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Queridos Amigos: chocar para transformar
Márcio Maio
Da TV Press
14/03/2008 | 07:07
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Logo que recebeu a sinopse de Queridos Amigos e leu as primeiras informações sobre o debochado Benny, Guilherme Weber descobriu que o personagem era inspirado no escritor Caio Fernando Abreu. Mas só depois de uma intensa pesquisa sobre o comportamento do artista plástico Andy Wahrol é que o ator definiu realmente que estilo de interpretação adotaria para o gay ácido da minissérie de Maria Adelaide Amaral.

“Busquei essas características em alguns filmes, fotos e livros sobre o Andy. Dei ao Benny um jeito de fumar, de se movimentar, que eu encontrei nessas pesquisas”, justifica.

Dentro desse trabalho de composição, o que poderia ser o maior obstáculo para Guilherme acabou se tornando um grande aliado. O ator, de 33 anos, precisava convencer na pele de um homem quase dez anos mais velho que ele. Na história, Benny tem por volta de 40 anos e, apesar do temperamento explosivo e do humor negro, deveria ter o visual de um homem de meia-idade.

Com isso, pela primeira vez, Guilherme pôde aparecer na TV com seus cabelos na cor natural, grisalhos. “Sempre tive que pintar, mas agora foi uma sorte eu ter essa cabeça branca com tão pouca idade”, diverte-se.

‘FEBRE’ GAY

Sobre interpretar um gay, Guilherme afirma que o importante é conseguir mostrar que, por trás de toda a rebeldia e a crueldade que o personagem sugere, existe a carência e a descrença de um homem que viveu todos os preconceitos da época da ditadura.

Como era muito novo na década de 1980, Guilherme leu vários textos do escritor e ativista gay João Silvério Trevisan. “Não é sadismo, a função do Benny é chocar para tentar transformar. Essa é a verdadeira essência dele”, diz.

Guilherme conta que as manifestações de telespectadores gays em relação a Benny são cada vez mais freqüentes. Quase todos com críticas à postura do personagem. E depois que foi ao ar uma cena em que o editor beija, à força, o escritor Pedro, de Bruno Garcia, o ator vem recebendo elogios por ter protagonizado o primeiro beijo entre homens na teledramaturgia nacional.

Mas Guilherme não concorda com os comentários e aproveita para condenar a postura atual da televisão em relação à ‘febre’ de personagens gays nas novelas. “Acho que a sociedade poderá comemorar quando for um beijo de amor, com direito a música melosa ao fundo. O que fazem hoje em dia é tentar calar a boca de um público que tem dinheiro pra gastar”, critica.

Com o trabalho na minissérie, Guilherme está aprendendo a diferenciar o público deste formato dos telespectadores que costumam assistir às novelas. Segundo o ator, as pessoas que atualmente o param para comentar algo sobre Queridos Amigos se aproximam mais da platéia que está acostumado a receber no teatro. E também dos espectadores que assistiram aos longas-metragens que contaram com sua participação. “É impressionante como é diferente. É como quando você faz um filme comercial e outro do circuito mais alternativo”, justifica.



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