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Peça 'Crepúsculo' comove ao abordar a velhice
Do Diário do Grande ABC
28/02/2000 | 15:46
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O espetáculo "Ultimas Luas", com Antônio Fagundes, nao é mais o único da temporada a comover o público, abordando o tema da velhice. Uma peça criada a partir de depoimentos recolhidos no Retiro dos Artistas, no Rio, vem igualmente tocando os espectadores, embora com uma linguagem bem diferente e, o mais surpreendente, com um elenco integrado por jovens atores.

Trata-se de "Crepúsculo", espetáculo escrito e dirigido por Maurício Marques, com 15 atores amadores - alunos do curso de teatro do Indac -, que está em cartaz somentes às terças e quartas-feiras no andar superior do Teatro de Arena, com entrada grátis. O público pode levar contribuiçoes para o Retiro.

Cibele Alvares Cardin, jovem cenógrafa do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc (CPT), dirigido por Antunes Filho, transformou a sala do Arena no que parece ser um imenso brechó. O público acomoda-se no centro da sala e, sobre cadeiras giratórias, acompanha a história contada pelos personagens - tipos mais engraçados na sua fragilidade patética do que melancólicos - que habitam o Retiro.

"É como se o espectador estivesse lá dentro, escutando os moradores, cada um falando de dentro de sua casinha", diz o diretor Marques. O cenário reproduz ainda a secretaria da instituiçao. Por incrível que possa parecer, fazer um visita ao Retiro nao é muito fácil. Nem todos conseguem permissao para conversar com os idosos.

Foi o que Marques descobriu ao realizar sua primeira visita. "É preciso passar pela triagem com uma psicóloga, porque os administradores perceberam que, na presença de estranhos, muitos reviviam apaixonadamente momentos de glória e isso por vezes os deixava perturbados". Enquanto esperava pela triagem, ele começou a conversar com uma moradora do Retiro, que tinha ido até a secretaria para fazer uma queixa.

Ele e essa senhora, ou melhor personagens inspirados nele e nessa idosa, abrem o espetáculo "Crepúsculo", que começa de forma bastante realista e vai aos poucos ganhando uma dimensao mítica, com o rompimento da fronteira entre fantasia e realidade. Afinal a fantasia é a matéria-prima do artista e atravessar essa fronteira é uma constante na vida do ator.

"Fugi de todas as formas possíveis do apelo sentimentalóide", garante Marques. "Utilizei o velho truque ensinado por artistas como Chaplin de envolver o espectador primeiro pelo riso, para depois comovê-lo", afirma. Justamente por ter fugido do tom folhetinesco, a forte emoçao dos espectadores na temporada da peça no Indac, no ano passado, surpreendeu o autor e provocou a passagem para o Teatro de Arena.

"Como diretor, nao tive medo da caricatura e os personagens têm algo de felliniano", diz Marques. Na fuga da romantizaçao do tema, reside a chave para a identificaçao com os personagens nao só dos jovens atores como do público em geral. "As pessoas vêem nessses personagens um reflexo delas mesmas; eles funcionam como um espelho, porque todo mundo tem dentro de si a capacidade de glória e destruiçao".

Esta terça e quarta-feira, "Crepúsculo" será apresentado no horário especial das 19 h. Duas horas antes, o diretor Marco Antônio Braz, do Círculo dos Comediantes, vai ler crônicas de Nélson Rodrigues e o ensaísta Francisco Solano fará uma palestra sobre o autor. Marques é também ator da companhia dirigida por Braz e integra o elenco de "Bonitinha, mas Ordinária", em temporada no Teatro de Arena, com sessoes esta terça e quarta-feira, às 21h30.




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