainda apresentam avarias. Por dentro, a situação é degradante. Além da estrutura precária, os freios de mão não funcionam. "Nós encostamos e esterçamos na guia. Tem motorista que anda com ‘tocos' para travar o pneu." Já a falta de iluminação interna prejudica o trabalho dos auxiliares de enfermagem. "Já aconteceu do profissional não conseguir encontrar o acesso (venoso) do paciente por estar no escuro", relata.
Em casos mais graves, quando é necessário acionar ambulâncias com UTI, além do motorista, acompanham médico e auxiliar de enfermagem. Porém, em chamadas menos urgentes, é enviado o suporte básico apenas com o condutor e o auxiliar. "É pouco. Fazemos muito mais do que dirigir. Pegamos maca, ajudamos a carregar. Falta funcionários e há acúmulo de funções."
GASTOS
O Ministério da Saúde informou que, por ano, repassa R$ 2,4 milhões a Santo André para manutenção da frota. No entanto, reparos raramente são percebidos. Quando são concluídos, funcionários afirmam que peças de veículos já afastados por falta de condição de uso é que fazem a substituição. "Para onde vai o dinheiro? Quando o motorista bate a ambulância, é ele quem paga. É feito desconto do salário para o reparo. Mas, estranhamente, os carros continuam sem manutenção." Por mês, os condutores recebem R$ 1.300.
Veículos afastados são incorporados à frota
Dois veículos que foram descartados pelo Corpo de Bombeiros por estarem fora de condições de uso são utilizadas pela Prefeitura para transporte de pacientes que passam por consultas e exames em Santo André. Por fora foram adaptadas, são brancas e têm detalhes em azul e amarelo.
A informação é de um ex-funcionário, que trabalhou por seis anos em cargo de administração do Samu. Segundo ele, os dois veículos servem de reserva técnica, ou seja, deveriam ser colocados nas ruas apenas quando uma ambulância é encostada para conserto. "Na minha época, em algumas noites ficávamos com três ambulâncias a menos nas ruas porque não tínhamos veículos de reserva."
Ontem, o Diário flagrou o transporte de um paciente da região do Centreville até o Pronto Atendimento da Vila Luzita. Os carros são empoeirados e têm equipamentos enferrujados. "Por dentro são sucatas. Não há condição de transportar ninguém em segurança. Deveriam estar paradas", denuncia o ex-funcionário.
ESTRESSE
A precarização do serviço prestado também prejudica o dia a dia dos funcionários do Samu. Segundo denúncia, o descontentamento é geral. Estresse, sobrecarga de trabalho e acúmulo de horas extras estão entre as principais reclamações. Quando profissionais descontentes manifestam-se contrários às ordens recebidas, são perseguidos politicamente ou transferidos de posto de trabalho. O último denunciante citado pediu exoneração do cargo em 2007 após ter sofrido represálias.
Procurada durante dois dias, a Prefeitura de Santo André não se pronunciou sobre as denúncias.
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