O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, celebrado na quinta-feira (26), é mais do que uma data simbólica
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O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, celebrado na quinta-feira (26), é mais do que uma data simbólica. É uma oportunidade de reflexão e de reafirmação de compromissos. Deve ser encarado como uma semente que precisa se transformar em ações concretas, como um tambor que ressoa memórias vivas e urgentes da luta antirracista no Brasil.
Para enfrentar a discriminação racial de forma efetiva, especialmente no contexto educacional, é fundamental compreender como o racismo estrutural acontece e se perpetua em nossa sociedade. Como educador e historiador, defendo que esse enfrentamento não pode ser pontual nem restrito a projetos específicos, precisa estar incorporado de forma permanente aos processos educativos, em todos os níveis e espaços, da educação infantil à formação corporativa.
A discriminação racial não é um ato isolado, mas produto direto de uma estrutura histórica que marginaliza corpos, saberes e práticas negras. Isso se manifesta na ausência de referências afro-brasileiras nos currículos escolares, no despreparo de muitos educadores para lidar com questões étnico-raciais e na forma como pessoas negras seguem sendo estigmatizadas, punidas ou invisibilizadas.
A educação antirracista não deve ser tarefa exclusiva das pessoas negras, pois é um compromisso ético, político e pedagógico de toda a sociedade. Exige enfrentamentos consistentes, investimentos contínuos e a disposição de governos e instituições para lidar com os conflitos raciais com seriedade, escuta qualificada e ação transformadora.
No livro Manual Prático de Educação Antirracista, publicado pela Cortez Editora, proponho alguns eixos centrais para orientar ações educativas comprometidas com o combate ao racismo desde as instituições escolares. Entre eles, destaco a importância de criar espaços de estudo e escuta com especialistas negros; envolver famílias, lideranças comunitárias, artistas, pesquisadores e coletivos periféricos em práticas culturais e pedagógicas que fortaleçam o pertencimento e a identidade dos estudantes.
Também defendo que organizações públicas e privadas desenvolvam políticas antirracistas institucionais, com protocolos claros de acolhimento e escuta ativa diante de denúncias de discriminação. É essencial promover conteúdos que representem pessoas negras como protagonistas, líderes e vencedoras, rompendo com a narrativa que insiste em colocá-las apenas em contextos de dor ou resistência.
Mais do que ações pontuais ou simbólicas, o 3 de Julho deve mobilizar planos de ação permanentes, com metas claras, monitoramento efetivo e participação ativa da sociedade civil. Não basta discutir o racismo, é preciso combatê-lo estruturalmente, por meio de decisões políticas, pedagógicas e institucionais.
Esse combate exige planejamento, investimento e, acima de tudo, responsabilidade coletiva. A educação não é neutra. Ou ela reforça as estruturas que excluem, ou se compromete com a inclusão.
Allan Pevirguladez é educador e consultor antirracista do Instituto Vini Jr. e criador do projeto Música Popular Brasileira Infantil Antirracista.
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