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‘Não tenho palavras para agradecer a ajuda das pessoas de Santo André’, diz afegão

No Dia Mundial do Refugiado, Imigrante conta sobre abrigo que recebeu no município, após ficar acampado no Aeroporto de Guarulhos; entidades da região oferecem serviços de integração social

Thainá Lana
do Diário do Grande ABC
20/06/2023 | 08:54
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Celso Luiz/DGABC


Imagine precisar abandonar sua casa e o seu país de origem por conta de qualquer motivo que coloque em risco a sua segurança ou da sua família? Foi nessas condições que Safi (que por questão de segurança só divulga o seu primeiro nome), 31 anos, deixou o Afeganistão e buscou refúgio no Brasil, no ano passado. Ao lado de outros afegãos, ele ficou acampado no Aeroporto de Guarulhos em busca de uma oportunidade para mudar de vida.

Após 20 dias vivendo com a mulher grávida e o filho de um ano no aeroporto, Safi e a família chegaram a Santo André. Em ação realizada pela Diocese e voluntários do município, 17 afegãos foram acolhidos em uma casa temporária – hoje todas as famílias que foram abrigadas na época já conseguiram se restabelecer e vivem em casas alugadas.

“Minha experiência em Santo André tem sido fantástica. Não tenho palavras para agradecer a ajuda das pessoas”, diz Safi, que assim como os demais imigrantes, deixou o seu país por conta dos conflitos e perseguições promovidos pelo Talibã (movimento político militar extremista islâmico que ganhou força em 2021, após a saída das tropas norte-americanas do Afeganistão).

Em apenas sete meses morando na região, Safi conseguiu um emprego de analista administrativo e foi pai pela segunda vez – o bebê Hamza, de 27 dias, que nasceu no Hospital Brasil, localizado na cidade.

“Eu gosto do povo do Brasil, é o mais caloroso e acolhedor”, diz o afegão, que sonha em ser político para poder “lutar pelo meu país”, finaliza.

Assim como Safi, outras milhões de pessoas aguardam por uma chance para poder recomeçar. Celebrado hoje, o Dia Mundial do Refugiado é dedicado à conscientização sobre a situação dos refugiados em todo o mundo.

Somente no ano passado, 1.047 imigrantes buscaram abrigo nos municípios da região, segundo dados da PF (Polícia Federal).

Para dar suporte a essa demanda, além dos serviços públicos, ONGs (Organizações Não Governamentais) e instituições religiosas também oferecem assistência aos imigrantes que chegam à região.

Localizada em Utinga, Santo André, a Instituição Refazer atua como centro de apoio humanitário para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ao todo, 250 famílias são assistidas, sendo 130 de imigrantes, com atendimento psicológico, doação de alimentos, aulas de português e culinária, integração local, inserção no mercado de trabalho, entre outros.

A coordenadora administrativa, Maria Salvany de Sousa, 47, não esconde o orgulho do trabalho realizado na ONG. “As pessoas em vulnerabilidade social, sejam crianças, mulheres, refugiados e imigrantes, LGBT e outros, encontram não somente assistência social, mas também resgatam a dignidade e a esperança de um futuro melhor”, cita Maria.

O suporte a esses refugiados que residem no Grande ABC também ocorre no Centro de Apoio ao Migrante da Diocese de Santo André. Assessor do centro, o padre Pierre Dieucel, explica que desde 2016 o local já atendeu entre 5.000 e 7.000 imigrantes de diversas nacionalidades, sobretudo de Cuba, Venezuela, Haiti, Afeganistão, Peru, Bolívia, Colômbia, entre outros.

“Acolher o outro é um ato de bondade, de misericórdia. O que estamos fazendo é evangelho, Jesus fazia esse trabalho, dava o que comer a quem não tinha. Não é apenas atenção espiritual, é também social. O Bispo sempre nos incentiva a continuar com esse trabalho, ele é um grande motivador”, pontua o padre, que nasceu no Haiti e mora há 16 anos no Brasil.

Na região, a UFABC (Universida de Federal do ABC) promove desde 2018 o curso de português para refugiados ‘Nossa Casa’. Esse programa recebeu diretamente mais de 500 pessoas e originou outro projeto (Nossa Casinha) para recepção de crianças que acompanham os pais durante as aulas. 

DIFERENÇAS

Marcelo Haydu, diretor-presidente do Instituto Adus, organização que apoia refugiados na Capital, e que também atende imigrantes que residem no Grande ABC, critica a imagem ‘acolhedora’ do Brasil.

“Fala-se muito que o País é acolhedor, que recebe e abraça pessoas de qualquer nacionalidade. Porém, não enxergo dessa maneira. O Brasil é um País, de certo modo, hostil para alguns imigrantes. Não para um europeu, americano ou japonês, Agora, para africanos, imigrantes da América Latina ou do Haiti, é um local bem hostil. O Brasil recebe imigrantes, mas não os acolhe”, ressalta Haydu. 

Nos últimos 12 anos, o instituto já atendeu cerca de 15.500 imigrantes. 




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