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"Os tipos que interpreto nunca sao seres humanos agradáveis, mas isso nao foi planejado. Simplesmente exerço uma habilidade que desenvolvi com os anos e parece convencer as pessoas', contou o ator, que escapou do corre-corre nas escadarias do Palácio dos Festivais depois que o alarme de incêndio foi acionado por engano, atraindo policiais e provocando histeria entre alguns convidados para a prestigiada sessao de gala.
Quando Hackman chegou ao Théâtre Grand Lumi re, para a sessao especial (sem caráter competitivo) de "Under Suspicion", a situaçao havia sido contornada. Os principais trechos da entrevista exclusiva que o ator concedeu, em uma cabana do Hotel Du Cup, em Antibes, um bairro afastado da badalaçao de Cannes. "Nao é à toa que vivo em New Mexico (EUA), onde me distraio pintando meus quadros abstratos. Sou um pouco anti-social e nao gosto de viver rodeado de atores. Eles sao mais palatáveis quando você os toma em doses homeopáticas."
Pergunta - De onde vem essa imagem que você passa de homem durao? Os anos que você passou na Marinha têm algo a ver com isso?
Gene Hackman - Nao sei. Talvez isso venha da rejeiçao acumulada ao longo dos anos, principalmente quando eu era jovem e tentava a carreira de ator em Nova York. Quanto mais você ouve 'nao', mais forte fica. Mas eu nao reclamo. Por ter sido difícil, eu valorizo muito mais o que tenho hoje.
P - Há em sua filmografia algumas comédias, como "Em Nome do Jogo' e "A Gaiola das Loucas'. Seria para quebrar um pouco esta imagem autoritária?
Hackman - Pontuo minha carreira com algumas comédias para treinar a minha habilidade de fazer rir. Mas faço isso com mais freqüência no teatro. As peças em que atuo na Broadway sao geralmente comédias. Mas tanto no palco quanto no set de filmagem, o que importa realmente é fazer papéis interessantes do ponto de vista do ator. Faço qualquer papel, mas admito que prefiro os filmes dramáticos, carregados de tensao e conflito.
P - No ano passado, Sean Connery esteve em Cannes divulgando o seu filme com Catherine Zeta-Jones. Este ano, seu personagem também faz par romântico com uma mulher bem mais jovem (a bela Monica Belluci)...
Hackman - Acho que os roteiros de Hollywood simplesmente representam a natureza humana. Os homens gostam mesmo de mulheres jovens e atraentes. Se é certo ou errado, eu nao sei. Eu sou suspeito para falar. Minha mulher atual também é mais jovem que eu. É uma pianista clássica japonesa que cuida muito bem de mim.
P - Com a sua experiência em cinema, nunca considerou dirigir um filme?
Hackman - Já tive alguns projetos. Eu comprei os direitos de "O Silêncio dos Inocentes", por exemplo. Seria o produtor e provavelmente o diretor. Mas mostrei aos meus filhos e eles nao gostaram. Acharam o filme muito violento. Entao desisti.
P - Em funçao da credibilidade que você invariavelmente traz aos filmes, já se sentiu carregando uma produçao nas costas?
Hackman - Nao. No início de um trabalho, às vezes, você percebe que o projeto nao era bem aquilo que você tinha imaginado. Muitos atores se protegem. Apenas cuidam de si mesmos, sem se importar se o filme vai funcionar no conjunto. Eu nao sou assim.
P - Com o acúmulo de experiência, nao sente por vezes que sabe mais de cinema que o diretor?
Hackman - Nao. Porque nao tenho conhecimento da parte técnica. Mas muitas vezes sinto que sou capaz de dar muito mais do que a cena pode agüentar. Dependendo do projeto, dou sugestoes ao diretor. No set, tento ser amigável com todo mundo, sem abrir mao da minha privacidade. Mas sou contra uma atmosfera muito familiar no local de trabalho. Assim você perde um pouco daquela tensao necessária. Quando as pessoas nao têm muita intimidade, a cena funciona melhor.
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