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Vestibular: às vésperas das provas, literatura vira resumo
Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
29/10/2002 | 20:44
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Ao vestibulando que ainda não leu as obras exigidas pelos principais vestibulares, como o da USP (Universidade de São Paulo) e o da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), resta agora se apoiar em resumos e na explicação dos professores durante as aulas. A poucas semanas das provas, não adianta começar a leitura, porque isso só deixaria o estudante ainda mais nervoso e inseguro. Essa a orientação dos professores de literatura de cursinhos.

“Agora não dá mais tempo. São oito livros na Fuvest, por exemplo. Se ele começar a ler agora, vai ficar estressado e não vai conseguir”, disse o professor de Literatura do Singular/Anglo Vestibular, Fernando Thomaz. A orientação, agora, é ler “bons” resumos, que são produzidos pelos próprios cursinhos. Os resumos também podem ser encontrados em livrarias.

Resumos nunca substituem a obra, alerta o professor de Literatura e ator Milton Andrade. “O ideal é ler o livro. O romance não é o que é contado, mas, sim, como é contado. Machado de Assis, por exemplo, faz uma análise profunda da psicologia de cada personagem, e isso o resumo não tem”, disse. Andrade também concorda que não há mais tempo para começar a ler. “Irá ler correndo e porcamente, e assim não adianta.”

Aula – É nos resumos e na explicação do professor que os vestibulandos confiam para enfrentar o vestibular. O estudante André Jardim Domingues, 17 anos, vai prestar Farmácia na USP e na Unesp (Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho). Dos oito livros obrigatórios da Fuvest, fundação ligada à USP responsável pelos vestibulares, ele leu apenas três. “Mas com o resumo e a aula sobre a obra, dá sossegado. Às vezes o livro é tão complexo que você lê e ainda precisa da explicação, como o Primeiras Estórias (de Guimarães Rosa), que eu li e precisei de ajuda.” Para as demais obras, ele irá confiar nos resumos.

Fernanda Lima e Silva, 20 anos – que prestará Fuvest, Unicamp e PUC (Pontifícia Universidade Católica) para Relações Internacionais, Ciências Sociais e Jornalismo – decidiu não ler os livros e aproveitar o tempo para estudar. “No ano passado, li todos os livros e acho que perdi tempo. Com o resumo, a aula do professor sobre o livro e as leituras que tive durante o colégio, dá para ir bem no vestibular”, disse.

O objetivo da lista obrigatória de obras, segundo o supervisor da Fuvest, o professor José Coelho Sobrinho, é incentivar o jovem à leitura. “A literatura não é apenas ficção, ela mostra o retrato social e a psicologia de uma época, amadurece o aluno. A obra deve ser lida com calma, degustada como se fosse um prato. O resumo perde-se isso, não traz o estilo do autor”, disse.




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