Setecidades Titulo
Assoreamento afeta 1/4 da represa Billings
Samir Siviero
Do Diário do Grande ABC
06/09/2003 | 17:54
Compartilhar notícia


Quase 1/4 da represa Billings está tomado pelo assoreamento, que a atual temporada sem chuvas tornou muito mais evidente agora. Apesar de considerado um problema crônico, faltam dados para estabelecer exatamente quanto a represa perdeu em capacidade de armazenamento e produção de água para o acúmulo de terra provocado, principalmente, por assentamentos urbanos ao longo das últimas quatro décadas.

Mesmo a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), umas das herdeiras de parte das funções da antiga Eletropaulo estatal e responsável hoje pela operação da represa, não tem dados atualizados sobrem o impacto do assoreamento da represa. Mas fará ainda esse ano um estudo para definir a extensão do problema.

O último dado do Dossiê Billings, atualizado anualmente pela ONG (Organização Não Governamental) Billings, Eu te Quero Viva, de março desse ano, dá conta de que ao menos 22% da represa está assoreado. O ambientalista Carlos Bocuhy, coordenador da ONG, porém, acredita que o encolhimento da represa seja maior ainda, já que o estudo é baseado em dados de 1997 da Eletropaulo, à época responsável pela represa.

Construída em 1925 com capacidade de armazenamento de 1,3 bilhão de m³ de água, 900 km de margens, 127 km² de espelho d’água e produção natural de 15 m³/s de água, atualmente, o reservatório produz 12 m³/s, que abastecem o Grande ABC, parte de São Paulo e a Baixada Santista, considerando ainda o bombeamento para a geração de energia na usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão. Além de prejudicar o armazenamento e produção de água, os bairros surgidos em seu entorno tornam o reservatório ainda mais poluído, já que o lançamento de esgoto, jogado in natura na bacia, aumenta a cada ano e, com menos água e mais esgoto, a represa fica paulatinamente mais comprometida.

A estiagem atual tornou pontos de assoreamento visíveis no Grande ABC, mas locais como o Alvarenga, em Diadema, e o Núcleo Bananal, em São Bernardo, por exemplo, já não têm vestígios de que um dia a represa chegou nos locais onde hoje há casas, campos de futebol e hortas.

Acostumado a pescar na Billings, o aposentado Antônio Rodrigues Lopes, 65 anos, representa bem a mudança que o assoreamento da represa causou no cotidiano dos moradores do entorno do reservatório, já que hoje ele cuida de uma horta no local onde há alguns anos estava seu barco. “Há cinco anos atrás, eu amarrava o barco do lado da minha casa. Quando ia pescar, saía de casa, subia no barco e seguia pela represa. Hoje em dia, tenho de guardar o barco dentro de casa, por causa de assaltos, e quando quero pescar, tenho de carregá-lo por uns 100 m até chegar na represa e, só então, conseguir navegar.” No trecho entre a casa de Lopes e a represa, ele passa pela horta, um campo de futebol e um cercado com cavalos pastando, áreas que há cinco anos estavam submersas.

A geógrafa e doutora em Ciências pela USP (Universidade de São Paulo) Maria Eliza Miranda explica que o assoreamento na Billings, que ela acredita ter atingido bem mais do que 1/4 do reservatório, tem como principal responsável a ocupação irregular, e não a seca. “A ocupação e a falta de política de fiscalização urbana fizeram com que chegássemos a essa situação, que é difícil de ser contornada, principalmente pelo silêncio que existe sobre o problema que é o assoreamento.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;