Setecidades Titulo Botão do pânico
Ribeirão Pires lança aplicativo para combater violência contra mulher

Dispositivo da GCM utiliza ‘botão do pânico’ para aumentar agilidade no socorro às vítimas; sistema foi implantado em 2021 em Santo André

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
29/10/2022 | 09:41
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André Henriques/DGABC


Medo, insegurança e falta de liberdade. É assim que mulheres com medidas protetivas vítimas de violência doméstica se sentem após denunciarem seus agressores à Justiça. “O medo de morrer e viver uma vida infeliz é maior que a privação social. Mas é injusto, enquanto tenho que ficar presa em casa ou escondida, ele está solto e vivendo tranquilamente. Me sinto uma caça”, o desabafo é da Vivian (nome fictício), 53 anos, moradora de Ribeirão Pires – os nomes das vítimas serão preservados nesta reportagem por questão de segurança. 

Para tentar combater a violência contra mulher e aumentar a agilidade no socorro às vítimas, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) de Ribeirão lançou nesta semana o aplicativo “Ana”. O sistema conta uma espécie de “botão do pânico” que pode ser acionado em apenas dois cliques por mulheres que possuem medidas protetivas. 

O aplicativo, que foi implantado em 2021 pela guarda de Santo André, foi desenvolvido e disponibilizado gratuitamente pelo chefe de departamento da GCM da cidade de Paulínia, no interior do Estado, Diogo Antônio Ferreira.

Após acionar o botão, um alerta é emitido para sede da GCM e a equipe mais próxima será direcionada para o endereço que a vítima está (caso o localizador do celular esteja ligado) ou para o endereço residencial da denunciante. 

A iniciativa poderá beneficiar pelo menos 40 moradoras da Estância Turística que possuem medida protetiva e são acompanhadas pela Patrulha Maria da Penha, segundo estimativa do secretário municipal de Segurança Urbana, Mobilidade e Defesa Civil, Daniel Gonçalves do Carmo Júnior.

"A partir do momento que o agressor sabe que existe um sistema de proteção que funciona de forma rápida, ele pensará duas vezes antes de descumprir a ordem judicial. Ao lado da patrulha, a medida fecha o círculo de proteção à vítima. Esperamos evitar que o pior aconteça em cada caso”, destacou o gestor. 

Para aumentar o alcance do aplicativo, o secretário enviou um ofício ao MP (Ministério Público) para que toda vez que uma medida protetiva for concedida a uma moradora de Ribeirão o órgão informe sobre o sistema e direcione a mulher para fazer o cadastro na sede da GCM, localizada no centro da cidade.

USUÁRIAS

Carolina (nome fictício), 34, foi a primeira munícipe a baixar o aplicativo. Funcionárias do Projeto Girassol, iniciativa que acolhe e orienta mulheres em situação de violência doméstica e familiar, orientaram ela a fazer o cadastro para tentar viver com mais tranquilidade.

O agressor de Carolina mora na mesma rua e já descumpriu diversas vezes a medida protetiva. Viciado em drogas, o jovem de 23 anos começou aos poucos a demonstrar o comportamento violento. “Antes de me bater, ele quebrou celulares, deu murros em mesas e paredes, até o dia em que desmaiei de tanto apanhar. Na primeira agressão fiz a denúncia e ele foi preso em flagrante, porém, no dia seguinte já estava solto. Vivo com medo dele invadir minha casa, não consigo dormir e nem ter uma vida normal. Acredito que o aplicativo irá facilitar a busca por ajuda, porque às vezes não dá tempo nem de fazer uma simples ligação. Cada minuto pode ajudar a salvar uma vida”, contou Carolina, que ainda continua. “Não quero virar estática de feminicídio.”

Tímida e desconfiada, Cleide observava por debaixo da máscara cada palavra que a guarda da GCM falava enquanto fazia o cadastro e instalava o aplicativo em seu celular. Com ela, até a última quinta-feira (27), cinco mulheres já haviam baixado o sistema de proteção.

A violência física e psicológica sofrida por Cleide deixou profundas marcas em sua vida. “Não é fácil pedir ajudar, sinto que sou um peso na vida das pessoas. Não sei mais o que fazer, só queria poder seguir em frente e viver em paz. Sou ameaçada e coagida o tempo inteiro pelo meu ex-marido. De verdade, espero nunca apertar este botão, mas se precisar ele já está aqui na primeira tela”, finalizou a vítima. 




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