Cultura & Lazer Titulo Propaganda anticomunista
Livro sugere que Didi e Dedé iniciaram carreira financiados pelos EUA

Primeiro filme da dupla que brilharia com ‘Os Trapalhões’, de 1965, seria propaganda anticomunista patrocinada pelo presidente John F. Kennedy

Evaldo Novellini
11/12/2022 | 11:07
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Reprodução/Instagram


Nove anos antes de se unirem a outros dois componentes para formar a trupe Os Trapalhões, que fez sucesso na TV e no cinema a partir de 1974, os atores Renato Aragão e Manfried Sant’Anna, que se tornariam famosos nas peles dos personagens Didi e Dedé, respectivamente, estrelaram seu primeiro filme. A Pedra do Tesouro, curta-metragem ficcional de nove minutos, foi patrocinado pela Aliança para o Progresso – programa do governo norte-americano destinado a conter o avanço do comunismo nos países da América do Sul. 

A sugestão consta no livro A Noite Americana dos Trapalhões: Por Trás das Câmeras (Editora Madrepérola, 330 páginas, R$ 86,90), escrito pelo jornalista Rafael Spaca e que será lançado em 12 de janeiro, mas já em pré-venda. A obra traz as memórias do piauiense Vítor Lustosa, roteirista, assistente de diretor, produtor e diretor que trabalhou em 16 filmes do quarteto formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Produzido pela Rêfêfê, dirigido por Roberto Farias e lançado em 1965, A Pedra do Tesouro não passava, segundo Lustosa, de propaganda imperialista do governo de John F. Kennedy interessado a, no auge da Guerra Fria, disseminar os perigos do comunismo soviético. Selo da Aliança para o Progresso pode ser visto em um trator na cena final do filme – ambientado, veja só, no velho oeste!

“Objetivo era disseminar o socorro institucional do Tio Sam à América Latina (...) e incutindo no povo os valores do desenvolvimento social e filantrópico através de propaganda capitalista estadunidense contra o diabo vermelho, que ameaçava o continente com os rumos indesejados e perigosos da revolução cubana, apoiada pelo sistema comunista da União Socialista Soviética”, revela Lustosa. Como prova da relação do curta com a política de boa vizinhança implementada pelos Estados Unidos, ele lembra que o filme foi exibido solenemente no cinema privativo do Consulado Norte-Americano, no Rio de Janeiro.

Rafael Spaca (foto abaixo) – radialista, escritor, documentarista que se notabilizou por estudar o grupo Os Trapalhões e que por cinco anos trabalhou com cultura em Santo André – cita que a publicação de A Noite Americana antecede o lançamento do polêmico documentário Trapalhadas Sem Fim, que está sendo produzido desde 2018 e que o próprio Renato Aragão estaria tentando boicotar. Renato Aragão, diz Spaca ao Diário, pressiona fontes a não concederem entrevista para o documentário. “Inclusive, as únicas imagens de acervo que a Globo não vende são as dos Trapalhões”, revela o jornalista, citando a emissora de TV onde o quarteto consolidou seu sucesso. Apesar dos percalços, Trapalhadas Sem Fim deve estrear no streaming no primeiro semestre de 2023.

Sobre A Noite Americana..., Spaca afirma se tratar de uma homenagem – ele é fã confesso dos comediantes. “Num bate-papo leve, investigativo e profundo Vitor revela toda a mecânica fílmica do grupo, explicando a respeito do financiamento, bastidores de produção e muitas histórias que os fãs irão se deleitar”. Lustosa, hoje com 73 anos, filmou com os trapalhões de 1975, quando roteirizou O Trapalhão na Ilha do Tesouro, a 1986, ano do lançamento de Os Trapalhões e o Rei do Futebol – também como roteirista.

Spaca trabalha em outro livro, sem data prevista para lançamento. Os Trapalhões: modo de ser, de pensar e se expressar é fruto de quatro anos de pesquisa que resgata mais de 3.000 documentos, entre jornais, revistas, sites, programas de rádio e podcasts, com entrevistas de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. “É basicamente uma biografia narrada sem intermediários”, resume. A obra trará entrevista com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-todo poderoso da Globo falando sobre o quarteto.

Rafael Spaca afirma que é boicotado por Renato Aragão (Foto: Arquivo DGABC)




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