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'Corpo a Corpo': 20 anos de uma trama atual
André Bernardo
Da TV Press
23/11/2004 | 10:54
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Um Fausto moderno. É assim que pode ser definida a trama de Corpo a Corpo, novela de Gilberto Braga que completa 20 anos de sua estréia na Globo na próxima sexta-feira. Tal e qual a famosa tragédia do escritor alemão J.W. Goethe, Corpo a Corpo também falava de ambição humana e pacto demoníaco. A história, escrita em parceria com Leonor Bassères, morta recentemente, tem como centro Eloá, personagem de Débora Duarte, que acreditava ter chances de se destacar na empresa onde trabalhava o marido, Osmar, interpretado por Antônio Fagundes. Para atingir seu objetivo, Eloá não hesitou sequer em fazer um pacto com um homem, aparentemente o Tinhoso em pessoa, que modificou sua vida por completo. "A novela não falava simplesmente sobre quem ganhava mais. Ela discutia a enorme competitividade que existe na relação homem/mulher. O tema é abrangente e a abordagem do Gilberto foi bastante oportuna", diz Débora.

Mas, como tudo na vida tem um preço, o que Eloá teve de pagar foi bem alto. Afinal, a ascensão profissional da personagem custou o seu casamento com Osmar. Tudo não passava, na verdade, de um plano de Tereza, personagem de Glória Menezes, que criou o coisa-ruim só para se vingar de Osmar, o homem que a desprezou no passado. Quando a verdade veio à tona, já no último capítulo, Tereza passou a ser perseguida pelo Diabo que ajudou a criar. Verdadeiro ou não, o Mefistófeles de Corpo a Corpo abarrotou a caixa de correspondência do ator que o interpretou: Flávio Galvão. "Nunca recebi tanta carta na vida. Todas as mulheres queriam fazer pactos comigo", afirma. O assédio foi tão grande que, certa vez, o ator passeava tranqüilamente num shopping do Rio quando foi obrigado a se refugiar numa sapataria. Do lado de dentro, simplesmente não acreditava na multidão que se formou do lado de fora só para vê-lo de perto. "Quando a novela acabou, passei um mês inteirinho em Nova York só por precaução", diz ele.

Mas o Diabo de Flávio Galvão não foi o único vilão de Corpo a Corpo. Havia outros. Como a socialite Lúcia Gouvêia, de Joana Fomm. Mulher que buscava o sucesso financeiro por meio de casamentos arranjados, ela mantinha um caso às escondidas com Amauri, um ex-presidiário vivido por Stênio Garcia. "Não tenho qualquer preferência por vilãs, mas acho que o público gosta de me ver rica e má. Sou boa nisso", afirma a atriz. No final da novela, os personagens de Joana e Stênio morreram queimados num incêndio em uma boate. A cena, gravada num estúdio montado na praia, deu um baita susto nos atores. Ventava tanto que o cenário foi consumido pelas chamas em fração de segundos. "Nós quase morremos mesmo. Mas valeu a pena. A cena ficou linda no ar", diz.

Outra atriz que guarda ótimas recordações de Corpo a Corpo é Zezé Motta. No papel da paisagista Sônia, ela teve um romance inter-racial com Cláudio, vivido por Marcos Paulo. Como não poderia deixar de ser, o casal comeu o pão que o diabo amassou nas mãos do empresário Alfredo Fraga Dantas, de Hugo Carvana, o pai do rapaz. "O público rejeitava muito aquele romance. Recebia cartas pedindo que evitasse cenas de beijo na boca", afirma o autor Gilberto Braga. Numa das muitas cartas que a Globo recebeu, um telespectador mais exaltado e preconceituoso dizia que Marcos Paulo devia estar mesmo precisando de dinheiro para se sujeitar a beijar na boca a atriz Zezé Motta.

O inferno de Sônia, porém, só teve fim quando ela, numa autêntica atitude de heroína de telenovela, doou sangue para salvar a vida de Alfredo. Ao sair da UTI, o ricaço caiu em si e implorou o perdão do filho e da futura nora. Assim, como prova de que havia se regenerado, pediu que eles se casassem e ainda promoveu uma linda cerimônia de casamento em sua mansão. "Nas ruas, o público vibrou com a atitude da personagem. As pessoas me parabenizavam por eu ter conseguido virar o jogo contra o Alfredo. Às vezes, a euforia era tanta que eu até esquecia que tudo não passava de uma novela", diz Zezé Motta, às gargalhadas.




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