Número corresponde aos dados de Sto.André, Mauá e Ribeirão; após 6 meses, bebê de S.Bernardo que nasceu com 440 gramas se aproxima da alta
Um a cada dez bebês nascidos na região é prematuro. De janeiro a outubro deste ano, foram registrados 5.074 nascimentos em três municípios (Santo André, Mauá e Ribeirão Pires), sendo que 521, ou 10%, nasceram antes das 37 semanas de gestação, ou seja, são considerados prematuros. O número de bebês nessas condições pode ser ainda maior, já que as Prefeituras de São Bernardo, São Caetano e Diadema não informaram os dados – Rio Grande da Serra não possui maternidade. (Veja dados por município e do Estado na tabela abaixo)
Na comparação com 2023, o número de prematuros nascidos na região diminuiu 14%. Nos dez primeiros meses do ano passado, nasceram 610 bebês com prematuridade de um total de 5.712 partos realizados nas três cidades. A queda condiz com a redução apresentada no Estado, sendo que de janeiro a setembro de 2023 São Paulo contabilizou 47.514 crianças prematuras, ante 43.871 no mesmo período deste ano – diminuição de 7,6%.
A taxa regional de prematuridade se assemelha ao índice nacional e também ao mundial. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 300 mil bebês nascem prematuros no Brasil por ano (12% do total de partos) – o País ocupa o décimo lugar no ranking mundial de nascimentos prematuros. Um relatório divulgado em 2023 pela OMS (Organização Mundial de Saúde) demonstrou que 10% dos nascimentos no mundo são prematuros.
Os fatores de risco para prematuridade são diversos, mas os principais são a hipertensão e infecção materna, conforme explica a neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Helena, de São Bernardo, Élidi Ayache Scordamaglio. A médica destaca a importância e a necessidade da realização do pré-natal durante a gestação como forma de prevenção à saúde da mãe e do bebê.
Do total de prematuros nascidos neste ano no Grande ABC, 10%, ou 52 crianças, morreram. A supervisora de Enfermagem do Hospital e Maternidade Santa Helena, Rubyane Simonini Schilder, explica que os avanços na medicina neonatal nos últimos anos foram fundamentais para que bebês prematuros tivessem mais chances de sobreviver e que a sobrevivência de bebês com menos de 500 gramas é um processo complexo, que envolve diversas etapas e cuidados específicos.
“Esse tipo de cuidado exige uma estrutura preparada para o atendimento integral, que vai desde incubadoras especiais até medicamentos adaptados para recém-nascidos prematuros, visando estabilizar cada órgão de forma a possibilitar um desenvolvimento o mais próximo possível do esperado”, relata Rubyane.
PEQUENO MILAGRE
Superando todas as estatísticas médicas, a pequena Liz Rodrigues da Silva, de apenas seis meses, lutou contra todas as adversidades impostas pela imaturidade extrema, condição abaixo da prematuridade, e se prepara para conhecer o mundo pela primeira vez. A pequena são-bernardense nasceu com apenas 440 gramas e 26 semanas de gestação no Hospital e Maternidade Santa Helena.
Para se ter noção do tamanho da Liz ao nascer, seu peso estava próximo ao de um guarda-chuva grande, que pesa em torno de 420 gramas. A equipe médica da unidade hospitalar acredita que ela seja a menor bebê da história nascida na região na rede particular de saúde. Hoje, com 2,8 kg, a bebê é chamada pelos médicos e familiares de pequeno milagre, pois a viabilidade de sobrevivência de um prematuro com menos de 500 gramas é muito baixa, conforme explica a neonatologista Élidi Ayache Scordamaglio.
Por causa da imaturidade, Liz está desde o início da sua vida sob cuidados intensivos na Unidade de Terapia Neonatal da maternidade. A bebê ficou entubada por cerca de quatro meses, somando diversos períodos, e chegou a um quilo quando completou um mês e 19 dias – marco extremamente celebrado pela família e pelos profissionais que acompanham a pequena, formada por equipe multidisciplinar com médico, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, entre outros.
Além dos cuidados médicos, a evolução do quadro de Liz também é atribuída à fé da mãe da bebê, a professora Karine Cristina Rebeca da Silva, 41. Mãe de um jovem de 19 anos, a docente sempre sonhou em ter uma menina, porém desistiu do objetivo de aumentar a família devido aos problemas de saúde. De 2018 a 2022, Karine teve três AVCs (Acidentes Vascular Cerebral), e no ano passado descobriu que estava grávida, aos 40 anos. Devido a esse histórico, a gestação foi considerada de risco e por conta disso o acompanhamento médico foi intensificado, para garantir a sua saúde e da bebê.
Após 26 semanas de gestação, a bebê entrou em sofrimento fetal e foi realizada uma cesária de emergência – Karine já estava internada no hospital havia um mês. “Quando nasceu, a Liz cabia na palma da minha mão, era muito pequena. Assim que peguei no colo ela abriu o olho e deu um miadinho, não foi nem um choro. Foi incrível”, contou a mãe.
Após o nascimento, a bebê precisou ser reanimada e foi levada para a incubadora, pois, segundo a médica neonatologista, na condição de prematuridade extrema o recém-nascido não consegue sobreviver de forma natural devido à falta de formação dos órgãos.
Karine Cristina, mãe da prematura Liz, acredita que a fé, o amor e a positividade, tanto os seus, quanto os da equipe, foram elementos essenciais para a recuperação da bebê. “Nunca cheguei ao hospital velando a minha filha. Todo medo e incerteza sobre o seu desenvolvimento ficava da porta para fora. Ela é meu presente, minha princesa e o meu sonho.
Então, apesar das incertezas, sempre acreditei. Nos primeiros dias após o seu nascimento, a doutora Élidi me explicou que a situação era difícil, pois em anos de profissão, e até mesmo o hospital, nunca tinha desenvolvido um bebê com esse peso, mas ela disse que a Liz seria o nosso milagre. E foi”, comentou Karine.
Todos os dias, a mãe conversa com a pequena Liz, lê histórias na ponta da incubadora e celebra os pequenos avanços, como o acompanhamento da bebê com os olhos durante os estímulos, os pequenos gemidos em respostas às brincadeiras e o aumento no volume da alimentação. Hoje, a bebê recebe cerca de 10 ml de leite e a expectativa é que ela consiga avançar para 40 ml nas próximas semanas.
Sobre possíveis sequelas, comuns em prematuros, como déficit cognitivo e motor, por exemplo, a coordenadora médica da UTI Neonatal da maternidade, Luciana Villela Ciconelo, explica que vai depender da continuidade de desenvolvimento da menina e só será possível saber com acompanhamento médico nos próximos anos. “Ela vai embora do hospital respirando sem aparelhos e mamando pela boca, além de todas as outras conquistas. Essas marcas são significativas e nos deixam muito felizes”, diz.
Sem saber ainda quando vão para casa, a mãe, Karine Cristina, já comprou roupas combinando na esperança de passar o Natal com a pequena Liz. Ela e o marido, Wellington José da Silva, 41, estão contando os minutos para poder apresentar os familiares e a casa para a bebê. “Todos os dias venho pronta para levar ela embora, sei que está chegando o momento, e mal consigo acreditar, por tudo o que passamos e tudo o que ela venceu”, celebra Karine.
Apesar de não ter informado a família ainda, a expectativa da equipe médica é que a pequena Liz receba alta no dia 20 deste mês e possa finalmente conhecer seu quarto, seu irmão mais velho, seus avós e todos os outros membros da família, além de poder explorar o mundo com os pais fora das paredes do hospital.
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