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Refugiados assistem a filme no Festival de Cinema do Saara
Da AFP
14/03/2005 | 21:31
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Um telão de cinema instalado entre as dunas, que dá um ar lúdico aos campos de refugiados saharauis, perto de Tinduf, no sul da Argélia, se tornou uma arma política para este povo que se considera esquecido.

Pela primeira vez, por ocasião da segunda edição do Festival Internacional de Cinema do Saara, celebrada entre 3 e 6 de março, refugiados isolados do mundo há 30 anos assistiram a filmes em uma tela gigante.

Em dezembro de 2003, este festival itinerante já tinha visitado Smara, um dos quatro campos de refugiados, na mostra organizada por cineastas espanhóis e da Frente Polisário, que reivindica a independência do Saara Ocidental, ex-colônia anexada pelo Marrocos em 1975.

Este ano foi a vez do campo de Awserd, antes do de Dakhla e de El Ayun. Os campos têm os nomes de cidades do Saara Ocidental, uma extensa faixa semidesértica localizada entre o Marrocos ao norte, a Mauritânia ao sul, e banhada pelo oceano Atlântico a oeste.

O festival é "uma forma de levar outra realidade aos refugiados" dos campos, que têm pouca oferta de lazer", segundo o presidente da mostra, o peruano Javier Corcuera.

Apesar da forte tempestade de areia, uma multidão de saharauis, na maioria adolescentes, com a cabeça coberta por turbantes e as moças, vestidas com o tradicional "melfa", se reuniram rapidamente em frente ao telão, sob um céu estrelado, para assistir a filmes como "Mar Adentro", do espanhol Alejandro Amenábar, e documentários sobre sua sociedade, participando de uma festa social inédita.

Além da diversão, o objetivo do festival - para o qual foi convidada uma delegação de eurodeputados - é político para a Polisário, que promove este tipo de iniciativa para forçar o debate sobre os campos nos meios de comunicação, enquanto as negociações se arrastam depois do cessar-fogo assinado em 1991.

O Marrocos se opõe à realização de um referendo de autodeterminação do povo saharaui, previsto no plano de paz, enquanto o presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD), no poder desde 1976, e secretário-geral da Polisário, Mohamed Abdelaziz, não quer abrir mão de convocá-lo.

"Ninguém fala de nós nos jornais porque não fazemos terrorismo", desabafou Abidin Buchuraya, um representante da frente.

"Setores da sociedade, sobretudo os jovens, querem pegar em armas", acrescentou, mas "o uso dos meios e do cinema permite sensibilizar a sociedade; é muito mais positivo que as bombas", afirmou.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 165.000 saharauis habitam atualmente em barracas ou casas de adobe graças à ajuda internacional e à arte da sobrevivência. Não têm água corrente e vivem com pouca eletricidade, restrita à mínima produzida por pequenos geradores.

A maioria dos refugiados fugiu após a anexação do Saara pelo Marrocos. Os demais foram agrupados mais tarde neste deserto, cujas temperaturas no verão (boreal) chegam a 55 graus à sombra, atravessando o "muro" de separação erguido pelo Marrocos, que em muitos casos separou famílias inteiras.

Fiel à sua vocação, o festival instalou oficinas permanentes de montagem e cinematografia para permitir aos saharauis "contar sua própria história e enviar suas próprias mensagens", segundo Corcuera, que tem a esperança de criar em breve uma TV local.




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