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São Caetano é a sexta cidade mais poluída do País em ranking global

Estudo World Air Quality analisa 38 municípios em território nacional; verticalização e excesso de carros pesam; Mauá fica em 11º lugar

Lays Bento
25/03/2024 | 07:51
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FOTO: Celso Luiz/DGABC


São Caetano é a sexta cidade do Brasil com o ar mais poluído. Cada m³ (metro cúbico) de oxigênio respirado pela população no município carrega 15,9 microgramas de partículas de sujeira com tamanho de até 2,5 micrômetros – nível que excede em pelo menos três vezes o parâmetro recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A informação, a partir de dados do ano passado, é do estudo global World Air Quality, da IQAir. 

A análise da plataforma digital compilou mundialmente dados de pelo menos 30 mil estações de monitoramento, avaliando poluentes mais comuns na mensuração de agências internacionais em impactos significativos na saúde humana e no meio ambiente.

Ao todo, foram analisadas 38 cidades brasileiras, sendo 17 no Estado de São Paulo. Xapuri, no Acre, lidera o ranking nacional, enquanto Osasco, a segunda na classificação geral, é a primeira paulista. Mauá, no Grande ABC, ocupa a 11ª posição.

São dois os principais motivos para que São Caetano esteja entre as dez cidades mais poluídas do País, segundo a ambientalista Marta Marcondes, professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), bióloga e também coordenadora do Projeto IPH (Índice de Poluentes Híbridos).

Em primeiro lugar, está a crescente verticalização imobiliária. Em segundo, como consequência do adensamento populacional, vem o excesso de veículos. 

Dados do último Censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, apesar de possuir território de 15 mil km², São Caetano é a terceira do Brasil e a primeira do Grande ABC com mais gente morando em apartamentos (52%) do que em casas térreas. 

Ainda segundo o IBGE, pela cidade transita uma frota de 145.686 veículos, sendo 68% carros. “Geologicamente falando, São Caetano é um relevo, entre duas espécies de morros. Neste vale onde está a cidade, correm o Rio Tamanduateí e o Ribeirão dos Meninos. Isto naturalmente já atrai uma pluma de contaminação na atmosfera, acumulada na área pelo sopro dos ventos. Mas para piorar consideramos São Caetano um corredor na mobilidade, em que você tem de um lado a Avenida dos Estados, logo mais a Anchieta e ainda a Avenida Goiás”, explica Marta.

IMPACTO À SAÚDE

A especialista diz que a poluição atmosférica em São Caetano é silenciosa e cruel. “Vivo desde criança na cidade e não considero as crises de rinite que já tive como um ponto à parte, por exemplo. A gente até pode levar em consideração que a poluição também se some a de outros municípios, mas até a vegetação por aqui foi suprimida”, declara.

Como antídoto à poluição atmosférica, ainda de acordo com Marta Marcondes, o município poderia executar programa de plantio de árvores por todo o perímetro urbano, já que as espécies vegetais são aliadas na filtragem das impurezas do ar.

“Um bom plano de arborização é uma das únicas formas de combater os danos de tantos prédios construídos e dos gases tóxicos do trânsito”, aconselha a bióloga e coordenadora do Projeto IPH.

COM POLO PETROQUÍMICO, MAUÁ APRESENTA RESULTADO RUIM

A exemplo de São Caetano, Mauá tem um dos ares mais sujos do Brasil: possui o 11º maior nível de poluição nacional, de acordo com o levantamento da World Air Quality. Com concentração de 14,6 microgramas de partículas de sujeira de até 2,5 micrômetros por m³ (metro cúbico) de ar, a representante do Grande ABC ficou acima do índice registrado em São Paulo, uma metrópole, que atingiu 14,3. 

O proporcional excede de duas a três vezes o parâmetro da OMS (Organização Mundial da Saúde) e os danos são perceptíveis há décadas, segundo Angela Zaccarelli, médica endocrinologista que estuda os impactos do Polo Petroquímico de Capuava na região há mais de 30 anos.

“Quando comecei minha pesquisa que levaria ao doutorado, em 1989, Mauá já era uma das cidades mais poluídas”, diz Angela, que ainda assim se surpreendeu com o resultado de um estudo que iniciou em 2003 junto ao IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo).

Concluído em 2019, o levantamento aponta que a incidência de tireoidismo se eleva a 57,5% em quem mora no entorno do polo. “Praticamente todos nesta área, que mescla Mauá, Santo André e parte do Leste de São Paulo, têm doença respiratória e de pele. Não à toa, polos petroquímicos assim geralmente não ficam a menos de 50 quilômetros das cidades. Em outro estudo publicado pela IAG-USP no ano passado, chegou-se à conclusão de que os moradores dali estavam mais suscetíveis e frágeis ao coronavírus”, reflete. 

Preocupada com o episódio, Angela revela que ao longo dos anos já apresentou medidas a empresários para tentar atenuar as consequências epidemiológicas da poluição química. “Todas foram ignoradas, por economia. Uma delas custaria bem menos que o lucro deles, em torno de R$ 40 mil, para plantar árvores Tipuanas que filtrariam poluentes. Mas nem isto ou um filtro para pararem de emitir a fuligem preta que cai sobre a cidade consideram”, finaliza.

XAPURI, NO ACRE, É PIOR DO BRASIL; JÁ FORTALEZA, POSSUI MELHOR AR

Apenas Fortaleza, no Ceará, consta no World Air Quality como município brasileiro no patamar esperado de emissão de poluentes da OMS (Organização Mundial da Saúde). A Capital cearense apresenta 3,4 microgramas de partículas de sujeita de até 2,5 micrômetros em cada m³ (metro cúbico) de ar.

No outro lado do ranking brasileiro de poluição do ar, ocupando o topo, aparece o município de Xapuri, no Acre, que tem 21 microgramas por m³. O segundo posto é ocupado por Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, com 19,4.

Na sequência do ranking das cidades mais poluídas do Brasil vêm Manaus, no Amazonas (16,8); Camaçari, na Bahia (16,2); e Guarulhos, em São Paulo (16).

Entre os 134 países observados pelo mundo, somente dez se enquadraram na configuração considerada ‘saudável’ pela OMS. Bangladesh é o país mais poluído.

A baixa adesão, de apenas 9% dos países ao esperado ecologicamente, é encarada pelos realizadores do estudo como um desafio climático. Apesar do diagnóstico, o relatório aponta que “ainda é viável abordar simultaneamente a poluição do ar e os objetivos de mudança climática”.




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