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Criança é vítima de erro médico
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
05/10/2006 | 22:00
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O instinto paterno salvou a pequena Agatha Emanuelly de Oliveira Hetenyi, 2 anos, em maio deste ano. Levada ao Hospital Itacolomy, em São Bernardo, com sintomas de febre alta e diarréia, a menina teria sido vítima de um suposto diagnóstico errado feito pelo médico colombiano Beimar Manquillo Vivas. Ao invés de indicar tratamento para pneumonia com derrame pleural, o profissional – que estaria em atividade ilegal no Brasil – receitou medicação para infecção urinária e liberou Agatha para cuidados caseiros.

O pai da menina, Marco Aurélio Oliveira, desconfiou desde o começo do diagnóstico e da prescrição. “Quando o médico me chamou para explicar o procedimento adotado, fiquei bastante surpreso, já que Agatha estava completamente entregue, com sonolência, mesmo depois de um dia inteiro no soro”, conta.

A decisão, tomada junto com a mãe de Agatha, Úrsula Hetenyi, foi procurar imediatamente a pediatra da família. No consultório, a desconfiança foi confirmada. “Logo que bateu o olho em minha filha, ela disse que o quadro era grave. A indicação que nos deu foi a de procurar outro hospital com urgência. No diagnóstico possível, ela já mencionava pneumonia pleural”, explica Marco Oliveira.

Apressados, os pais correram para o Hospital Beneficência Portuguesa, em Santo André, onde o setor de Pediatria logo encaminhou Agatha para internação. Com pneumonia, a menina passou cinco dias em tratamento intensivo. “Diferentemente do que aconteceu no Itacolomy, o quadro foi rapidamente detectado e a medicação correu de forma tranqüila e segura”, conta o pai.

De acordo com o professor titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC, Drauzio Viegas, o tipo de pneumonia desenvolvido por Agatha é grave (pode levar à morte), porém, de dignóstico fácil. “Os sintomas são a dificuldade respiratória, tosse seca, febre, sonolência e mudança de cor nas unhas e nos lábios”, detalha.

O pediatra diz que o exame primordial para detectar a doença é mesmo o raio X. “Através da análise da chapa, o médico consegue perceber se existe o que chamamos de água no pulmão, característica da pneumonia pleural. Se o diagnóstico for positivo, a internação é imprescindível”, ensina.

O possível erro médico, porém, se tornou mais preocupante quando os pais de Agatha resolveram cobrar satisfações do médico Beimar Manquillo Vivas. “Ligamos para o hospital para buscar informações sobre ele, mas não fomos atendidos nesse primeiro momento. Os funcionários não quiseram passar o nome completo do médico nem seu registro junto ao Conselho Regional de Medicina”, relata Marco Aurélio Oliveira.

A decisão seguinte foi procurar a polícia. A família registrou boletim de ocorrência e passou a ser acompanhada pelo 1º DP de São Bernardo, que abriu inquérito policial para averiguar as responsabilidades do hospital privado, que é de propriedade da Amesp Saúde. O convênio é o responsável pela atuação dos profissionais contratados e também pela fiscalização dos procedimentos adotados no tratamento de pacientes. De acordo com informações que teriam sido passadas pelo diretor do hospital à família de Agatha, o médico colombiano teria sido contratado como temporário, não sendo, portanto, membro efetivo do quadro de funcionários.

“Essa justificativa, porém, não isenta a Amesp de prestar esclarecimentos sobre o atendimento prestado à minha filha. Somos clientes de uma prestadora de serviços de saúde, que deve cumprir suas obrigações. Minha filha está curada da pneumonia, mas poderia ter sido diferente”, diz Marco Aurélio.

Procurado pela reportagem, o Hospital Itacolomy afirmou que o médico Vivas fazia parte de uma equipe terceirizada e que, na ocasião do credenciamento dele no sistema, a documentação era reconhecida pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina). O hospital afastou o profissional dos plantões e espera o resultado da sindicância aberta no Cremesp pelos pais da criança.Mas a informação recebida pela família de Agatha seria diferente. Segundo e-mail enviado pelo Cremesp, o médico colombiano tinha licença apenas para estudar no Brasil e, mesmo assim, com prazo de validade vencido em 2003. O médico não foi encontrado para comentar o caso.



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